TRABALHO, QUESTÃO SOCIAL E OPRESSÕES: CONTRIBUIÇÕES AO DEBATE SOBRE VIOLÊNCIA DE CLASSE, RAÇA E GÊNERO NO BRASIL

AutorJosiley Carrijo Rafael
Páginas110-131
110 GÊNERO | Niterói | v. 20 | n. 2 | p. 110-131 | 1. sem 2020
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TRABALHO, QUESTÃO SOCIAL E OPRESSÕES:
CONTRIBUIÇÕES AO DEBATE SOBRE VIOLÊNCIA DE CLASSE,
RAÇA E GÊNERO NO BRASIL
Josiley Carrijo Rafael1
Resumo: Este artigo busca tratar sobre o conceito de questão social e suas
refrações na forma de opressões, com ênfase na violência de classe, raça e
gênero na particularidade brasileira. Para tanto, nos embasamos na depuração
da categoria trabalho e no acúmulo teórico da ontologia do ser social,
ou seja, apoiados na tradição marxiana, para analisarmos o funcionamento da
sociabilidade burguesa, para, assim, apontarmos algumas chaves de análise
que possam contribuir com o acúmulo teórico e político sobre a relação entre
classe, racismo e heteropatriarcado, elementos funcionais e estruturantes
do capitalismo.
Palavras-chave: Trabalho; questão social; opressões.
Abstract: This article addresses the concept of social issues and their expression
in the form of oppression, focusing on class, race and gender violence in the
Brazilian context. For this, we use the work category and the theoretical
accumulation of the ontology of social beings of Marxian philosophy to analyze
how bourgeois sociability works and verify critical points that may contribute
to the theoretical and political accumulation about the relation between class,
racism and heteropatriarchy, which are functional and structuring elements
of capitalism.
Keywords: Work; social issues; oppression.
Notas introdutórias
A proposta de incursão na obra de Marx está atrelada ao significado
da questão social e à sua conceituação hegemônica na tradição marxista
brasileira, que a define como o conjunto de contradições decorrentes
das relações e dos interesses das classes sociais, ou seja, da subordinação
do trabalho ao capital, que produz múltiplas desigualdades, mas produz
1 Doutor em Serviço Social, Universidade Federal do Rio de Janeiro; docente na graduação em Serviço Social e
no mestrado em Política Social, Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil. E-mail: josileyrafael@yahoo.com.br.
Orcid: 0000-0002-8639-8114
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também resistência e luta, entendendo que a demarcação da questão
social, no plano teórico hegemônico da tradição aqui tratada, se opera no
estágio monopolista do capitalismo e sob a intervenção do Estado nas suas
refrações, seja pela coerção ou pela via das políticas sociais do Estado bur-
guês. Dessa forma, o estudo sobre a questão social abarca e exige o estudo
sobre o funcionamento do capitalismo e da sociabilidade burguesa, para
então, dialeticamente, compreendermos seu rebatimento na composição
das classes sociais, assim como nas opressões de raça e gênero.
Sabemos que a miséria e o conjunto das desigualdades crescem na
mesma medida que a acumulação do capital, que tem na liberdade e na
igualdade as bases de fundamento das relações de produção da forma capi-
talista. Afinal, é a liberdade de se vender que garante também a liberdade
de comprar, e o advento da modernidade traz o debate sobre a liberdade
para o centro dessa discussão. São os homens livres, ou melhor, é o tra-
balho livre que garante a possibilidade de os indivíduos se colocarem nas
relações de troca de forma igual, passando a ofertar o que possuem – no
caso, sua mão de obra. É nessa relação que Marx (2010, p.23) aponta o
salário como meio de troca desse “confronto hostil entre capitalista e tra-
balhador. A necessidade da vitória do capitalista. O capitalista pode viver
mais tempo sem o trabalhador do que este sem aquele”. Ao apresentar
essa interpretação das relações econômicas travadas no modo de produção
capitalista, Marx fortalece sua base de sustentação para comprovar como
os trabalhadores se inserem nessas relações de forma desigual e permeada
pela exploração, à qual estão submetidos por possuírem tão somente sua
respectiva força de trabalho, cujos preços, ou seja, os salários, “são muito
mais constantes do que os preços dos meios de vida. Frequentemente, eles
estão na relação inversa” (MARX, 2010, p.25).
Essa variação entre o preço do trabalho e os custos/preços dos meios
de vida acaba colocando os trabalhadores numa condição incerta de sobre-
vivência pela própria instabilidade do mercado. Assim, “o trabalhador não
tem apenas de lutar pelos seus meios de vida físicos, ele tem de lutar pela
aquisição de trabalho, isto é, pela possibilidade, pelos meios de poder efe-
tivar sua atividade” (MARX, 2010, p.25). Porém, essa luta é atravessada
pela lei geral de acumulação, que faz com que Marx (2013, p.690) revele
que “a acumulação do capital é, portanto, multiplicação do proletariado”.
A massa crescente de trabalhadores e trabalhadoras é elemento e fenô-
meno que alimenta o próprio mecanismo do processo de acumulação, que
por um lado amplia o capital, mas, por outro, faz com que os assalariados

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