A sexualidade feminina e a psicanálise: rompendo as amarras da moral sexual cristã e do sexo como reprodução

AutorCarolina Menegon - Enio Waldir da Silva
CargoBolsista de Extensão no País do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - Doutor em Sociologia pela UFRGS
Páginas122-139
Periódico do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero e Direito
Centro de Ciências Jurídicas - Universidade Federal da Paraíba
Nº 03 - Ano 2015
ISSN | 2179-7137 | http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ged/index
122
DOI: 10.18351/2179-7137/ged.2015n3p122-139
Seção: Gênero, Sexualidade e Feminismo
A SEXUALIDADE FEMININA E A PSICANÁLISE: ROMPENDO AS
AMARRAS DA MORAL SEXUAL CRISTÃ E DO SEXO COMO
REPRODUÇÃO.
Carolina Menegon1
Enio Waldir da Silva2
Resumo: O presente estudo foi
desenvolvido tendo por objetivo discorrer,
inicialmente, como se desenvolveu a
dualidade prostituta/mulher-mãe nos
séculos XVII e XVIII e como a Igreja,
sobretudo a Católica, o Estado e a Medicina
serviram, na época, como instrumento
repressor da sexualidade feminina,
baseando-se em uma abordagem
foucaultiana de poder e repressão. Foi dado
evidencia as diferenças socialmente
construídas em relação às mulheres e aos
homens no tocante à sexualidade, à
fidelidade e à moral-cristã. Na sequencia, a
sexualidade foi abordada a partir de uma
leitura de Joel Birman sobre a teoria
psicanalítica de Freud, para, ao final,
indicar como a psicanálise contribuiu para o
rompimento da ideia de sexo como
reprodução e não como desejo. Com a
1 Bolsista de Extensão no País do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) -
Nível C. Mestra nda do Programa de Mestrado em Direitos Humanos da Universidade Regional do Noroeste do
Rio Grande do Sul UNIJUI. Graduada em Direito na mesma instituição. E-mail: carolina.menegon@bol.com.br
2 Doutor em Sociologia pela UFRGS. Professor da Graduação das áreas de ciências sociais e do Mestrado em
Direitos Humanos da UNIJUÍ. E-mail: eniowsil@unijui.edu.br
finalidade de cumprir, portanto, o objetivo
proposto, o percurso teórico nesta
investigação foi elaborado sob a base lógica
do método dedutivo, com uma coleta de
dados, sobretudo, bibliográficos.
Palavras-chave: Sexualidade. Mulher.
Controle Social. Igreja. Psicanálise.
Resumen: El presente estudio se desarrolló
con el propósito de considerar,
inicialmente, cómo se ha desarrollado la
dualidad prostituta / mujer-madre en los
siglos XVII y XVIII y cómo la Iglesia,
especialmente la Católica, el Estado y la
medicina sirvieron, en la época, como un
instrumento represivo de la sexualidad
femenina, basada en un enfoque
foucaultiano del poder y de la represión. Se
le ha dado énfasis a las diferencias
construidas socialmente en relación a las
Periódico do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero e Direito
Centro de Ciências Jurídicas - Universidade Federal da Paraíba
Nº 03 - Ano 2015
ISSN | 2179-7137 | http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ged/index
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DOI: 10.18351/2179-7137/ged.2015n3p122-139
mujeres y los hombres con respecto a la
sexualidad, la fidelidad y la moral cristiana.
En la secuencia, la sexualidad fue aborda
desde una lectura de Joel Birman sobre la
teoría psicoanalítica de Freud, para, al final
indicar cómo el psicoanálisis contribuyó a
la interrupción de la idea del sex o como
reproducción y no como deseo. Con la
finalidad de cumplir con el objetivo
propuesto, la trayectoria teórica de esta
investigación fue elaborado bajo la
justificación del método deductivo, con la
recopilación de datos, sobre todo
bibliográfica.
Palavras-clave: Sexualidad. Mujer.
Control Social. Iglesia. Psicoanálisis.
Introdução
Dos sete pecados capitais, a Luxúria é o
mais terrível, porque é o mais sedutor e
porque dela nascem os outros seis ou por
ela são eles estimulados. - Marilena Chauí
A sexualidade é uma dimensão
humana e seu conceito é abrangente, pois
ela está intimamente ligada à vida, ao amor,
à expressão subjetiva da autonomia e da
beleza que o próprio ser humano traz em sua
originalidade como pessoa. Sua
significação tem a ver com os sentidos
atribuídos individualmente pelo próprio ser;
marcada, vivida e partilhada com base nos
desejos e escolhas afetivas, qualidades e
significação existenciais, sociais, estéticas,
eróticas, éticas, morais e até espirituais.
A sexualidade, portanto, constitui
uma das mais intrigantes dimensões da
condição humana, pessoal e social. A
sexualidade feminina e as relações sexuais
de poder, por sua vez, devido às suas
especificidades sociais e históricas,
revelam-se objetos ainda mais instigantes
de pesquisa.
As sociedades foram construídas a
partir de discursos, de regras, de normas e
de tradições culturais. Nesse sentido, é por
volta do século XVIII que, segundo
Foucault (1988, p. 22), nasceu um incentivo
político para se falar sobre sexo.
Mecanismos foram criados para ordenar e
controlar a mortalidade, a natalidade, o
estado de saúde e outros. Com isso, o poder
público Estado , objetivava, entre outras
questões, o controle do sexo.
A Igreja, sobretudo a Católica
(aliada ao Estado, a Medicina e a Família),
serviu, nesse sentido, como instrumento
repressor para a sexualidade feminina, na
medida em que exercia forte influência nos
costumes da época. Os representantes de
Deus, padres e vigários, em seus discursos,
pregavam a aversão ao sexo por prazer,
consequentemente negando à mulher a

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