The role of filmic language in the establishment and strengthening of workgroups: applications of observational study/A linguagem filmica na formacao e no fortalecimento de grupos, equipes e times de trabalho: aplicacoes do estudo observacional/Lenguaje filmico en la formacion y en el fortalecimiento de grupos y Equipos de trabajo: aplicaciones del estudio observacional.

AutorLeite, Nildes R. Pitombo
CargoArtigo--Gestao de Pessoas em Organizacoes
  1. Introducao

    Por linguagem entende-se o uso de signos intersubjetivos que possibilitam a comunicacao. Por uso, ou a possibilidade de escolha dos signos, que se refere ao dicionario da linguagem, ou a possibilidade de combinacao de tais signos, de maneiras limitadas e repetiveis, que diz respeito as estruturas sintaticas da linguagem. Do ponto de vista geral ou filosofico, o problema da linguagem e o problema da intersubjetividade dos signos, do fundamento dessa intersubjetividade. A moderna ciencia da linguagem tem cada vez mais insistido na importancia das estruturas linguisticas, ou seja, das possibilidades de combinacoes delimitadas pela linguagem (ABBAGNANO, 2003).

    Teoricamente, a literatura contemporanea (VALENCA, 1997; 1999; ALMEIDA, 2004; BRANDAO, 2004; DAVEL et al, 2004; FLICK, 2004; BARBOSA; TEIXEIRA, 2007; LEITE; LEITE, 2007; DAVEL; VERGARA; GHADIRI, 2007; IPIRANGA, 2007; VERGARA, 2007; WOOD JR., 2007; SARAIVA, 2007; BARROS, 2007; FLEURY; SANSUR, 2007; BAETA, 2007; MENDONCA; GUIMARAES, 2007) sobre a linguagem filmica justifica esta pesquisa. Tal literatura afirma que essa linguagem leva em consideracao a contribuicao do seu uso para a discussao metodologica geral e traz a comparacao dos filmes com as entrevistas, reforcando que os filmes fornecem o componente nao-verbal dos eventos e das praticas que, assim nao fosse, somente poderiam ser documentados em protocolos de contexto. E ressaltada a vantagem do acesso repetido sem limite, o que se constitui em transposicao das limitacoes caracteristicas da observacao e justifica, na pratica, a sua aplicacao.

    Este trabalho objetiva, por meio do estudo observacional, elucidar algumas aplicacoes nas quais foi observada a decodificacao da linguagem de imagens, convertida em processo ludico e conduzida a descoberta, a criatividade, a analise, a resolucao de problemas e ao processo de ensinoaprendizagem.

    As aplicacoes do estudo observacional com base na linguagem filmica aqui relatadas tiveram como perspectiva contribuir com o aprofundamento de pesquisas no campo da Administracao. Foram replicadas em cento e vinte grupos de formacao e de fortalecimento de equipes e times de trabalho, ao

    longo de duas decadas, durante as quais foi feita a utilizacao sistematica dessa linguagem, tomada como recurso de analise da propria representacao do mundo organizacional submetido as intervencoes. Para tal, utilizaram-se diversos filmes, dentre os quais dezesseis foram selecionados para esta pesquisa, com suas respectivas questoes a serem tratadas, categorizadas por temas e consolidadas por essas replicacoes. Fizeram parte do universo de pesquisa: universidades, organizacoes de medio e grande porte e MBAs em gestao de pessoas nos Estados da Bahia e do Mato Grosso.

    Buscou-se, neste artigo, responder a pergunta de como pesquisadores, professores e consultores podem ampliar a utilizacao dos instrumentos didaticos a disposicao do formador/docente/ facilitador nas escolas e nas organizacoes. Para tanto, foi abordada a pratica de uso de filmes comerciais no ambito de processos de ensinoaprendizagem em Administracao, e tomado por base o trabalho de Leite, Chang Jr. e Santos (2006). A fundamentacao teorica buscou abordar, sucintamente, os principais conceitos e correntes sobre as linguagens metaforica e filmica, de modo que contribuisse para a sua apropriacao.

  2. EMBASAMENTO TEORICO-EMPIRICO NA APROPRIACAO DA LINGUAGEM FILMICA

    O embasamento teorico na apropriacao da linguagem filmica e tratado aqui de modo que envolva a linguagem metaforica e a linguagem filmica em grupos, equipes e times de trabalho. Iniciando esse embasamento pelo trato da linguagem metaforica, Vergara (2005:38) afirma: "a metafora e uma figura de linguagem que, valendose da comparacao entre dois conceitos diferentes, tem como objetivo formar outro conceito. [...] Esta inserida em uma abordagem simbolica. Trata-se de uma comparacao abstrata, no plano das ideias". A partir de tal embasamento, uma questao a ser, entao, formulada e: qual contribuicao a metafora, em toda a sua simbologia peculiar, pode acrescentar ao cotidiano organizacional? A resposta a essa pergunta sera aqui formatada por intermedio da elucidacao dos estudos de alguns pesquisadores que, a exemplo de Vergara, vem explicitando suas contribuicoes quanto ao assunto.

    A linguagem metaforica, no cotidiano das organizacoes, foi trazida e incentivada por Morgan (1986), que reforcou as inquietacoes oriundas da visao e do tratamento de pessoas como "recursos" e cujas ideias tem contribuido para a diminuicao da influencia recebida pelas mensagens oriundas do cartesianismo exacerbado, entreabrindo novas formas de ver as questoes dos individuos, dos grupos, das equipes e dos times nas organizacoes. Essas organizacoes criam suas proprias linguagens, que as representam. Os individuos, os grupos, as equipes e os times de trabalho que as compoem tambem o fazem. Oliveira (2001:1) esclarece:

    E o sistema linguistico verbal que nos permite falar de coisas e acontecimentos organizacionais remotos no tempo e no espaco. A linguagem utilizada e produzida numa Organizacao, muito mais que um instrumento de comunicacao como nos habituamos a ve-la, e antes um instrumento de representacao do mundo organizacional. (Grifo do autor).

    Nessa representacao do mundo organizacional, tem sido aberto espaco para a metafora como recurso de analise e de aperfeicoamento da comunicacao, na qual reside um potencial de contribuicao. Wood Jr. (2000:1) comenta:

    A linguagem metaforica e um dos sistemas simbolicos que mais cresceu em popularidade nos ultimos anos. De simples figura de linguagem, a metafora passou a recurso de analise organizacional e instrumento de trabalho de consultores e agentes de mudanca. Metaforas sao mais que simples figuras de linguagem. Antes consideradas como perigosas e indutoras de erros, elas estao hoje reabilitadas como manifestacoes de operacoes cognitivas fundamentais. Exatamente pelo perigo de inducao a erros, que o autor acredita que antes representavam, as metaforas precisam ainda ser utilizadas pelo formador/docente/facilitador com cautela, para que grupos, equipes e times organizacionais possam viver a relacao ensino-aprendizagem e oferecer o seu potencial de contribuicao na producao do conhecimento. Mcallister (1998:7) alerta para as implicacoes da producao de conhecimento tanto na presenca quanto na ausencia de metafora:

    Produzir conhecimento mediante metafora implica assumir, antes, um conhecimento generico, provavel e estabelecido sobre a realidade organizacional, na sua totalidade e, depois, aplica-lo no reconhecimento de uma realidade organizacional especifica, assim determinada para, em ultima instancia, confirmar o conhecimento anteriormente representado pela metafora adotada. Em contrapartida, produzir conhecimento na ausencia de metafora implica associar um conhecimento, embora anteriormente produzido, parcial, possivel e falivel, ao conhecimento que se produz no momento da relacao entre o sujeito e o objeto-organizacao. Do mesmo modo, na sua abordagem da producao de conhecimento por meio da pesquisa, Wood Jr. (2000:2) nao somente mantem o pensamento cuidadoso com que a metafora deve ser tratada, como reforca a sua importancia: "[...] quando um pesquisador utiliza metaforas para melhor compreender determinado objeto ou fenomeno, ele deve empreender uma discussao sobre os pressupostos basicos da abordagem adotada. [... ] Quando bem empregadas, metaforas sao processos que trazem a luz novas perspectivas e visoes. Sao tambem processos criativos e dinamicos, em constante mutacao".

    Saindo do trato da linguagem metaforica e enfocando o da linguagem filmica, o cinema, de acordo com os estudiosos, traz uma linguagem que forma uma unidade tecnico-sensorial, captada por uma experiencia perceptiva que envolve os aspectos metaforico, discursivo, de codificacoes e procedimentos especificos. Dentre esses estudiosos, Valenca (1997:XIV), estimulador da analise de filmes comerciais em atividades de ensinoaprendizagem, afirma: "E uma excelente maneira de iniciar o uso pratico da teoria". Por sua vez, Guigue (1999) vislumbra a possibilidade de o cinema vir a apreender-se como experiencia de vida.

    No contexto didatico, Canevacci (1982) ressalta a perspectiva de o texto filmico poder ser pensado como resultante de comunicacoes multiplas, e quica inquietantes, nas quais sempre estarao envolvidos mais sujeitos, tais como o autor, o diretor, o ator, o espectador. Todos esses sujeitos concorrem para a construcao de valores e significados instaveis, o que, consequentemente, podera contribuir com a abertura para mudancas. Em decorrencia, e necessario que o formador/docente/facilitador monitore e acompanhe o grupo, para alcancar um resultado de aprendizagem eficaz.

    D'Incerti, Santoro e Varchetta (2000) permitem antever que, quando o formador/docente/facilitador propoem em sala de aula exibir uma parte de um filme ou um filme completo, ocorre uma guinada na relacao autor-espectador em favor da relacao formador/docente/facilitador-formando/discente/ facilitando. Os autores salientam que isso ocorre a medida que o formador/docente/facilitador transmuta-se no artifice da narracao e no principal articulador de significados com os demais participantes.

    Alguns autores discorrem sobre a utilizacao de filmes, a exemplo de Vergara (2003:139), que adverte da necessidade de cuidados com o uso de filmes longos, com a frequencia de utilizacao de um mesmo filme e com a selecao de filmes ou de trechos especificos. Tal selecao deve estar vinculada aos temas desenvolvidos. Essa autora diz que "a confrontacao de interpretacoes provoca a percepcao de diversidades, valores, crencas, sentimentos, estrategias, visao de mundo". Valenca (1999:9), ao falar sobre as suas proprias experiencias com o uso dessa linguagem em filmes longos, escreve:

    O principal beneficio de usar filmes comerciais para trabalhar os conceitos ligados as teorias de comportamento e as propostas de aprendizagem...

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