The internationalization process of TOTVS software firm under the perspective of the behavioral approach/O processo de internacionalizacao da empresa de software TOTVS sob a otica da abordagem comportamental/El proceso de internacionalizacion de la empresa de software TOTVS en la perspectiva de enfoque del comportamiento.

AutorDal-Sato, Fabio
CargoARTIGO--ESTRATEGIA EMPRESARIAL
  1. INTRODUCAO

    A internacionalizacao de empresas tem ocorrido de diversas formas e em diferentes contextos. Paises desenvolvidos demonstram avancos qualitativos e quantitativos em relacao ao processo de internacionalizacao das empresas por meio do envolvimento gradual ou acelerado com o mercado externo. Por outro lado, paises emergentes tem demonstrado capacidade de competir no cenario internacional mediante um conjunto de fatores, como rapido desenvolvimento economico, liberalizacao de mercado, industrializacao, modernizacao e urbanizacao.

    A atencao para os paises emergentes tem sido enfatizada por seu potencial de desenvolvimento e pela importancia crescente em definir as regras do jogo internacional, como destacado no relatorio de 2003 da Goldman Sachs, o qual cunhou o termo BRIC (Brasil, Russia, India e China). Isso atraiu para esses paises o olhar do mundo academico empresarial e dos organismos governamentais (FLEURY, A.; FLEURY, M., 2007). Alem disso, varios estudos tem direcionado o foco para a internacionalizacao de empresas originadas nos mercados emergentes, como os de Aharoni (2014), Losada-Otalora e Casanova (2014) e Ramamurti (2012).

    No caso do Brasil, a insercao das empresas nacionais no contexto internacional tem sido tema relevante discutido por varios pesquisadores, como Fleury, A. e Fleury, M. (2007, 2010, 2012), Lema, Quadros e Schmitz (2012) e Navas-Aleman (2011). Em destaque, os caminhos percorridos pelas empresas brasileiras em direcao aos mercados externos formam um conjunto de experiencias e orientam as decisoes futuras no processo de internacionalizacao, com envolvimentos mais timidos ou comprometidos com o estrangeiro.

    No campo empirico, a ascensao brasileira ja se confirmava em 2005, quando a revista Fortune incluiu empresas dos paises emergentes em seu ranking das 500 maiores empresas do mundo. Alem disso, a internacionalizacao das empresas brasileiras tem sido destacada com algumas caracteristicas distintas, especialmente pelo modelo de gestao desenvolvido, baseado na combinacao original de competencias organizacionais e estilo de gestao de cada empresa (FLEURY, A; FLEURY, M., 2010).

    E nesse contexto que a internacionalizacao e o entendimento sobre seu processo sao investigados nesta pesquisa. Como objeto de estudo, a empresa TOTVS e examinada a luz dos pressupostos teoricos da abordagem comportamental, a fim de se analisar o desenvolvimento de seu processo de internacionalizacao. A TOTVS e uma empresa brasileira do setor de software fundada ha cerca de tres decadas. Em seu portfolio, a empresa possui solucoes integradas de softwares aplicativos para diversos setores, como saude, agroindustria, educacao, entre outros. No exterior, a TOTVS esta presente em mais de 20 paises, ocupa a 1a posicao entre as empresas de softwares aplicativos sediadas em paises emergentes e a 6a posicao no ranking dos fabricantes mundiais do setor (WORLD FINANCE, 2011). Portanto, a seguinte questao de pesquisa orienta a investigacao: como a empresa brasileira TOTVS desenvolve seu processo de internacionalizacao? Logo, a contribuicao deste artigo reside na analise da trajetoria de internacionalizacao de uma empresa de destaque no cenario internacional, originada em um contexto de mercado emergente.

    A seguir, apresentam-se as teorias sobre internacionalizacao, com foco na abordagem comportamental, o modelo de internacionalizacao explorado neste estudo e a industria de software nos cenarios nacional e internacional. Na sequencia, o metodo e apresentado e o caso da TOTVS e analisado por meio de cinco questoes: por que, o que, quando, onde e como as empresas internacionalizam suas atividades. Por fim, as conclusoes e indicacoes de pesquisas futuras sao abordadas, no intuito de contribuir para o avanco dos estudos na area.

  2. REFERENCIAL TEORICO

    As teorias tradicionais de internacionalizacao foram desenvolvidas por diversos autores e sob perspectivas variadas. Mesmo assim, essas teorias podem ser categorizadas em duas abordagens principais: a economica e a organizacional ou comportamental. A primeira e integrada por teorias que examinam a organizacao da producao, do investimento e do comercio internacionais. Concentra-se em agregados macroeconomicos, na organizacao industrial e em fenomenos microeconomicos considerados altamente objetivos. Nessa linha de pesquisa, prevalecem as solucoes racionais para as questoes do processo de internacionalizacao, a fim de maximizar os retornos economicos. A abordagem organizacional ou comportamental foca o comportamento organizacional dentro da empresa para enfrentar o mercado internacional e originase dos chamados "modelos de estagios". Esta centrada no tomador de decisao e no comportamento organizacional por meio de variaveis mais subjetivas. Nesse enfoque, o processo de internacionalizacao depende das atitudes, percepcoes e comportamento dos tomadores de decisao, os quais buscam a reducao dos riscos nas decisoes sobre onde e como realizar a expansao (HEMAIS; HILAL, 2004; NEUMANN; HEMAIS, 2005).

    Como o objetivo deste estudo e a analise da trajetoria da empresa em questao, relacionada ao seu processo de internacionalizacao, o enfoque sao os modelos comportamentalistas, os quais buscam entender os processos de tomada de decisao relacionados a internacionalizacao de empresas. Adicionalmente, os modelos comportamentalistas, ao incorporarem aspectos culturais, psicologicos e competitivos, auxiliam no entendimento dos desafios enfrentados pelas empresas brasileiras ainda nos estagios iniciais de internacionalizacao (CYRINO; OLIVEIRA; BARCELLOS, 2010).

    2.1. A Abordagem Comportamental de Internacionalizacao

    A abordagem comportamental de internacionalizacao esta basicamente representada por tres teorias, a saber: a) Modelo de Uppsala de Johanson e Vahlne (1977), fundamentado nas teorias da firma e do comportamento organizacional, e focalizado tanto no acumulo gradual do conhecimento sobre os mercados estrangeiros, quanto, por consequencia, no comprometimento crescente com esses mercados; b) networks, tambem desenvolvida por Johanson e Vahlne (1990), a partir do modelo de internacionalizacao baseado no conhecimento de Uppsala, adiciona os relacionamentos com outras entidades do mercado estrangeiro; e c) empreendedorismo internacional, considerada como linha de pensamento evolutiva dos seguidores do Modelo de Uppsala, com base nos estudos sobre o papel do empreendedor no processo de internacionalizacao, como o realizado por Andersson (2000).

    A tese fundamental de internacionalizacao do Modelo de Uppsala esta assentada nos estudos de Johanson e Wiedersheim-Paul (1975) e de Johanson e Vahlne (1977), que contribuem com a formulacao de um modelo (vide Figura 1) baseado na teoria comportamentalista da firma e em dois estudos de caso. Observando o comportamento das empresas suecas no processo de internacionalizacao, o Modelo de Uppsala se fundamenta em duas proposicoes basicas:

    1. as empresas se internacionalizam gradualmente. Tipicamente, as empresas se inserem no mercado internacional via exportacao, depois estabelecem subsidiarias de vendas e, eventualmente, comecam a produzir no pais hospedeiro (modelos de estagios); e

    2. a insercao cronologica das empresas no mercado internacional esta relacionada com a distancia psiquica existente entre o pais de origem e o pais hospedeiro. A distancia psiquica pode ser definida como a soma dos fatores que interferem no fluxo de informacao entre paises, tais como as diferencas de idioma, cultura, desenvolvimento industrial, praticas de negocios, entre outros. Ou seja, quanto maiores as diferencas em termos de distancia psiquica, maiores as incertezas quanto a entrada em novos mercados externos.

    [FIGURE 1 OMITTED]

    Com base nisso, o pressuposto central do Modelo de Uppsala consiste no argumento de que o processo de internacionalizacao das empresas ocorre de forma sequencial e incremental, como consequencia do crescimento destas, da saturacao da demanda domestica e das incertezas e imperfeicoes das informacoes sobre o novo mercado. Nessa perspectiva, o processo de internacionalizacao nao e uma sequencia de passos planejados e deliberados baseados em uma analise racional, uma vez que e orientado por uma natureza incremental que visa a aprendizagem sucessiva por meio do comprometimento crescente com os mercados estrangeiros (JOHANSON; VAHLNE, 1977; FLEURY, A.; FLEURY, M., 2009).

    Adicionalmente, em razao das mudancas significativas no ambiente de negocios e, por consequencia, da necessidade de analise de novos conceitos, os proprios pesquisadores Johanson e Vahlne fundamentaram a atualizacao do modelo inicial propondo essencialmente a manutencao dos mecanismos de mudanca e a insercao das variaveis de construcao de confianca e criacao de conhecimento. O novo modelo gerado (vide Figura 2) avanca na explicacao das caracteristicas do processo de internacionalizacao das empresas, especialmente por considerar em seu amago a visao de rede de negocios, baseada em dois aspectos principais: a) os mercados sao redes de relacionamentos nas quais as empresas estao ligadas em arranjos amplos, complexos e variados; e b) os relacionamentos oferecem potencial para aprendizagem e para a construcao de confianca e comprometimento, que sao precondicoes para a internacionalizacao (JOHANSON; VAHLNE, 2009).

    [FIGURE 2 OMITTED]

    A visao de rede de negocios desenvolvida por Johanson e Vahlne se sustenta nos argumentos de Penrose (1959) e Barney (1991), que embasam a Resource-based View (RBV) e assumem que os recursos das empresas sao heterogeneos e, por consequencia, formam um conjunto idiossincratico como base da competitividade e do desempenho da empresa. Alem de basear-se nesses mesmos aspectos, a visao de rede de negocios sustenta que a interacao na rede permite as empresas adquirir conhecimentos sobre esses relacionamentos, como necessidades, recursos, competencias, estrategias, entre outros (JOHANSON; VAHLNE, 2009).

    Dessa forma, o mecanismo de internacionalizacao...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT