Jess? Souza e a interpreta??o do ?dilema brasileiro?

AutorFabiana Luci de Oliveira
CargoDoutora em Ci?ncias Sociais pela Universidade Federal de S?o Carlos
Páginas116-137
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.6, n.1, p. 116-137, jan./jul. 2009
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JESSÉ SOUZA E A INTERPRETAÇÃO DO “DILEMA BRASILEIRO”
JESSÉ SOUZA AND THE INTERPRETATION OF THE BRAZILIAN DILEMMA
JESSÉ SOUZA E LA INTERPRETACIÓN DEL DILEMA BRASILEÑO
Fabiana Luci de Oliveira1
RESUMO:
A questão do processo de configuração e modernização do Estado e da sociedade
no Brasil é tema recorrente no pensamento social brasileiro. Essa questão é
abordada aqui a partir da releitura que Jessé Souza faz do chamado “dilema
brasileiro” e da “sociologia da inautenticidade” que interpreta esse dilema. São
apontadas as contribuições e lacunas no trabalho desse autor, levando a conclusão
de que o dilema da modernização brasileira persiste.
Palavras-chave: Estado; Sociedade; Modernização; Inautenticidade.
ABSTRACT:
The process of configuration and modernization of the State and society in Brazil is
an appealing theme in the Brazilian social theory. This subject is approached here by
the interpretation that Jessé Souza gives of the so-c alled “Brazilian dilemma” and of
the “sociology of inaccuracy”, which interprets that dilemma. The contributions and
gaps in that author's work are nominated, leading to the conclusion that the dilemma
of the Brazilian modernization persists.
Keywords: State; Society; Modernization; Inaccuracy.
RESUMEN:
La cuestión del proceso de la configuración y de la modernización del estado y de la
sociedad en el Brasil es tema recurrente en el pensamiento social brasileño. Esta
cuestión es tratada en este trabajo a partir de la relectura que hace Jessé Souza del
llamado “dilema brasileño” y de la “sociología de la inautenticidad” que interpreta
este dilema. Las contribuciones y las brechas en el trabajo de este autor son
evidenciadas, conduciendo a la conclusión de que el dilema de la modernización
brasileña todavía persiste.
Palabras-clave: Estado; Sociedad; Modernización; Inautenticidad.
1 Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos. E-mail:
fabianaluci@gmail.com
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.6, n.1, p. 116-137, jan./jul. 2009
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1 BRASIL: ATRASADO OU MODERNO?
A questão do processo de formação e modernização do Estado e da
sociedade no Brasil é tema recorrente no pensamento social brasileiro. O Brasil
pode ser considerado moderno? Se a resposta f or afirmativa, que tipo de
modernização governa o país? Essas questões são abordadas aqui a partir da
releitura que Jessé S ouza faz do chamado “dilema brasileiro” e da “sociologia da
inautenticidade” que interpreta esse dilema.
O caráter de atrasado é atribuído ao Brasil em virtude ao seu processo de
formação-colonização e devido à dependência do país em relação ao capitalismo
internacional, alegando que o problema brasileiro é que Estado, mercado e
sociedade civil não são esferas completamente diferenciadas, que operam a partir
de uma lógica própria e independente.
O atraso do Brasil seria conseqüência primeiramente do processo de
colonização a que foi submetido (“herança ibérica”), s endo que a vinda da família
real no começo do século 19 e a transposição das estruturas do Estado português
para cá, s ó vieram a reforçar o tipo de relação existente entre Estado e sociedade
civil, na qual predominaria a autonomia do primeiro em detrimento da segunda.
Com a Independência, que deveria denotar a autonomização do país, nada
mudaria, haveria sim uma continuidade com a herança ibérica e o personalismo
português. E c om a proclamação da República, tal continuidade seria reiterada. Isso
porque ambos os processos teriam sido conduzidos de ci ma, sem a participação da
sociedade civil - a qual, aliás, para muitos autores, nem mesmo existiria.
No livro “Os Bestializados”, de J osé Murilo de Carvalho (1997), percebe-se
essa interpretação em alguns contemporâneos da época, como Aristides Lobo, para
quem o povo deveria ter sido o protagonista da proclamação da República, mas ao
contrário disso, teria assistido a tudo “bestializado”, e Louis Couty, para quem no
Brasil não haveria povo.
Nesse trabalho Carvalho discute a vida política no Brasil dos anos iniciais da
República até o governo de Rodrigues Alves. Ele busca detectar as relações entre o
Estado e seus cidadãos, tendo como cenário a cidade do Rio de Janeiro (escolhida
por ser o maior centro urbano e a capital do país).
Assim como Lobo e Couty, muitos outros afirmavam a total diferença da
situação do Brasil em comparação com a dos países “civilizados” da Europa. No

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