O sujeito no MST: um estudo de caso

AutorSuzana Maria Pozzer da Silveira
Páginas49-61
O SUJEITO NO MST: UM ESTUDO DE CASO
Suzana Maria Pozzer da Silveira
1. INTRODUÇÃO
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) surge em 1984. Desde
sua criação tem se expandido no território nacional, e também se tornou um dos maiores
movimentos presentes no âmbito rural da América Latina. Nas análises/estudos desse
movimento, em especial oriundas da sociologia, têm surgido diferentes olhares em
relação à atuação, organização e bandeiras de luta do MST. Para certo grupo de autores,
o MST não teria conseguido acabar, mesmo em relação aos seus membros, com as
formas de tutela existentes no meio rural brasileiro, ou seja, estas teriam apenas mudado
de forma, no sentido de que inexiste sujeito autônomo no movimento, devido à forte
presença do centralismo democrático e dos mediadores, os quais falariam em nome do
camponês. Para outro grupo de autores, o MST teria desenvolvido uma forma própria de
educar e gestar sujeitos sociais, com autonomia e conscientes de suas ações,
entendendo que a luta do movimento transcende a questão da terra.
Face ao exposto, este artigo (tendo por base pesquisa de um estudo de caso do
MST) visa contribuir para o esclarecimento dessa dualidade de percepções do sujeito
sem-terra. Para tal utiliza como critérios de análise, principalmente, a participação dos
assentados, tanto no assentamento quanto no movimento, verificando entre outros
aspectos a sua visão do MST, da reforma agrária, da tomada de decisões, da
organização do trabalho, etc. Em função de referir-se a um estudo de caso estes dados
não poderão ser generalizados para o movimento como um todo, mas podem servir como
referência comparativa, seja para com outros assentamentos do MST, assim como
outros movimentos de luta pela terra, etc.
2. MST: DIFERENTES ABORDAGENS
2.1. PRIMEIRA ABORDAGEM
Para essa análise o MST tem dificuldade de propiciar a formação de sujeitos
autônomos, tendo como consequência um nível baixo de democratização nas relações
entre os integrantes do movimento, assim como em relação a outros movimentos sociais.
No entanto, os autores dessa abordagem consideram a importância do movimento, no
sentido de conseguir organizar as populações mais pobres do meio rural e contribuir para
a formação de relações mais democráticas no âmbito da sociedade rural (entre
fazendeiros e empregados, por exemplo).
Segundo a análise de Navarro (2002) o MST nasceu como um movimento social,
tendo capacidade de se “reinventar”, aglutinando setores mais pobres do meio rural. Teve
forte apoio e influência de setores progressistas, principalmente, da Igreja Católica,
através da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Nesta fase, o movimento constituía-se
democraticamente, sendo pouco hierarquizado, com participação da base nas decisões e
ações. Posteriormente, devido vários fatores, o MST passou a ser uma organização, ou
seja, não mais com participação de todos os envolvidos (base), mas com forte
centralização da tomada de decisões (mediadores, lideranças). Dessa fase em diante, a
base do movimento passou a ser mobilizada por diversos aspectos, mas não pela sua
“adesão consciente e voluntária”. Sendo assim, argumenta que o movimento não
contribui para a real emancipação dos pobres no campo, a qual tem por significado:

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