Sistemas de informação e evolução tecnológica: mitos e realidade

AutorJosé Maria Fernandes de Almeida
CargoProfessor aposentado da Universidade do Minho
Páginas56-64

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José Maria Fernandes de Almeida

Professor aposentado da Universidade do Minho

jose_falmeida@sapo.pt

1 Introdução

De um modo geral, ao longo dos milénios têm sido criadas pelo Homem representações artificiais de factos, acontecimentos e fluxos observados por ele no mundo real. Essas representações consubstanciam Informação para a qual muitas vezes não dispomos de processos para as interpretar e tratar no sentido de as adequar à cultura de quem delas se irá servir. Para ilustrar esta nossa afirmação basta recordar os desenhos e pinturas na foz do rio Côa em Portugal, nas grutas de Lascaux em França ou nas grutas de Altamira em Espanha.

Só muito recentemente, há +/- 4500 anos a.C, foram criados sistemas de registo para a informação com base num alfabeto gravado em placas de barro – tábuas de Uruk - que foi descodificado no início do século XX. Estas placas são “livros de contabilidade” onde estão registados o quantitativo de sacos de cereais, o quantitativo de cabeças de gado, etc., pertencentes ao Templo de Uruk que era uma cidade a Sul de Bagdad no país actualmente denominado Iraque (UNIVERSIDADE DO MINHO, 2010).

Outros sistemas de escrita, por exemplo, a hieroglífica egípcia, foram descodificados no início do século XIX – por JeanFrancois Champolion em 1822 – tendo por base o estudo da denominada Pedra da Roseta que contém a descrição de um mesmo facto (um decreto promulgado em 196 a.C.), redigido em caracteres hieroglíficos, em escrita demótica e em

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escrita grega. A Pedra foi encontrada pelos soldados napoleónicos no Egípto em 1799 (SAPO, 2010).

A adopção de idiomas dos “invasores” romanos e muçulmanos fez esquecer muitas das descodificações mais antigas tendose, provavelmente, perdido muitos registos de Informação. Mais tarde, a partir do século XV, “outros invasores”, portugueses, espanhóis, ingleses, holandeses e franceses fizeram esquecer muitas descodificações locais, tendose, provavelmente perdido muitos registos de Informação.

O registo de informação constitui uma forma de “transmissão no tempo” vulgarmente denominada memória. O registo pode ser “transmitido no espaço” de um ponto a outro sendo entregue a um destinatário por um “transportador”. Desde a longínqua antiguidade que são conhecidas formas de transmissão ponto a ponto ou em rede em que o transportador pode ser um estafeta ou um sistema baseado na emissão e recepção de sinais sonoros ou luminosos. Neste ultimo caso existirá um sistema de codificação/descodificação conhecido pelo transmissor e pelo receptor que garanta a integridade da informação transmitida (UNIVERSIDADE DO MINHO, 2010b). A informação poderá ser sujeita a tratamento, isto é transformada de modo a ser adequada à cultura de quem dela se vai servir.

Os Sistemas de Informação existem há milénios e são representações artificiais de factos, acontecimentos e fluxos observados pelo Homem no mundo real. O que se tem modificado são os instrumentos utilizados pelo Homem para construir as representações e executar as funções inerentes aos Sistemas de Informação. Nem todos os Sistemas de Informação foram construídos tendo por finalidade a tomada de decisão para Gestão das Organizações. Alguns foramno, nomeadamente os Sistemas Contabilísticos. Só se conhecem textos, referindo especificamente a Gestão das Organizações, publicados a partir da primeira década do século XX. Anteriormente alguns textos, de natureza filosófica ou religiosa incluíam algumas referencias à disciplina da Gestão das Organizações (ALMEIDA, 1994).

As abordagens realizadas por Frederick Taylor em 1911, por Henry Fayol em 1916 e por Max Weber em 1947, são normalmente consideradas a base da denominada Teoria Clássica de Gestão das Organizações (SOUSA, 1990). Qualquer um dos autores tem como objectivo a descoberta de regras ideais que serão subjacentes ao funcionamento de qualquer empresa. Como consequência o trabalho científico desenvolvido conduziria à descoberta de normas absolutas que seriam aplicadas pelos gestores das empresas. A este objectivo está subjacente a concepção da empresa como um Sistema Fechado, em que a tecnologia operativa é determinante para o seu funcionamento. A gestão da empresa centrase na optimização do sistema produtivo interno sendo o individuo considerado como uma peça de todo o maquinismo.

Deste conceito e da difusão da utilização do computador para o Tratamento da Informação nas Empresas surge, nos anos 196X, a sigla MIS – Management Information System. Este MIS seria a solução para a boa gestão de qualquer empresa. Parecia ter sido encontrada a “receita universal” a aplicar na gestão de qualquer empresa. Tal não sucedeu, pois por um lado evidenciaramse um quantitativo apreciável de incompatibilidades técnicas entre os instrumentos utilizados para a execução das funções sistémicas e, por outro lado, cada gestor em cada empresa considerava que a solução residia na adopção de vários sistemas de informação e não na utilização de um sistema monolítico.

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Cedo foram propostas algumas soluções como a criação de DSS (Decision Support Systems – Sistemas de Apoio à Decisão), EIS (Executive Information Systems – Sistemas de Informação para Executivos) ES (Expert Systems – Sistemas Periciais) e outros. No “terreno” a construção de Subsistemas de Informação para Gestão das Organizações tem sido realizada com o recurso ao conceito de gestão dos gestores e seus colaboradores, desenhado um conjunto de aplicações informáticas coerentes e testando o resultado obtido no tratamento automático da informação.

2 Subsistemas de informação

Em 1968, quando iniciei a minha actividade profissional como idealizador de Subsistemas de Informação para Gestão, os equipamentos para tratamento automático da informação denominavamse MainFrame, a sua velocidade de processamento era muitíssimo reduzida assim como a capacidade para armazenagem de dados e resultados quando comparadas com a velocidade e a capacidade de armazenagem actuais de qualquer “PC”. A introdução de dados era realizada através da perfuração de códigos em fita de papel ou em cartões de 80 colunas, as linguagens de programação, adequadas ao fim em vista, eram versões do código denominado Assembler e os...

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