Women in management of information technology: an analysis of expressions of empowerment/Mulheres na gerencia em tecnologia da informacao: analise de/Mujeres en la gerencia en tecnologia de la informacion: analisis de expresiones de empoderamiento expressoes de empoderamento.

Autorde Sousa, Rosa Maria Borges Cardoso
CargoArtigo--Administracao Geral
  1. INTRODUCAO

    Sao inegaveis o ritmo e a forca com os quais a globalizacao engendra mudancas no mundo das organizacoes. Entre essas mudancas, destaca-se o fato de a diversidade de genero passar a ser a tonica na constituicao da forca de trabalho, antes caracterizada por grande homogeneidade masculina. Tal fato, no entanto, nao reduziu a agudeza com que a desigualdade de genero se apresenta na cultura e na sociedade brasileira.

    As consideracoes de Melo, Mageste e Mendes (2006) remetem a compreensao de que as bases da desigualdade de genero estao nas construcoes sociais, descartando razoes ou fontes puramente biologicas para as diferencas entre o masculino e o feminino. A perspectiva de que a diferenca entre os generos e construcao sociocultural abre possibilidades para que se vislumbre como potencial viavel a transformacao das estruturas sociais. Tal possibilidade acena, tambem, com a esperanca de que se possam reverter os processos geradores de desigualdade e criar outros capazes de produzir igualdade, inclusao e abertura para a diversidade.

    As relacoes de genero sao vistas tambem como uma agenda de trabalho com premissa inequivocadamente etica. Tal concepcao implica a construcao de estruturas participativas e igualitarias, nas quais as mulheres nao sejam vistas como pessoas vulneraveis e passivas ou, simplesmente, como recurso util ou massa de manobra, mas sim como agentes ativas das suas proprias historias. Ou seja, sujeitos, de direito e de fato. Essa premissa precisa ser internalizada na concepcao das varias estruturas organizacionais e nas diferentes areas e dimensoes do mercado e das relacoes de trabalho, assim como na definicao das acoes, das politicas e das estrategias das empresas, no planejamento, gestao e avaliacao dos processos, e na participacao nos espacos em que as decisoes sao tomadas (OLIVEIRA, 2005).

    As estatisticas sobre a insercao da mulher nas esferas organizacionais refletem, como um fato ja consolidado, o aumento da participacao feminina no mercado de trabalho brasileiro. O IBGE (2008) aponta dois fatores que explicam esse crescimento: a melhor escolaridade da mulher em comparacao aos homens e a queda da fecundidade. O acesso mais amplo e mais frequente a cargos de lideranca e comando tambem e sinal da efetividade dessa mudanca social.

    No que se refere a ocupacao das mulheres na area de informatica, constata-se que a TI demonstra ser setor de atividade em que a participacao feminina avanca com um pouco mais de liberdade. Rapkiewicz (1998) mostra que o setor de informatica no Brasil e o que tem contado com maior participacao feminina, considerando-se os setores tecnologicos. Em suas palavras "a capilaridade da microinformatica, presente em todos os setores da sociedade, permitiu a desmistificacao da tecnologia da informacao, abrindo diversas possibilidades e oportunidades de crescimento e ascensao para as mulheres neste segmento" (RAPKIEWICZ, 1998:197).

    Entre 2000 e 2002, o setor de TI registrou crescimento medio anual do numero de empregos formais em Belo Horizonte, passando do total absoluto de 14.678 para 16.698. As atividades de processamento e de banco de dados foram as que mais cresceram nesse periodo, apresentando elevacao no numero de empregos de 53% e 155% respectivamente (VIEIRA; SANTOS; PEREIRA, 2007). Em 2005, o numero de postos de trabalho foi de 12.653, 7.227 dos quais foram ocupados por homens e 5.426 por mulheres (42,88%) (MTE, 2007a, 2007b).

    Ao se analisar a participacao das mulheres gerentes no setor de informatica em Belo Horizonte no periodo de 2004 a 2006, verificou-se crescimento bastante expressivo do numero de cargos ocupados por mulheres na atividade gerencial. A quantidade de cargos por elas ocupados cresceu, em media, 44,35%. Em numeros absolutos, do total de 753 cargos ocupados no periodo, 335 foram ocupados por mulheres, representando 44,49%, enquanto 55,51% foram ocupados por homens. No mesmo periodo, os cargos ocupados por mulheres tiveram crescimento de 90,9%, superando os cargos ocupados por homens, que cresceram 75%. No ano de 2007, de janeiro a agosto, a media de ocupacao de cargos gerenciais por mulheres foi de 35,65%. Os segmentos que tiveram maior representacao feminina em relacao aos homens nos cargos de gerencia foram consultoria em hardware (7%) e processamento de dados (6%) (MTE, 2005, 2006, 2007b, 2007c).

    Diante desse cenario, parece instigante a analise da trajetoria das mulheres gerentes na area de tecnologia, verificando-se as particularidades e adentrando nos conceitos de empoderamento. O empoderamento associa-se ao reconhecimento das relacoes sociais e ao processo de alcance de bemestar. Nesse processo, entender questoes relativas as relacoes de poder, especialmente nas relacoes de genero, e de fundamental importancia para a compreensao das praticas sociais, pessoais e economicas (COSTA, 2004).

    Em funcao dessa premissa, este artigo apresenta e analisa expressoes que evidenciam ou nao o empoderamento de mulheres gerentes na area de tecnologia da informacao. Para tanto, procedeu-se a uma pesquisa de campo, de carater exploratorio-descritivo, por meio de entrevistas semiestruturadas com 12 mulheres gerentes da area de TI em empresas situadas na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais. Os dados foram submetidos as tecnicas de analise de conteudo comumente usadas em pesquisas de natureza qualitativa, e sao apresentados a frente. Antes, porem, e apresentada uma analise teorica para a construcao e o entendimento do conceito de empoderamento.

  2. EMPODERAMENTO

    O conceito de empoderamento foi elaborado na decada de 1970, relacionado estreitamente aos movimentos de direitos civis nos Estados Unidos, como expressao de autovaloracao da raca negra e conquista de cidadania plena (COSTA, 2004).

    O termo empoderamento foi e e utilizado com multiplos significados, nem sempre com o sentido de emancipacao, controle e busca de poder social ou politico. Ainda assim, percebe-se nos muitos usos a nocao de pessoas obtendo controle sobre suas proprias vidas e planejando seu futuro, como expressao de mudanca desejada e planejada (LEON, 2000; DEERE; LEON, 2002; OAKLEY; CLAYTON, 2003).

    Na Terceira Conferencia da ONU sobre a Mulher, em Nairobe, no ano de 1985, o conceito de empoderamento foi empregado como "estrategia conquistada por mulheres do Terceiro Mundo para mudar as proprias vidas, ao mesmo tempo em que isto gera um processo de transformacao social" (DEERE; LEON, 2002:53). Naturalmente, a questao do empoderamento nao diz respeito unicamente as mulheres do Terceiro Mundo, mas, de maneira geral, tambem as formas pelas quais as mulheres promovem visoes alternativas para a transformacao das relacoes existentes em uma determinada sociedade.

    Na decada de 1990, nos estudos sobre desenvolvimento, o conceito de empoderamento tornou-se central nos discursos como sinonimo da participacao e integracao das pessoas, homens e mulheres, no planejamento e desenvolvimento interativo e compartilhado, pelas quais poderiam ser reconhecidas as habilidades e conhecimentos pessoais (LISBOA, 2007).

    Realizada em Beijing, em 1995, a IV Conferencia Mundial das Mulheres foi considerada marco historico para o movimento feminista, uma vez que passou a atribuir aos governantes a responsabilidade pela desigualdade de genero. Nessa conferencia, apontaram-se duas estrategias para o empoderamento da mulher e o alcance da democracia de genero: a equidade de genero em todas as areas de politicas publicas e a inclusao das mulheres como protagonistas conscientes na transformacao das desigualdades existentes no acesso aos recursos, a tomada de decisao e ao controle sobre os resultados (LISBOA, 2007).

    No Brasil, em 2003, foi criada a Secretaria de Politicas Publicas para Mulheres, cujo objetivo era propor, coordenar e executar politicas publicas para mulheres que contemplassem a equidade de genero e o empoderamento. Foram criados os Conselhos dos Direitos da Mulher, nos niveis nacional, estadual e municipal, uma das conquistas do movimento de mulheres que colocou em debate nacional demandas no campo do empoderamento da mulher e das relacoes de genero (LISBOA, 2007).

    2.1. Em busca de uma concepcao de empoderamento

    O empoderamento pode ser definido como estrategia ou dispositivo por meio do qual os varios sujeitos e atores sociais, individuais e coletivos tomam consciencia de que possuem habilidade e competencia para produzir, criar, gerir e transformar suas proprias vidas, seus entornos, tornando-se protagonistas de suas historias (COSTA, 2004).

    Segundo Martins (2003), a palavra empoderamento tem origem no termo da lingua inglesa empowerment e seu uso tem sido ampliado para o espanhol empoderamiento e para o portugues autonomizacao ou empoderamento, um neologismo.

    Empoderar e um verbo que conota acao e poder. O individuo associado a essa acao torna-se agente ativo nos processos que envolvem o estabelecimento de vinculos com outros individuos.

    A definicao de empoderamento se entrecruza com a nocao de autonomia, pois refere-se a capacidade dos individuos e grupos de decidir sobre as questoes que lhes dizem respeito. Trata-se de "um atributo, mas tambem de um processo pelo qual se aufere poder e liberdades negativas e positivas" (HOROCHOVSKI; MEIRELLES, 2007:2). Em perspectiva emancipatoria, empoderar e o processo pelo qual os individuos, organizacoes e comunidades angariam recursos que lhes permitam ter voz, visibilidade, influencia e capacidade de acao e decisao.

    O termo empoderamento chama a atencao para a palavra poder. Para Lisboa (2007), o conceito de poder, enquanto relacao social, tanto pode envolver opressao, autoritarismo, abuso e dominacao, como emancipacao e forma de resistencia, permitindo um novo olhar as relacoes de poder no campo dos estudos sobre relacoes de genero. Mesmo que esse conceito de poder nao possa ser descartado na analise do empoderamento feminino, nesta perspectiva o poder ganha contornos de reconhecimento e valorizacao da mulher.

    Para Oakley e Clayton (2003), o...

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