Trilhando um novo caminho: a gestão esportiva

AutorGabriela Aragão Souza de Oliveira, Ana Paula de Oliveira Teixeira
Páginas101-119
Niterói, v. 10, n. 1, p. 101-118, 2. sem. 2009 101
TRILHANDO UM NOVO CAMINHO:
A GESTÃO ESPORTIVA
Gabriela Aragão Souza de Oliveira
Universidade Gama Filho
E-mail: gabrielaragao@yahoo.com.br
Ana Paula de Oliveira Teixeira
Universidade Gama Filho
E-mail: alvespnana@hotmail.com
Resumo: O objetivo desse artigo é apre-
sentar algumas das diferentes razões para
assimetria de gênero na distribuição das
mulheres como gestoras esportivas. Nossa
análise se dá a partir da liderança de seis
atletas ícones do esporte nacional em seus
projetos sociais esportivos e também na
organização governamental do es porte
nacional. A par tir das falas das informan-
tes apresentamos os caminhos que essas
mulheres percorrem na gestão esportiva.
Tomamos como base: a) a inserção das
atletas na gestão como forma d e per-
manência no esporte; b) a contribuição
das info rmant es n a or ganizaçã o e na
gerência dos s eus projetos esportivos; e
c) a avaliação das informantes sobre as
políticas de desenvolvimento do espor te
nacional. Inferimos preliminarmente que o
efeito da assimetria de gênero no esporte
não é d eterminante na ocupação nos
cargos de gestão, no sentido de que várias
atletas estão fazendo o caminho da lide-
rança com os próprios pés, criando seus
próprios Institutos para administrar, fazendo
alianças, angariando votos de confiança,
opinando sobre mudanças na política de
desenvolvimento do esporte e novamente
tornando-se referência para a inserção de
outras mulheres em cargos de liderança no
esporte nacional.
Palavras-chave: gênero; gestão esportiva;
projetos esportivos; mulheres.
Rev Genero v 10 n 1.indb 101 8/6/2011 18:32:01
102 Niterói, v. 10, n. 1, p. 101-119, 2. sem. 2009
Introdução
As diferenças entre homens e mulheres na participação esportiva no Brasil
vêm diminuindo, um exemplo disso foi a nossa delegação nos Jogos de Atenas
2004, do total de 246 atletas brasileiros, 124 eram homens e 122 eram mulheres.
Entretanto, isso não corresponde à participação no poder exercido nos esportes,
as mulheres tendem a ficarem mais restritas às áreas de formação dos esportes
competitivos. Essa tendência é apontada por Souza de Oliveira (2002), ao retratar
o conjunto de mulheres que ocupam o cargo de técnica de equipe esportiva
de alto nível, nos dez grandes clubes do Rio de Janeiro que contavam com
centenas de técnicos do sexo masculino e apenas 34 técnicas atuando sendo
que a maioria delas nas categorias de base, apenas 12 técnicas comandavam
equipes esportivas de alto rendimento.
No ambiente esportivo, de maneira geral, há mais postos de trabalho
para homens do que para mulheres em cargos de gestão, mais equipes mas-
culinas inscritas nas competições, mais técnicos, mais árbitros, mais dirigentes,
mais repórteres esportivos, mesmo em modalidades cujas equipes femininas
são mais representativas internacionalmente como é o caso do vôlei e do
basquete; tais equipes são menos “valorizadas” no mercado esportivo do que
as equipes masculinas.
Esta situação parece ser comum no Brasil; podemos inferir que existe uma
situação de exclusão da mulher em cargos de poder no esporte brasileiro. Para
tanto, apresentaremos dados sobre a liderança feminina nos principais órgãos
de administração esportiva do Brasil, a fim de discutir a configuração da política
oficial do Comitê Olímpico Internacional de promoção das mulheres a cargos
de gestão do esporte. A meta era chegar a contar com pelo menos 20% de
mulheres em cargos de gestão do esporte até o ano de 2005 (IOC, 2004).
No Ministério dos esportes temos 88 cargos, 70 deles ocupados por homens
e 18 por mulheres, numa porcentagem de ocupação feminina de 20,45%.
No Comitê Olímpico Brasileiro temos 50 cargos, 48 ocupados por homens e 2
ocupados por mulheres, numa porcentagem de ocupação feminina de 4%.
No Comitê Paraolímpico Brasileiro temos 10 cargos, 7 ocupados por homens
e 3 por mulheres, num total de 30% de ocupação feminina (COB, 2007). Nas
Confederações Esportivas Filiadas temos 29 cargos, sendo 28 ocupados por
homens e 1 ocupado por mulher, num total de 3,7% de efetivo feminino. Nas
Confederações Esportivas Vinculadas temos 24 cargos, sendo que 24 são ocu-
pados por homens. Na Comissão Nacional de Atletas temos 35 cargos, sendo
28 ocupados por homens e 7 por mulheres, num total de 20% de ocupação
feminina. Nas Federações Esportivas registradas no Brasil 93% são presididas
Rev Genero v 10 n 1.indb 102 8/6/2011 18:32:01

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT