Trajetória social e construções identitárias de morador a assentado: a perspectiva dos sujeitos

AutorConceição de Maria Sousa Batista Costa
CargoAssistente Social
Páginas191-201
191
TRAJETÓRIA SOCIAL E CONSTRUÇÕES IDENTITÁRIAS DE MORADOR A ASSENTADO: a perspectiva dos
sujeitos
R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 191-201, jan./jun. 2012
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a perspectiva dos sujeitos
Conceição de Maria Sousa Batista Costa
Faculdade Santo Agostinho (FSA)
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KC"UQEKCN" G" EQPUV
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ËGU" KFGPVKVè
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sujeitos
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Q" rtgugpvg" ctvkiq" rtqrg" cpcnkuct" curgevqu" fc" vtclgv„tkc" uqekcn" fg" hconkcu" ecorqpgucu" swg" rcuuctco" fc"
eqpfk›«q"fg"oqtcfqtcu""fg"cuugpvcfcu."pq"owpkerkq"fg"Okiwgn"Cnxgu."pq"Guvcfq"fq"Rkcw0"Gxkfgpekc"swg"guucu"hconkcu."
através de sucessivas gerações, “ocuparam” uma dada propriedade, conhecida atualmente como Centro do Designo,
através do pedido de morada, constituindo, por décadas, relações sociais de patronagem-dependência, consolidadas,
uqdtgvwfq."go" fkhgtgpvgu"rtƒvkecu" fg"uwdokuu«q0" Eqpenwk"swg" c"vtcpuhqtoc›«q" fc"rtqrtkgfcfg" go"Cuugpvcogpvq" rgnc"
rqnvkec"citƒtkc"hgfgtcn."go"3;;8."vgxg"korcevq"eqpukfgtƒxgn"rctc"guucu"hconkcu."woc"xg¦"swg"pqxcu"tgitcu"fg"eqpxkx‒pekc"
foram estabelecidas.
Rcncxtcu/ejcxg
Morador, assentado, identidade, política agrária, memória.
UQEKCN"YC["CPF"KFGPVKV["EQPUV
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GUKFGPV"VQ"C"UGVVNG
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Cduvtcev
Vjku"ctvkeng"uggmu" vq"cpcn{¦g"curgevu" qh"vjg"uqekcn" rcvj"qh"rgcucpv" hcoknkgu"yjkej"ejcpigf" htqo"c"rqukvkqp"qh"
residents to that of settlers, in the municipal district of Miguel Alves, in the State of Piauí. It evidences that those families
vjtqwij"uweeguukxg" igpgtcvkqpu."qeewrkgf"c" ikxgp"rtqrgtv{."pqy"mpq yp"cu"ÐEgpvtq" fq"FgukipqÑ."d{" ogcpu"qh" tgswguvu"
hqt"jqwukpi."yjkej"eqpuvkvwvgf."hqt"fgecfgu."uqekcn"tgncvkqpujkru"qh"rcvtqpcig"cpf"fgrgpfgpeg."eqpuqnkfcvgf."cdqxg"cnn."kp"
different submission practices. It concludes that the transformation of the property into a settlement by the federal agrarian
rqnke{"kp"3;;8"jcf"eqpukfgtcdng"korcev"hqt"vjqug"hcoknkgu."ukpeg"pgy"twngu"qh"eqgzkuvgpeg"ygtg"guvcdnkujgf0
Mg{"yqtfu
Fygnngt."ugcvgf."kfgpvkvkgu."ncpf"rqnkekgu."ogoqt{0
Recebido em: 28.02.2012. Aprovado em: 09.04.2012.
192
Conceição de Maria Sousa Batista Costa
R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 191-201, jan./jun. 2012
1 INTRODUÇÃO
O texto apresentado constitui parte da
dissertação de mestrado, De moradores a
assentados: trajetórias e identidades sociais no
Centro do Designo
1
, em Miguel Alves, no Piauí,
defendida na Universidade Federal do Piauí, no
primeiro semestre do ano de 2006, para a obtenção
do título de mestre. Nele, são analisados aspectos da
vtclgv„tkc"uqekcn"fcu"hconkcu"swg"uctco"fc"eqpfk›«q"
de moradoras para a de assentadas. Tal análise
buscou compreender o processo de construção
da história das famílias moradoras no vínculo
com o proprietário e como essa história interferiu
nas relações sociais das famílias assentadas,
swcpfq" c" vgttc" p«q" vgo" ocku" wo" rtqrtkgvƒtkq" g"
uko" xƒtkqu." tgikfqu" rqt" tgitcu" kpuvkvwekqpcnk¦cfcu"
g" ocvgtkcnk¦cfcu" eqo" uwc" ghgvkxc" rctvkekrc›«q." pq"
âmbito da política de assentamento.
A trajetória social das famílias moradoras do
Centro do Designo é marcada por uma diversidade
fg"vgorqu" uqekcku."ocu"fgxg/ug" eqortggpfgt"swg."
ao se trabalhar esses tempos,
Pelo viés da memória é possível
analisar o vivido e recortá-lo, é possível
hc¦gt"q" vgorq"rcuucfq" ug" rtgugpvkÝect"
analiticamente e oralmente, subjetivar
rwdnkecogpvg" swgo" lƒ" guvƒ" ugpfq"
tgngicfq"cq"guswgekogpvq0"*VGFGUEQ."
2002, p. 43).
A propósito, como lembram Godoi (1999)
e Moraes (2000), teoricamente, a perspectiva da
memória pela narrativa supõe um trabalho de
eqpuvtw›«q" fg" ukipkÝecfqu" fq" rcuucfq." gncdqtcfq"
no presente.
Nesse sentido, o assentamento constitui um
gurc›q" pq" swcn" qu" jqlg" cuugpvcfqu" eqpuvtwtco" g"
constroem suas histórias de relação com a terra,
eqo"c"swcn"jƒ" xpewnqu"hqtvgu."rqku"cswgngu"uwlgkvqu"
uqekcku"pcuegtco" pcswgnc"nqecnkfcfg" swg"f‌i." cuuko."
parte de suas trajetórias pessoais e sociais. A
rtqr„ukvq." Rkgttg" Dqwtfkgw." cq" ug" tghgtkt" " cpƒnkug"
dos acontecimentos constitutivos da vida como
jkuv„tkc." eqpfw¦" " eqpuvtw›«q" vg„tkec" fc" pq›«q" fg"
trajetória, criticada pelo autor, se entendida apenas
pelo vínculo a um sujeito, individual ou coletivo, sem
ug"ngxct"go"eqpvc"c"guvtwvwtc"uqekcn."qw"uglc."c"ocvtk¦"
das relações objetivas:
[...] não podemos compreender
woc" vtclgv„tkc" ugo" swg" vgpjcoqu"
previamente construído os estados
uweguukxqu" fq" ecorq" pq" swcn" gnc" ug"
desenrolou e, logo, o conjunto das
tgnc›gu"qdlgvkxcu"swg" wpktco"q"cigpvg"
considerado ao conjunto dos outros
agentes envolvidos no mesmo campo e
confrontados com o mesmo espaço dos
rquuxgku0"*DQWTFKGW."4224."r0"3;2+0
Rctc" Rkgttg" Dqwtfkgw." f‌i" cduwtfc" c"
compreensão da vida numa trajetória de série
única e constitutiva de acontecimentos sucessivos,
swg" hqecnk¦c" c" vtclgv„tkc" uqekcn" fg" wo" itwrq" swg"
envolve diferentes atores em diferentes épocas. A
realidade investigada passou por diferentes estados
e por muitas décadas, com a vida dos moradores
tgegdgpfq."vcodf‌io."fkhgtgpvgu"kpÞw‒pekcu0"Cuuko."c"
trajetória não é linear e
Qu" ceqpvgekogpvqu" ]000̲" ug" fgÝpgo"
como colocações e deslocamentos no
espaço social, isto é, mais precisamente
nos diferentes estados sucessivos da
estrutura da distribuição das diferentes
gurf‌iekgu"fg" ecrkvcn" swg" guv«q" go" lqiq"
pq" ecorq" eqpukfgtcfq0" *DQWTFKGW."
2002, p. 190).
Nessa perspectiva, a propriedade Centro do
Designo foi, desde a primeira metade do século
XIX, constituindo espaço de moradas para muitas
hconkcu"g."eqoq"ngodtc"Yqqfyctf"*4222+."fg"oketq/
histórias, ali acontecidas por migração de cidades do
Piauí, Maranhão e Ceará. Conforme as narrativas,
os motivos principais dessas migrações foram a
falta de terra e de condições de trabalho. Essas
famílias, ao chegarem à propriedade, depararam
eqo" woc" vgttc" swg" tgwpkc" eqpfk›gu" swcpvkvcvkxcu"
g"swcnkvcvkxcu"g" nƒ"ug"guvcdgngegtco." rqtswcpvq"gtc"
propícia ao desenvolvimento de atividades ligadas
à agricultura, à pesca e ao extrativismo, com água
uwrgtÝekcn" go" cdwpf¤pekc" *;" MO" fg" tkq" g" nciqcu+"
e um lençol freático raso. Assim, apesar das
singularidades, existe algo em comum às trajetórias:
a busca pela terra para instalação e reprodução da
hconkc."pqu"oqnfgu"fq"ecorgukpcvq"fg"oqtcfc."swg"
se estendeu pelo sertão do gado.
4" EGPV
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Q" FQ" FGUKIPQ
trajetórias e memórias
Para um melhor entendimento da realidade
dos moradores do Centro do Designo, é útil a
tghgt‒pekc"c" Ugicngp"*3;;;+." swg"eqpegdg" igtc›«q"
não só como um conjunto de pessoas com a
oguoc" hckzc" fg" kfcfg." ocu" vcodf‌io" cswgncu" eqo"
a mesma experiência histórica ou social. A autora
cÝtoc" swg" cu" igtc›gu" eqgzkuvgo" g" uqdtgrgo/
ug." ectcevgtk¦cpfq." fguuc" hqtoc." c" uqekgfcfg"
atual, como, de fato, ocorre no Centro do Designo.
Cnkƒu." godqtc" Ugicngp" *3;;;+" tgÝtc/ug" ocku" cq"
plano familiar, sua abordagem é importante para
c" eqortggpu«q" fcu" swguvgu" fcu" igtc›gu" pq"
Cuugpvcogpvq" Egpvtq" fq" Fgukipq." rqtswcpvq" gncu"
construíram trajetórias de vida diferentes, com
a marca forte dos pais em cada uma delas, no
rtqeguuq"fg"uqekcnk¦c›«q0
Aspecto também relevante enfocado por
Martine Segalen são as relações estabelecidas
gpvtg"igtc›gu"swg."rqt"uwc"xg¦."
193
TRAJETÓRIA SOCIAL E CONSTRUÇÕES IDENTITÁRIAS DE MORADOR A ASSENTADO: a perspectiva dos
sujeitos
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Sempre desempenharam um papel
importante tanto na construção
da identidade pessoal, como na
fundamentação dos laços sociais.
(SEGALEN, 1999, p. 222).
Tais relações devem ser vistas como
constitutivas de elementos destacados no processo
de integração social do grupo.
De fato, no assentamento, a coexistência de
igtc›gu" f‌i" eqpetgvc" rqtswg." godqtc" cu" hconkcu"
estejam atualmente na condição de assentadas,
ckpfc" f‌i" rtgugpvg." go" uwc" ogo„tkc." q" swg" gncu"
construíram nas relações sociais como moradoras
g"citgicfcu."g" swg"p«q"ug" gzvkpiwg"eqo"q" fgetgvq"
fg" fgucrtqrtkc›«q" fc" ƒtgc0" ¡" swg" c" jkuv„tkc" fc"
desapropriação é recente (menos de duas décadas),
gpswcpvq" swg" c" fg" oqtcfqtgu" vgo" ocku" fg" qkvq"
ff‌iecfcu0" C" tgÞgz«q" fg" Ugicngp" *3;;;+" rgtokvg"
rgpuct" swg." eqoq" ghgkvq" oguoq" fc" igtc›«q" g" fc"
mobilidade social,
A presença simultânea de gerações
assegura a transmissão de modelos
culturais, desenvolve trocas numerosas
e, mais geralmente, contribui para
assegurar a reprodução social.
(SEGALEN, 1999, p. 222).
C" eqpukfgtc›«q"fcu" fkhgtgpvgu" igtc›gu" hc¦"
eqo"swg" ug"xqnvg"c" cvgp›«q"rctc" cu"pcttcvkxcu" fqu"
antigos moradores. De acordo com tais narrativas,
a propriedade começou a ser povoada por volta da
primeira
ogvcfg"fq"uf‌iewnq"ZKZ0"Fgxkfq""nqecnk¦c›«q."
às margens do rio Parnaíba, foi marcante a
ocupação inicial, pelas primeiras famílias, nessa
área. Na época, o movimento do comércio na
Rtqxpekc"fq"Rkcw"fcxc/ug"rqt" xkc"Þwxkcn"g."pc"ƒtgc"
da propriedade onde passava o rio, existia um ponto
onde as embarcações eram ancoradas para serem
abastecidas com madeiras para a sua manutenção e
com a produção de coco babaçu e de fumo, a serem
eqogtekcnk¦cfqu"pc"ekfcfg"fg"Rctpcdc/RK0
Pcu"hcncu"fcu"rguuqcu"gpvtgxkuvcfcu."c"Ýiwtc"
do senhor Mariano Mendes, primeiro proprietário,
vgo" fguvcswg" rqtswg." eqo" q" rcuuct" fqu" cpqu." ug"
Ýtoctc" eqoq" wo" itcpfg" rtqrtkgvƒtkq" fg" vgttcu" fc"
região. De acordo com essas informações, dentre
as datas de terra, há registro de uma chamada
Remanso, de 1898, mas sem dados relativos ao
vcocpjq" fc" ƒtgc" g" " nqecnk¦c›«q" gzcvc." p«q" ug"
sabendo se ela é a mesma propriedade do Centro
do Designo. (CARTA DAS SESMARIA, 1819-1823).
Destacando-se da maioria, as narrativas
fg" vt‒u" cuugpvcfqu" gzrtguuco" swg" pgo" vqfc" c"
área do Centro do Designo pertencia de direito a
Mariano Mendes, pai de Simplício Mendes, referido
eqoq"q" fqpq"fc" vgttc0" ¡"swg." fwtcpvg"qu" cpqu"go"
swg"cu" rguuqcu" hqtco"fgÝpkpfq" c" oqtcfc."kco/ug"
estabelecendo as relações com os proprietá
rios e o
conhecimento sobre eles:
O pai do doutor Simplício era pobre,
era um vendedor ambulante. Na época
ele comprou só a área do Porto e no
tempo de demarcar, demarcou tudo isso
cswk0" ]000̲." fq" Ocvq" Ugeq" " Nkdgtfcfg
2.
(Informação verbal)
3
.
Pcswgnc" f‌irqec" q" eqof‌itekq" gtc"
desenvolvido pelos chamados
mascates. Havia um mascate chamado
de Mariano, um homem simples e
pacato. Andava calçado em uma
alpercata feita de couro cru e, por causa
desses trajes recebeu o apelido de
ÐOctkcpq"Rtcecvc"UgecÑ"]000̲0"Octkcpq"hg¦"
sua nova residência perto das pedras ao
ncfq"fg"swcvtq"rf‌iu"fg"ocpic." g"rcuuqw"
a comprar e vender fumo, tornando o
mais popular e respeitado. [...] Mariano
iniciou a compra de hectares de terra,
ocu"vcodf‌io"ug" crquuqw"fcswgncu"swg"
não tinha ninguém, não tinha dono.
(Informação verbal)
4
.
Qu"ocku"xgnjqu"hcncxco"swg"cpvkicogpvg"
guvc"vgttc"gtc"rgswgpc"g"pcswgnc"f‌irqec"
vkpjc" cu" rguuqcu" swg" kco" crquucpfq."
eram os mais sabidos e conhecia as
leis. (Informação verbal)
5
.
Tomando como referência essas narrativas,
observa-se, pelas características apresentadas
rctc"q"rtkogktq" rtqrtkgvƒtkq." Octkcpq"Ogpfgu." swg"
gng"hqk"woc"rguuqc"ukorngu"swg"ÐnwvqwÑ"rctc"ejgict"
à condição de proprietário. Entretanto, buscando-
se informações nos Registros de Terras do Piauí
do início do século XX
6
." eqpuvcvc/ug" swg" Octkcpq"
Mendes era um abastado, proprietário de muitas
vgttcu."nqecnk¦cfcu"pqu"owpkerkqu"fg"Wpk«q"g"Okiwgn"
Cnxgu."rcvtko»pkq"swg"eqog›qw"c"hqtoct"c"rctvkt"fg"
1817.
Fgxkfq" " swcnkfcfg" fcu" vgttcu" rctc" c"
agricultura, e à exploração do coco babaçu e à
rtgugp›c" fcu" xc¦cpvgu." fgeqttgpvgu" fc" gzkuv‒pekc"
das lagoas, o Centro do Designo tornou-se atrativo
cq" rqxqcogpvq0" É" ogfkfc" swg" ug" gzrcpfkc" eqoq"
propriedade, foi-se tornando marcante a presença
dos gerentes na sua administração, só, mais tarde,
crctgegpfq"c"Ýiwtc"fqu"cttgpfcvƒtkqu0"
Segundo as narrativas, a trajetória da família
Ogpfgu" hqk" octecfc" rqt" swguvgu" hcoknkctgu"
fundadas no fator herança. As mortes na família
do proprietário foram ocorrendo entre as pessoas
ocku"xgnjcu." fg"oqfq"swg"c"rtqrtkgfcfg" hqk"ugpfq"
repassada às gerações sucessivas. Mariano
Mendes, Simplício Mendes e Mariano Mendes (Neto)
tgrtgugpvco"cu" vt‒u"igtc›gu"fg" rtqrtkgvƒtkqu"swg"
conviveram com os moradores, sendo mais intensa
a dos dois últimos com as famílias moradoras, já
swg." go" 3;24." swcpfq" ug" kpkekqw" q" rqxqcogpvq"
da propriedade, faleceu o primeiro proprietário.
¡" korqtvcpvg" fguvcect" swg." cq" vqoct/ug" eqoq"
tghgt‒pekc"q"rgtqfq"go"swg"cu"hconkcu"xkxgpekctco"
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Conceição de Maria Sousa Batista Costa
R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 191-201, jan./jun. 2012
a condição de moradoras, o número de gerações
de proprietários e o de moradores chega a ser
coincidente, mas sem nenhuma relação direta entre
ecfc"woc" fgncu." rqtswg"pq" ¤odkvq" fcu"hconkcu." q"
grupo era numeroso, com pessoas pertencentes às
três gerações. Quando a propriedade se transformou
em assentamento, Mariano Mendes, pertencente à
vgtegktc"igtc›«q."lƒ"jcxkc"hcngekfq."go"3;;4."g"swgo"
estava à frente dos negócios da terra eram a esposa
g"Ýnjqu0"
Pq" swg" ug" tghgtg" cq" eqeq" dcdc›w." q"
proprietário, na época, comprava dos moradores
e, em seguida, vendia para uma fábrica de sabão,
nqecnk¦cfc"u"octigpu"fq"tkq" Kictc›w."go"Rctpcdc."
transportando-o pelas embarcações.
Q" eqeq" fcswk" gtc" godctecfq" pgnc"
[embarcação] pra ir para Parnaíba.
Ainda viajei nelas pra deixar o coco. Lá
pq" tkq" Kictc›w" vkpjc" woc" oƒswkpc" fg"
hc¦gt"ucd«q0"*Kphqtoc›«q"xgtdcn+
7
.
Ckpfc" ugiwpfq" q" pcttcfqt" *DGPLCOKP."
1987), a venda da madeira para movimentar as
godctec›gu" hqk" qwvtc" cvkxkfcfg" swg" gpxqnxgw" cu"
famílias da época, ocorrendo com mais intensidade
no período do preparo das roças de capoeiras
8
, de
onde era retirada a unha de gato, a madeira mais
comum encontrada nas áreas de roças.
As famílias
"swg"ug"kpuvcnctco" pc"rtqrtkgfcfg"
Centro do Designo buscavam melhorar de vida e, ao
gpeqpvtct"woc"vgttc"rtqfwvkxc."rtqewtctco"qticpk¦ƒ/
la, envolvendo-se nas atividades agrícolas, no
extrativismo e na pesca. As narrativas demonstram
c"vtclgv„tkc"ukpiwnct" swg" ecfc"woc" hqk" eqpuvtwkpfq."
tgeqtvcfc" p«q" u„" rqt" oqogpvqu" fg" fkÝewnfcfgu."
mas também pela esperança de vencê-las e usufruir
dias melhores.
Para o cultivo das atividades agrícolas, a mão
de obra era familiar. No geral, o envolvimento de
rck"g" fg"Ýnjqu" ockqtgu"qeqttkc"go"vqfcu"cu" gvcrcu"
fg"rtqfw›«q." rctvkekrcpfq"o«g" g"Ýnjcu." pc"ockqtkc"
dos casos, da etapa da colheita. Quando essa mão
fg"qdtc" p«q"gtc"uwÝekgpvg" rctc"cvgpfgt" c"vqfcu"cu"
demandas de trabalho, era costume ocorrer entre as
hconkcu" cu" rtƒvkecu" fg" tgekrtqekfcfg" *UCDQWTKP."
1999; GODOI, 1999; MORAES, 2000), sobretudo
nas atividades de preparação para o plantio e na
colheita.
na pesca, o envolvimento tinha a
participação dos homens, normalmente o pai ou
qu" Ýnjqu" ockqtgu0" Pq" gzvtcvkxkuoq." c" qewrc›«q"
predominante na tarefa era das mulheres, sobretudo
o«gu" g" Ýnjcu." igtcnogpvg" cu" ockqtgu." eqo" qu"
homens atuando mais no período entre plantio e
eqnjgkvc."q"swg." pc"ockqtkc"fcu"xg¦gu."ug"nkokvcxc"c"
juntar os cocos na mata.
As narrativas permitiram perceb
gt" swg" qu"
dqpu"tguwnvcfqu"fc" rtqfw›«q"fg"cttq¦."oknjq." hgkl«q"
e farinha não são tão antigas. Ocorreram anos, das
ff‌iecfcu"fg"3;92"g"3;:2."swg."swcpfq"c"rtqrtkgvƒtkc"
tgeqnjgw" c" tgpfc" fcu" hconkcu." c" swcpvkfcfg" gtc"
v«q" itcpfg" swg" lƒ" p«q" njg" kpvgtguucxc" eqortct" c"
produção.
No ano de mil novecentos e oitenta e
sete, só de renda foi de noventa e seis
okn" swknqu" fg" cttq¦." wpu" swctgpvc" okn"
swknqu" fg" oknjq0" ]000̲" owkvc" hctkpjc0" Q"
ctoc¦f‌io" Ýeqw" nqvcfq0" ]000̲." g." go" okn"
novecentos e oitenta e nove deu outra
rtqfw›«q"dqc0" Rtqfw›«q" swg" ogfkoqu"
mais de duas mil linhas de roça. [...].
Nessa época, as pessoas não passaram
tanta necessidade e o legume alcançava
q"qwvtq0" P«q"ug"eqortcxc" cttq¦."hgkl«q."
hctkpjc."vwfq" gtc"fc" ncxtc0" Ug"hc¦kc" gtc"
vender. Na época, a proprietária recebeu
vcpvc"tgpfc"swg" p«q"ug"kpvgtguuqw" pgo"
de comprar o legume das pessoas. Hoje,
gw"eqpjg›q"owkvc"igpvg"swg"p«q"vgo"wo"
caroço de nada. (Informação verbal)
9
.
C" pcttcvkxc" crqpvc" rctc" fqku" hcvqtgu" swg"
podem ter relação direta com a situação de “fartura”
fc"f‌irqec0" Q"rtkogktq" f‌i"swg" c"ƒtgc" fc"rtqrtkgfcfg"
era pouco explorada e não havia muitas famílias nela
morando, tornando-se grande a opção de escolhas
para o cultivo da
u"tq›cu0"Q"ugiwpfq."fk¦" tgurgkvq""
o«q"fg"qdtc"hcoknkct."swg"gtc"ukipkÝecvkxc."fgpqvcpfq"
swg." eqoq" c" ockqtkc" fcu" hconkcu" gtc" pwogtquc."
podia-se contar, desde cedo, com a participação
fqu" Ýnjqu." pcu" gvcrcu" fg" ewnvkxq" fcu" tq›cu." q" swg"
aumentava a capacidade familiar da ampliação da
área de cultivo. No entanto, a estiagem de 1983 teve
forte interferência na vida das famílias, obrigadas a
enfrentar o período de seca.
Q" hgp»ogpq" fc" guvkcigo" vtc¦" rtqdngocu."
eqoq" c" hcnvc" fg" cnkogpvq" rctc" cu" hconkcu." lƒ" swg"
as roças são consideradas os meios de sustento
ocku"ukipkÝecvkxqu0"Qu"cpqu"fg"ugec"kpvgthgtktco"cvf‌i"
pcu" cvkxkfcfgu" tgcnk¦cfcu" pcu" xc¦cpvgu
10
, como o
ewnvkxq"fg"hgkl«q0" ¡" swg"ejqxgpfq" rqweq." cu"ƒtgcu"
do “baixo”, próximas aos morros e às lagoas, não
cewownco" ƒiwc" uwÝekgpvg" rctc" ictcpvkt/njgu" q"
rncpvkq."tguvcpfq." eqoq"cnvgtpcvkxc."c" kpvgpukÝec›«q"
fc"swgdtc"fq"eqeq"g"c"okitc›«q"vgorqtƒtkc"fqu"rcku"
de famílias e jovens para outras regiões, em busca
de emprego. Assim, no período de estiagem, as
hconkcu"kpvgpukÝecxco" c"rguec." c"ec›c" g"c" swgdtc"
fq"eqeq." c"Ýo"fg" cuugiwtct"cu" eqpfk›gu"opkocu"
de alimentação.
As atividades apresentadas forma(ra)m o
conjunto das práticas culturais e econômicas da
rqrwnc›«q"rguswkucfc."go"uwc"tgnc›«q"fg"oqtcfkc."
no âmbito do Centro do Designo, embora em lógica
e importância diferenciadas, como é o cas
o do coco
dcdc›w."swg"ug"ocpvf‌io"eqoq"rtƒvkec"equvwogktc"fg"
produção para o consumo doméstico.
195
TRAJETÓRIA SOCIAL E CONSTRUÇÕES IDENTITÁRIAS DE MORADOR A ASSENTADO: a perspectiva dos
sujeitos
R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 191-201, jan./jun. 2012
5
OGO
ïT
KCU" G" PC
TT
CVKXCU
moradores e as
relações de patronagem-dependência
As relações sociais de patronagem-
dependência, na propriedade Centro do Designo,
têm a marca do processo instaurado na história do
swg" Tkdgktq" *3;;7+" fgÝpg" eqoq" Dtcukn" ugtvcpglq0"
No Piauí, as diferentes conjunturas sociopolíticas
g" geqp»okecu" hqtco" fgÝpkfqtcu" fg" tgnc›gu" gpvtg"
swgo" rtqfw¦" c" tkswg¦c" *q" vtcdcnjcfqt."q" oqtcfqt+"
g" swgo" vgo" qu" ogkqu" fg" rtqfw›«q" *q" rtqrtkgvƒtkq"
de terra). Essas relações foram construídas ao
longo dos anos, com base em contratos verbais e
fgÝpkfqtgu"fcu" tgitcu" swg" ektewpuetgxgtco" c" xkfc"
dos moradores nas propriedades.
O Centro do Designo tem uma história com
guuc" octec0" Pc" f‌irqec." swcpfq" hconkcu" hqtco/ug"
estabelecendo, o lugar de morada e a submissão
às regras do proprietário lhes pareciam algo muito
pcvwtcn." oguoq" rqtswg" c" swguv«q" ockqt" g" ocku"
importante era encontrar, na terra, as condições
para a sua reprodução social. Nesse contexto,
tais regras eram impostas, no Centro do Designo,
vcpvq"rgnq"rtqrtkgvƒtkq" swcpvq"rgnq"cttgpfcvƒtkq"fqu"
eqecku."ugpfq" swg" c" rtkpekrcn" gtc" q" rcicogpvq" fc"
tgpfc"fc"rtqfw›«q"citeqnc"g"fc"eqogtekcnk¦c›«q"fq"
coco babaçu.
Para o cumprimento da primeira, as famílias
relacionavam-se com o proprietário através dos
igtgpvgu." swg" vkpjco" eqoq" hwp›«q" eqpvtqnct" q"
rncpvkq." gurgekcnogpvg" q" swcpvkvcvkxq" fc" rtqfw›«q"
(a base de cálculo da renda), e recolhê-la, no
tghgtgpvg"tgpfc."fgrqku"fc"eqnjgkvc0" Pq"swg"vcpig""
eqogtekcnk¦c›«q."c"tgnc›«q"ug"fcxc"fktgvcogpvg"eqo"
q"cttgpfcvƒtkq"fq"dcdc›wcn."swg"fgÝpkc" ugw"rtg›q"g"
nqecn"fg"tgcnk¦c›«q0"
Narrativas da população local enunciam
swg" cu" ogpekqpcfcu" eqpfk›gu" fg" uwlgk›«q" p«q"
korgfktco"swg"c"rtqrtkgfcfg"eqpvkpwcuug"ecfc" xg¦"
mais atraindo famílias para o estabelecimento de
suas moradias. A relação das famílias com a terra se
dava através da prática extrativista do coco babaçu
e do cultivo das roças de capoeiras:
C"igpvg"vkpjc"owkvc"fkÝewnfcfg0"C"igpvg"
xkxkc" fg" swgdtct" q" eqeq" rctc" eqortct"
qu" cnkogpvqu" swg" c" tq›c" p«q" fcxc0" C"
eqpfk›«q" gtc" rcict" woc" rctvg" fcswknq"
swg"gtc"rtqfw¦kfq"pq"Ýpcn"fg" ecfc"cpq0"
Ou a gente pagava ou então era sujeito
à disciplina. A dona da propriedade tinha
wo"eqof‌itekq"pc"ƒtgc"swg"gtc"cdcuvgekfq"
fg"vwfq" g"p„u" ckpfc"vkpjc" swg"eqortct"
lá outros produtos com venda do coco,
swg" rqfkc" ugt" xgpfkfq" uqogpvg" pq"
lugar. A gente não tinha opção, o pouco
swg" rtqfw¦kc" ckpfc" vkpjc" swg" fct" woc"
parte para poder continuar na terra.
(Informação verbal)
11
.
C"pcttcvkxc"kpfkec"swg."fwtcpvg"owkvqu"cpqu."c"
rtqfw›«q"citeqnc"hqk"ukipkÝecvkxc0"Fg"hcvq." ugiwpfq"
narradores, o proprietário enchia os espaços de
fwcu" itcpfgu" ecucu" pc" rtqrtkgfcfg" eqo" cttq¦" g"
milho, como resultado da renda paga. Ressalte-se
swg" c" korqtv¤pekc" geqp»okec" fq" eqeq" dcdc›w" u„"
ocorreu no período de instalação e funcionamento
da agroindústria Gervásio Costa S/A – Comércio,
Indústria e Agropecuária. Aliás, D. P. S., 48 anos,
ngodtc" swg." cnf‌io" fq" rcicogpvq" fc" tgpfc" eqo"
a produção, as famílias não tinham a liberdade
fg" eqogtekcnk¦ct" q" gzegfgpvg" eqnjkfq" hqtc" fc"
propriedade:
Nessa época, [...] a gente não pagava
a renda para o dono da terra, mas era
presa toda produção nossa de legume,
de babaçu. A gente não tinha o direito de
vktct"wo"swknq"fg"ngiwog"rctc"xgpfgt"hqtc"
rqtswg"c"igpvg"gtc" ejcocfc"fg"ncft«q0"
Se fosse pego com a carga de legume
vendendo fora, a gente era presa. Era
obrigado a vender [na propriedade] por
swcnswgt" rtg›q" swg" gngu" swkuguugo0"
(Informação verbal)
12. 13
Como o Assentamento Centro do Designo é
uma área predominantemente de babaçual, o coco
hqk" q" itcpfg" fguvcswg" pcu" pcttcvkxcu" fcu" hconkcu"
cuugpvcfcu0" Xcng" c" tghgt‒pekc" cq" hcvq" fg" swg" q"
extrativismo do coco babaçu, no início do século XX,
vgxg"wo"ukipkÝecfq" korqtvcpvg"rctc"c" geqpqokc"fq"
Rkcw" g" swg" q" Egpvtq" fq" Fgukipq" ug" kpugtg" pguug"
eqpvgzvq."woc" xg¦"swg"ukvwcfq" pc"ƒtgc" fqu"eqecku0"
Na verdade, o mencionado processo de extração
deu-se com a participação de contingentes de
rguuqcu" swg" oqtcxco" pcu" itcpfgu" rtqrtkgfcfgu."
na condição mesma de moradoras, ou nos seus
interstícios.
Nesse sentido, Porto (1974, p. 131) descreveu
diferentes situações das famílias do início do século
ZZ" swg" xkxkco" pcu" tgikgu" fg" eqecku." go" owkvq"
rctgekfcu" eqo" cu" fg" jqlg." swg" ug" ocpv‒o" eqo" q"
trabalho do extrativismo:
Qu" ejcocfqu" swgdtcfqtgu" fg" eqeq"
moram em palhoças nas clareiras dos
babaçuais, onde levam vida miserável,
ugo" swcnswgt" gurf‌iekg" fg" cuukuv‒pekc0"
Raramente comem carne, alimentando-
ug."go" igtcn." fg" hgkl«q." cttq¦" g" hctkpjc"
obtida do babaçu.
Na época, a “apanha” do coco cabia aos
jqogpu." gpswcpvq" c" ÐswgdtcÑ." u" ownjgtgu" g"
crianças. A participação dos homens, nessas
atividades, não se constituía como trabalho contínuo,
rquvq"swg"vkpjco."eqoq"egpvtcnkfcfg"fg"ugw"vtcdcnjq."
a agricultura. Já a produtividade diária, para cada
wo" fqu" ugiogpvqu" gpxqnxkfqu" pc" swgdtc." gtc" fg"
fq¦g." fg¦" g" vt‒u" swknqu" fg" eqeq." tgurgevkxcogpvg0"
(PORTO, 1974).
196
Conceição de Maria Sousa Batista Costa
R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 191-201, jan./jun. 2012
Qwvtq"kpuvtwogpvq" swg"tghqt›cxc" cu" tgnc›gu"
de poder entre proprietários nas áreas de babaçuais
g"swgdtcfqtgu."gtc"q"Ðdcttce«qÑ."swg"ug"eqpÝiwtcxc"
como um espaço de venda ou de troca do coco por
gêneros alimentícios:
Q" swgdtcfqt" swg" xgpfg" q" ugw" eqeq"
c" vt‒u" etw¦gktqu" q" swknq." rqt" gzgornq."
f‌i" hqt›cfq" c" eqortct" wo" etw¦gktq" g"
ekps¯gpvc" egpvcxqu" pq" dcttce«q." ewlqu"
preços são bastantes elevados. O
caboclo devolve, assim, o aluguel não
cobrado pela suposta generosidade.
(PORTO, 1974, p. 132).
No caso do Centro do Designo, os moradores
eram obrigados a vender o coco na própria
rtqrtkgfcfg0" G." fgxkfq" " itcpfg" swcpvkfcfg." q"
cttgpfcvƒtkq"kpvgpukÝecxc"c" Ýuecnk¦c›«q"u"hconkcu."
rtqkdkpfq"c"eqogtekcnk¦c›«q"gzvgtkqt"c"gnc0"Cfgocku."
Ðfq"eqeq"gtc"rtqkdkfq"vktct"wo"swknq"rctc"hqtcÑ."fk¦"C0"
J. E.:
Q" oqtcfqt" vkpjc" gtc" swg" xgpfgt" rctc"
eles [arrendatário dos cocais]. Eles
eqpvkpwcxco"ugiwtcpfq" ecfc"xg¦" ocku"
q" rqxq0" Nƒ" gngu" kpxgpvctco" woc" Ýejc"
swg" gtc" fg" rnƒuvkeq0" Pcu" equvcu" fc"
Ýejc"vkpjc"wo" hgttq"fq"Igtxƒukq" Equvc."
o mesmo do gado. Do outro lado tinha
q" xcnqt0"Ecfc" xcnqt" vkpjc" woc" Ýejc" fg"
eqt"fkhgtgpvg0"Guuc"Ýejc"u„"gngu"rqfkco"
receber [...]. Você ia para comércio
na cidade de Miguel Alves ninguém
tgegdkc"guuc"Ýejc"]000̲0"Éu"xg¦gu"c"igpvg"
ocvcxc"woc"etkc›«q." swcpfq"vgtokpcxc"
de vender, a gente estava com o bolso
ejgkq" fcu" Ýejcu0" Cu" rguuqcu" xkpjco"
eqortct"c" ectpg" eqo"cu" Ýejcu"rqtswg"
na propriedade valia como dinheiro.
(Informação verbal)
14
.
Fg"hcvq." c" oqgfc"fgÝpkfc" rgnq" cttgpfcvƒtkq."
rctc" q" eqof‌itekq" fq" eqeq." cÝtocxc/ug" eqoq" ocku"
um instrumento de reforço do grau de submissão
fcu"hconkcu."jclc" xkuvc" swg"gnc" u„" vkpjc" cegkvc›«q"
ou no interior do Centro do Designo ou na localidade
Novo Nilo, de propriedade do arrendatário. Mesmo
swg" fguglcuugo" cfswktkt" rtqfwvqu" fg" rtkogktc"
necessidade noutros comércios, com preços
fkhgtgpekcfqu."p«q"vkpjco"guuc"nkdgtfcfg"rqtswg"eqo"
a venda da produção de coco, não havia pagamento
em dinheiro. Assim, as famílias trocavam o coco por
outros produtos, em condição desigual, ou recebiam
o vale para negociar posteriormente.
Eqo"tgnc›«q"cq"eqeq."c"igpvg"swgdtcxc"
g" p«q" gzkuvkc" cswgnc"jkuv„tkc" fg" ugt" u„"
mulher. Eram homens e mulheres.
Quando terminava o serviço da roça, a
ecrkpc." swg" gtc" c" ¿nvkoc" swg" ug" fgkzc"
para a colheita, a gente não parava,
kc"swgdtct" q"eqeq." clwfct" c"ownjgt0"Pc"
f‌irqec"fq"eqeq"c"igpvg"cejcxc"swg"vkpjc"
valor. Dava para se comprar carne para
ug" eqogt." q" echf‌i." q" c›¿ect." gpÝo." c"
okwfg¦c"fg"ecuc0"P«q"ugk"ug"gtc"q"eqeq"
swg" gtc" ocku" qw" ug" gtc" q" i‒pgtq" swg"
gtc"dctcvq0" Ocu" q"eqeq" pcswgnc"f‌irqec"
facilitava e tinha muito e se escolhia
rctc" swgdtct0"]000̲0" Q" rcvt«q" gzkikc" swg"
todo mundo vendesse só para ele. E
q" rtg›q" fcswk" fg" fgpvtq"gtc" ogpqt" fq"
swg"fg" hqtc0" Ug"gng" rgicuug" c"rguuqc"
vendendo fora chamava atenção e
ameaçava cadeia. Não sei se ele
prendeu alguém, mas ameaçava. O
kpvgtguug" swg" vkpjc" rgnq" eqeq" rqtswg"
sua produção era maior e ele tirava um
nwetq"ockqt"rqtswg"pc"f‌irqec"vkpjc"owkvq"
coco. (Informação verbal)
15
.
De fato, essa fala expressa a memória da
hconkc"swg"Ðoguoq" swg" ug"vtcpuhqtog." tgvf‌io." go"
itcpfg" rctvg." cniq" swg" f‌i" eqowo." cniq" fq" itwrqÑ0"
(TEDESCO, 2002, p. 49). Na verdade, a reprodução
física e social das famílias em função do extrativismo
do coco babaçu foi extensiva a todas, tendo como
o«q"fg"qdtc"rtkpekrcn"c"hgokpkpc"Î"o«g"g"Ýnjcu0"Pq"
cotidiano, essas mulheres, sobretudo as donas de
casa, ocupavam em média seis horas por dia na
atividade. Saíam para o babaçual de segunda a
sexta-feira, às 9 horas, deixando o almoço já pronto,
tgvqtpcpfq"uqogpvg" u"38." eqo"ekpeq" c"fg¦" swknqu"
fg"eqequ"swgdtcfqu"g."eqo"c"uwc"xgpfc." cfswktkco"
qwvtqu"rtqfwvqu."fg"swg"pgeguukvcxco0"Jqlg."fgxkfq"
" guecuug¦" fq" eqeq." cu" ownjgtgu" p«q" ug" v‒o"
ocupado tanto tempo assim, mas ainda se trata
de uma atividade praticada por elas com a mesma
Ýpcnkfcfg"fg"cpvgu0
Segundo Forman (1979), essa situação
é característica das relações de patronagem-
dependência, com diferentes benefícios para
cu" rctvgu0" Q" rtqrtkgvƒtkq" oczkok¦c" qu" icpjqu"
econômicos e políticos e o dependente, os
oqtcfqtgu."rqvgpekcnk¦c"c" ugiwtcp›c."fg"uqtvg"swg."
na relação, cada um estabelece estratégias para
alcançar os próprios objetivos.
Mas, como já se viu, além das formas de
sujeição mencionadas, havia ainda a obrigatoriedade
fg"cdcuvgegt/ug"eqo"q"rtqrtkgvƒtkq."swg"eqnqecxc"pqu"
rqpvqu"fg"eqogtekcnk¦c›«q"fq"dcdc›w."uqtvkogpvq"fg"
mantimentos básicos para alimentação, vestuário,
medicamentos, utensílios domésticos e outros,
forçando os moradores a suprir as necessidades a
wo"ewuvq"ocku" gngxcfq"swg"q"rtcvkecfq"pc"ugfg"fq"
município.
Se, com efeito, a atividade agrícola e o
extrativismo do coco babaçu eram economicamente
importantes, não eram os únicos; havia a pesca, de
grande importância para as famílias, e desenvolvida,
rtkpekrcnogpvg."rgncu" swg" oqtco."jƒ" owkvqu" cpqu."
rt„zkocu" cq" tkq" Rctpcdc0" C" rguec" vkpjc" rgtÝn"
fkhgtgpekcfq."jclc"xkuvc"swg"p«q"jcxkc"c"gzki‒pekc"fg"
197
TRAJETÓRIA SOCIAL E CONSTRUÇÕES IDENTITÁRIAS DE MORADOR A ASSENTADO: a perspectiva dos
sujeitos
R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 191-201, jan./jun. 2012
renda ou forma outra de pagamento ou retribuição
cq"fqpq" fc"vgttc." rgnq"swg" rcuucxc"c" vgt"wo"xcnqt"
cvf‌i"ocku"ukipkÝecvkxq"rctc"c"geqpqokc"hcoknkct0"
Gw" vtcdcnjcxc" pq" ecorq." hc¦kc" okpjc"
tq›c." ocu" hwk" ognjqtcpfq" fgrqku" swg"
ingressei na pesca, baixei para dentro
do rio, com uma canoa e um engancho.
Aí tomei fôlego e criei coragem. As
coisas melhoraram, criei a família
pescando. Pescava e vendia na cidade
xk¦kpjc."Eqgnjq"Pgvq."Octcpj«q0"Fgrqku"
c" igpvg" xkw" swg" gtc" rgucfq" rguect" g"
vender. Passava a noite acordado e
pela manhã cedo ia vender o peixe e
chegava uma hora da tarde, com sono.
Aí nós contratamos um comprador de
rgkzg" swg" xkpjc" eqortct" rgnc" ocpj«"
bem cedo [...]. Meu ramo era pescar,
ocu" hc¦kc" wo" rgfc›q" fg" tq›c0" Pkuuq"
criei a família. (Informação verbal)
16
.
Rgtegdg/ug." pguuc" pcttcvkxc." q" swcpvq" c"
memória tem função importante na reconstrução do
rcuucfq0"Gnc"hc¦"cu"rguuqcu"*tg+xkxgtgo"pq"rtgugpvg"
fkhgtgpvgu"ukvwc›gu." swg"f«q" Ðfkpcokekfcfg"" xkfc"
social e individual”. (TEDESCO, 2002, p. 55).
4
JOGANDO O JOGO DAS IDENTIDADES
UQEKQEWNVW
T
CKU
assentados - de identidades
atribuídas a novos sujeitos na arena pública
Observou-se, no decorrer da análise da
trajetória das famílias, sem embargo da singularidade
fcu"gzrgtk‒pekcu" fg"ecfc" woc."swg"cu" rtƒvkecu"fq"
eqvkfkcpq."ocvgtkcnk¦cfcu" pcu" tgnc›gu"fg" vtcdcnjq."
rctgpvgueq." nc¦gt." xk¦kpjcp›c." tguwnvctco" pc"
construção de identidades socioculturais. Nesse
sentido, vale retomar a contribuição teórica de
Ogpfgu"*4224+" swcpfq" hcnc"fcu"hqt›cu" egpvtrgvcu"
(necessidade de se ligar ao outro) e das centrífugas
(necessidade de diferenciar-se do outro).
Tomando-se como base o processo histórico
do Assentamento Centro do Designo, pode-se
cÝtoct" swg" c" ukvwc›«q" g" cu" eqpfk›gu" c" swg" cu"
famílias foram submetidas para permanecerem na
propriedade favoreceram a construção, por longas
décadas, das identidades de morador, levando à
formação de um grupo social com essas marcas
históricas. Assim, tais identidades, no Centro do
Designo, se consolidam e predominam, mas não
ug"eqpuvkvwgo"eqoq" ¿pkecu."rqtswg"cu"rguuqcu."pc"
dinâmica da convivência e na luta pela sobrevivência,
cecdco" eqpuvtwkpfq" qwvtcu" g" hc¦gpfq" gogtikt" cu"
diferenças. (SILVA, 2000).
Os elementos teóricos e históricos atribuídos à
categoria histórica morador, conectam-se à realidade
identitária das famílias do Cento do Designo, uma
xg¦"swg"hqtco"qu"oguoqu"rtqeguuqu"fg"eqpuvtw›«q"
das relações sociais, diferenciando-se, apenas, o
contexto histórico. Aliás, a própria necessidade (a
hcnvc"fg"vgttc"rctc"rtqfw¦kt"g"oqtct+"hqk"fgvgtokpcpvg"
no processo de construção das identidades sociais
de morador. Essa necessidade das famílias e as
condições de fertilidade da propriedade criaram, nas
pessoas, atitudes e práticas de aceitar as regras
impostas pelo dono tanto no nível das relações
uqekcku"fg"rtqfw›«q."swcpvq"pcu"fgocku"fkogpugu"
da vida cotidiana.
Mas, apesar da hegemonia das identidades
referidas, vigente por muitas décadas, existiam
espaços para a formação e ocupação de outros
rcrf‌iku"g"hwp›gu."swg"cu"rguuqcu"fgugorgpjcxco"
no dia a dia. Nesse sentido, destacam-se identidades
swg" u" jgigo»pkecu" uqoco/ug." eqoq." fgpvtg"
outras, as de professores, pescadores, agricultores,
trabalhadores rurais, lavradores, mulheres, jovens e
aposentados.
Tguucnvg/ug"swg." pq"rtqeguuq"fg"Ðqewrc›«qÑ"
da área, laços de parentesco representaram forte
gnq"gpvtg" cu"rguuqcu." eqo"wo" p¿ogtq"ukipkÝecvkxq"
de famílias, muitas delas numerosas, vivendo,
atualmente, a experiência de três gerações. Foram,
cuuko." kfgpvkÝecfqu" ugvg" vtqpequ" xgnjqu" pq" nqecn
ÐVgqvqpjq." Etkurko." Dcttquq." Engogpvg." Hgttgktc."
Tqnf«q"g"DgtpctfkpqÑ0"Eqoq"c"rtqrtkgfcfg"hqtocxc/
ug"c"rctvkt"fg"citwrcogpvqu"fg"hconkcu"go"rgswgpcu"
nqecnkfcfgu." pcu" swcku" rtgfqokpcxco" tgnc›gu" fg"
parentesco, acabou irradiada por toda a área a teia
fqu" ugvg" vtqpequ." ukvwc›«q" swg" vgxg" eqpvkpwkfcfg"
oguoq" fgrqku" fc" fgucrtqrtkc›«q0" ¡" swg." fgxkfq"
" korquk›«q" fq" Kpuvkvwvq" Pcekqpcn" fg" Eqnqpk¦c›«q"
e Reforma Agrária – INCRA (1996) de criar uma só
agrovila, formaram-se os aglomerados de casas
eqo"itwrqu"fg"hconkcu"eqo"cÝpkfcfgu"gpvtg"uk"g1qw"
consoante o grau de parentesco.
Nesse contexto dos agrupamentos de
famílias, a existência de outras identidades sociais,
crctgpvgogpvg." vkpjc" ogpqt" ukipkÝecfq." rctc" q"
itwrq."woc" xg¦"swg" qu"gpvtgxkuvcfqu" c"gncu" rqweq"
ug" tghgtktco0" Vcnxg¦" kuvq" ug" gzrnkswg" cvf‌i" rgnq" hcvq"
fg"swg" c"rt„rtkc" eqpuvkvwk›«q"fq" cuugpvcogpvq."cq"
imprimir uma nova realidade na vida das pessoas,
vgpjc"cfqvcfq."eqoq"rtf‌i/tgswkukvq"rtkpekrcn"rctc"ug"
tornar assentado, a condição de morador, embora
o processo de desapropriação haja se consolidado
eqo"tcrkfg¦"g"eqo"wo"pxgn"dckzq"fg"rctvkekrc›«q"g"
envolvimento das famílias ali estabelecidas.
Cu" ¿pkecu" fkÝewnfcfgu" swg" c" igpvg"
gpeqpvtqw"]000̲" hqk"c" swguv«q"fc" hcnvc"fg"
entendimento das pessoas em viver,
em se adaptarem a nova forma de viver
]000̲0"C"igpvg" ucdg" swg"vqfq" owpfq"gtc"
acostumado a morar cada um nos seus
núcleos [localidades], trabalhando à
uwc"ocpgktc."hc¦gpfq"fc"ocpgktc" eqoq"
eles [moradores] sabiam, onde eles
]oqtcfqtgu̲" swgtkco" g." fg" tgrgpvg."
swcpfq" ug" rcuuc" c" xkxgt" pc" ƒtgc" fg"
assentamento, a gente precisa de um
controle melhor das coisas. Já se tem a
198
Conceição de Maria Sousa Batista Costa
R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 191-201, jan./jun. 2012
swguv«q"fc"fkxku«q"fg"vgttcu."cequvwoct"
c"oqtct" go"xknc"c" igpvg"ucdg" swg"vwfq"
isso leva um certo tempo pra se adaptar,
mas, graças a Deus, tudo aconteceu
fgpvtq"fg"wo"enkoc."swg"gw"fktkc"swg."rgnq"
tamanho da comunidade, pelo costume
fcu" rguuqcu" swg" p«q" gtc" cequvwocfq"
a viver em assentamento, se vive
fgpvtq" fg" wo" enkoc" fg" vtcpswknkfcfg0"
(Informação verbal)
17
.
Eqoq" cÝtocfq" pc" pcttcvkxc." p«q" jqwxg"
eqpÞkvqu"pq"rtqeguuq"fg"fgucrtqrtkc›«q"swg"qeqttgw"
ugo" oqogpvqu" fg" tgukuv‒pekc" g" fg" qticpk¦c›«q"
das famílias para pressionar pela sua agilidade.
¡" swg." kpfgrgpfgpvgogpvg" fc" rctvkekrc›«q" fcu"
famílias, a desapropriação consolidou-se num
rtqeguuq" dcuvcpvg" tƒrkfq." ugo" swg" gncu" rt„rtkcu"
eqortggpfguugo" cu" tc¦gu" fguuc" egngtkfcfg0"
Algumas pessoas entrevistadas levantaram a
jkr„vgug" fc" tgcnk¦c›«q" fg" ceqtfqu" fg" eqortc" g"
venda entre o INCRA e a proprietária:
Eu cresci [...] trabalhando na lavoura,
ogwu"rcku"vcodf‌io."pc"swgdtc"fq"eqeq"g"
tendo a pesca como uma fonte também
de sobrevivência. De lá pra cá é essa luta
pc" vgpvcvkxc" fg" qticpk¦c›«q" fc" rt„rtkc"
eqowpkfcfg0" Hqk" c" swg" ug" ejgiqw"
nesse processo de desapropriação das
vgttcu." cvtcxf‌iu" fg" wo" rtqeguuq" swg" lƒ"
era encaminhado há muito tempo pela
própria proprietária da terra, segundo
q" swg" c" igpvg" qwxkw" fk¦gt." godqtc"
não tenho dados concretos, mas se
qwxkw" fk¦gt" swg" jcxkc" woc" pgiqekc›«q"
da proprietária com o Incra [INCRA].
(Informação verbal)
18
.
Efetivada a desapropriação, mais uma
identidade emerge no convívio dessa população.
Através de um ato administrativo, expresso no
decreto de desapropriação, as pessoas atingidas
passaram a ser nominadas de assentadas, sendo
necessária a materialidade das regras do ser
cuugpvcfq."cu"swcku"q"eqplwpvq"rtgekucxc"kpeqtrqtct0"
No entanto,
C" kpvgtkqtk¦c›«q" fc" pqxc" tgcnkfcfg"
pelos indivíduos, no processo de
tguuqekcnk¦c›«q" kpfw¦kfq" rgnc" pqxc"
situação denominado de assentamento,
p«q" ukipkÝectƒ" swg" gngu" kpvgpvkÝect/ug/
ão com ela. (CARVALHO, 1999, p. 36).
¡."gpv«q."pguug"eqpvgzvq."swg"ug"cÝtoc"swg"cu"
identidades de assentado são atribuídas e marcadas
rgnc"korngogpvc›«q"fg"woc"rqnvkec"fg"iqxgtpq"swg"
impôs regras e condições às famílias. Com efeito,
rctc"owkvcu"rguuqcu"q"ugpvkogpvq"swg"Ýeqw"hqk"q"fg"
mudança de proprietário, antes, representado por
uma pessoa física e, hoje, por uma jurídica – o INCRA.
[...] Quando era no tempo dos políticos
]f‌irqec" fg" gngk›«q̲" gngu" cpfcxc" cswk"
gpicpcpfq." fk¦gpfq" swg" kc" dqvct" nw¦."
água em todas as casas, a gente
Ýecxc" vwfq" cpkocfkpjq." ocu" u„" xgkq"
guucu"eqkucu" rtc"eƒ"fgrqku" swg"q" kpetc"
[INCRA] tomou de conta. Agora aí foi
força do incra, não foi deles [políticos]
não. (Informação verbal)
19
.
A narrativa acima pode estar vinculada à
hqtoc" rgnc" swcn" cu" hconkcu" gpxqnxgtco/ug" pq"
rtqeguuq." eqpvtkdwkpfq" rctc" swg" q" KPETC" vkxguug"
woc"rctvkekrc›«q"ocku"ghgvkxc"swg"gncu."godqtc."go"
cniwpu"oqogpvqu."jclc"qeqttkfq"c"oqdknk¦c›«q"rctc"
cu"tgwpkgu"fg"fgnkdgtc›«q"fg"swguvgu"korqtvcpvgu"
ao assentamento, como, por exemplo, a criação da
associação e o local de construção da agrovila.
A trajetória de moradores a assentados foi,
de fato, marcada pela forte mediação do INCRA
e, devido à inexperiência das lideranças no
gerenciamento das ações coletivas, estas estiveram,
pc"ockqtkc"fcu" xg¦gu."cvgpfgpfq."ugo" swguvkqpct."
u"fgocpfcu"fq"Kpuvkvwvq0"Rqtf‌io"qu"eqpÞkvqu"gtco."
internamente, evidenciados entre os assentados,
especialmente em função de as ações demandadas
serem predominantemente de caráter coletivo e as
famílias não terem tido o tempo necessário para
eqpuvtwkt"g"cuukoknct"pqxqu"xcnqtgu"vtc¦kfqu"rqt"guug"
tipo de experiência. Nesse sentido, as reações e as
resistências de parte das famílias, durante as etapas
de implantação do assentamento, podem parecer
reforço a sentimentos de rejeição a mudanças
nas relações de patronagem-dependência,
historicamente construídas por longas décadas e,
por isso mesmo, mais difíceis de serem rompidas.
[...] Essa mudança foi radical. Ela foi em
função de um número muito grande de
hconkcu0"Enctq"swg"p«q"jqwxg"nwvc."c"ƒtgc"
foi desapropriada sem luta, contrário do
swg" c" igpvg" x‒" pqwvtqu" nwictgu." eqo"
brigas, derramamento de muito sangue,
em troca de um pedaço de terra. Uma
owfcp›c" swg" c" igpvg" hqk" eqpuvtwkpfq"
mediante a ideia de todos, pegando
kfgkcu"fcswk." fcnk."xck"vgpvcpfq" xgt"swcn"
é a melhor. (Informação verbal)
20
.
Com efeito, houve descompasso entre
os ritmos do processo de desapropriação e os
fq" gpvgpfkogpvq" fq" swg" ukipkÝecxc" c" owfcp›c."
fortalecida pelo histórico das famílias como
fg" oqtcfqtcu." korquukdknkvcfcu" fg" swguvkqpct."
cabendo-lhes apenas obedecer ao proprietário das
vgttcu0" Cnf‌io" fkuuq." cswgnc" rqrwnc›«q" xkxkc" egtvq"
isolamento e ocupava grande parte do tempo com
q"vtcdcnjq."ugo"rctvkekrct"fg"hqtocu"fg"qticpk¦c›«q"
swg" njg" hqtpgeguug" ecrkvcn" fg" rctvkekrc›«q" rqnvkec"
no processo de instituição do assentamento, à
gzeg›«q"fq" eqpvcvq"swg" cniwocu"fgncu" ocpvkpjco
com o Sindicato de Trabalhadores Rurais do
199
TRAJETÓRIA SOCIAL E CONSTRUÇÕES IDENTITÁRIAS DE MORADOR A ASSENTADO: a perspectiva dos
sujeitos
R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 191-201, jan./jun. 2012
município, basicamente para o acesso ao benefício
da aposentadoria.
Na oportunidade de contar com os créditos
de implantação, emergiu, por exemplo, muito
hqtvgogpvg." wo" ugpvkogpvq" kpfkxkfwcnkuvc" swg"
contrariava os “princípios e valores da vida em
grupo”, como propunha o projeto de assentamento.
O embate de interesses individuais e coletivos entre
cu"hconkcu" gtc" rqpvq" fg" eqpÞkvqu" g." owkvcu" xg¦gu."
gpeqpvtct"q"gswkndtkq"eqpuvkvwc"wo"itcpfg"fgucÝq
O processo, porém, consolidou-se e deixou
marcas. Para os assentados, o mais importante
hqtco"cu" owfcp›cu"swg" jqlg"v‒o" q"cuugpvcogpvq."
proporcionando o acesso a certos bens e serviços
públicos, como, dentre outros, moradia, água,
energia, educação e saúde.
Sob todos esses aspectos, as identidades
de assentados, na realidade do Centro do Designo,
se manifesta hoje fortemente no imaginário das
rguuqcu" g." godqtc" cvtkdwfcu." lƒ" hc¦go" rctvg" fg"
uwcu" jkuv„tkcu0" Kuvq" ug" fgxg" cq" rtqeguuq" pq" swcn."
ugiwpfq"Yqqfyctf" *4222+."qu" uwlgkvqu"kpeqtrqtco"
a identidade atribuída de forma inconsciente,
assumindo-a. De fato, foram interpelados por ela,
swguvkqpcpfq." cuuko." c" rgturgevkxc" wpkncvgtcn" fg"
Carvalho (1999).
Ucdg/ug." ugo" f¿xkfc." swg" q" rtqeguuq"
dwtqetƒvkeq" fc" oƒswkpc" guvcvcn" korg" tgitcu0" Pq"
caso em análise, trata-se do cadastro no Sistema
de Informações dos Projetos da Reforma Agrária
/UKRTC." swg" ukipkÝec" rctc" c" dwtqetcekc" guvcvcn"
apenas isso, não a atribuição de uma identidade
c"swgo" lƒ" rqtvc"qwvtcu." fgueqpukfgtcpfq."gpv«q." c"
necessidade de discutir com os sujeitos diretamente
gpxqnxkfqu0" P«q" ug" rqfg." rqtf‌io." guswgegt" swg."
para estes, a dimensão da subjetividade.
(WOODWARD, 2000).
Nesse sentido, as identidades de assentado
são concretas e têm registro único e pessoal, em
dimensão nacional. Por outro lado, através deste
registro, o governo controla as pessoas diretamente
cvgpfkfcu"rgnq"rtqitcoc"fg"Ðtghqtoc"citƒtkcÑ."q"swg"
se compreende necessário para evitar o envolvimento
em mais de um assentamento. O nome no cadastro
f‌i." cuuko." swcug" fgÝpkvkxq." rqtswg" gpswcpvq" p«q"
for expedido o documento individual da posse ou
o assentado não pagar o recurso correspondente
cqu" kpxguvkogpvqu" tgcnk¦cfqu." rgtocpgegtƒ" gng" pq"
registro do SIPRA.
Ocu" q" swg" rctc" c" dwtqetcekc" g" q" eqpvtqng"
estatais é apenas um registro ou denominação
swg" fgukipc" woc" ecvgiqtkc" fg" wo" rtqitcoc."
para homens e mulheres do Centro do Designo,
u«q" pqxcu" kfgpvkfcfgu." swg" njgu" eqphgtgo" wo"
pqxq" nwict" pc" tgfg" fg" tgnc›gu" swg" guvcdgngego"
nas igualdades e alteridades do mundo social,
permeando suas estratégias de reprodução social,
ugpvkfqu" fg" xkfc" g" kvkpgtƒtkqu" g" rtqlgvqu0" Fc" swg"
o processo de transição vivido pelas pessoas e
famílias deu conta de construir espaços e situações
go" swg" cu" kfgpvkfcfgu" fg" cuugpvcfqu" rcuuctco"
a ser importantes e, em determinados momentos,
estratégicas (CUCHE, 2002) no estabelecimento de
novas relações institucionais.
Exemplo disso foram as negociações junto
ao poder público municipal na área de educação
e saúde. Na educação, houve a construção de
prédios escolares e a ampliação de séries do ensino
hwpfcogpvcn."gpswcpvq."pc"uc¿fg"fgw/ug"c"cornkc›«q"
do número de agentes comunitários, condicionados
a ser do próprio assentamento. Na verdade,
rgtegdgw/ug" swg." pc" eqpfk›«q" fg" cuugpvcfqu." cu"
lideranças representativas das famílias passaram
a ser reconheci
das e respeitadas no âmbito da
gestão municipal, por outros poderes constituídos
no município e no entorno do assentamento.
Ukvwc›gu" eqoq" guuc" x‒o." rqku." octect" swg" vcku"
identidades se revestiram de uma prática também
rqnvkec."oguoq"swg" cu"hconkcu"fkuuq"p«q" vkxguugo"
plena consciência. No entanto, na prática, não se
rqfg"kocikpct" swg"q" rt„rtkq"ghgkvq" fc" tgrgtewuu«q"
pública das identidades de assentados ressoe entre
os próprios sujeitos assim denominados no sentido
de uma interpelação de subjetividades.
5
CONCLUSÃO
Pc" vtclgv„tkc" fcu" hconkcu" swg" uctco" fc"
condição de moradoras para a de assentadas da
Ðtghqtoc" citƒtkcÑ." vgpvqw/ug" oquvtct" swg" c" oguoc"
p«q"f‌i"nkpgct"rqtswg"qu"ceqpvgekogpvqu"fc"tgcnkfcfg"
analisada não aconteceram nem em série nem em
sucessão, sendo construídos por diferentes sujeitos
sociais em diferentes épocas. Dessa feita, tomou-
se a categoria geração não no aspecto biológico
ou cronológico, mas a partir das experiências de
vida processadas pelas famílias tanto na condição
fg" oqtcfqtcu." swcpvq" pc" fg" cuugpvcfcu." q" swg"
foi fundamental para a compreensão das relações
sociais tecidas no decorrer dos anos e dos
ukipkÝecfqu"swg"rtqfw¦ktco"go"ecfc"eqpvgzvq0"
Memórias e narrativas foram ferramentas
ogvqfqn„ikecu"korqtvcpvgu"rctc"swg"ug" gpvgpfguug"
a realidade presente a partir da construção do
passado das famílias e do lugar, Centro do Designo.
A análise trabalhou com o conceito de patronagem-
fgrgpf‒pekc" *HQTOCP." 3;9;+" swg" clwfqw" pc"
eqortggpu«q"fg"eqorqtvcogpvqu"g"cvkvwfgu"swg"cu"
famílias moradoras tiveram ao longo de décadas,
eqo"q" rtqrtkgvƒtkq"g" oqtcfqtgu"oczkok¦cpfq" ugwu"
ganhos e agindo estrategicamente para o alcance
fg"ugwu"kpvgtguugu0"Cnkƒu."pc"vtclgv„tkc"fguetkvc."Ýeqw"
gxkfgpekcfq"swg"c"oqtcfc"g"c"vgttc"rctc"rncpvct"g"fgnc"
retirar o sustento foram componentes tão centrais
pc" xkfc" fcu" hconkcu." swg" cu" tgitcu" korquvcu" rgnq"
rtqrtkgvƒtkq."swg" ug" vtcpuhqtocxco" go" rtƒvkecu" fg"
submissão, foram incorporadas como algo natural,
passando a ser parte do cotidiano, marcado sim
pel
cu"fkÝewnfcfgu." ocu"oqxkfq" rgnq"ugpvkogpvq"fg"
200
Conceição de Maria Sousa Batista Costa
R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 191-201, jan./jun. 2012
esperança de vencê-las e vivenciar dias melhores.
No cenário brasileiro, a categoria assentado
emergiu a partir da metade da década de 1980,
com a intervenção do governo federal no sentido
de responder aos problemas ligados à luta pela
vgttc." gphtgpvcfqu" rgncu" fkhgtgpvgu" qticpk¦c›gu"
de trabalhadores. É na verdade, assentado, uma
denominação atribuída pela própria política de
iqxgtpq." eqoq" q" gurgeÝeq" rtqitcoc" fg" Ðtghqtoc"
agrária”, implementado desde a “Nova República”.
Uwdnkpjg/ug" swg" cu" c›gu" fg" iqxgtpq" rctc"
implantar os assentamentos não foram uma vontade
deliberada e inscrita na agenda governamental como
tgurquvcu"cqu"rtqdngocu"nkicfqu""swguv«q" citƒtkc."
mas fruto da pressão dos movimentos sociais do
campo através da estratégia de ocupação de terras.
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NOTAS
1
O Centro do Designo foi desapropriado pelo Instituto
Pcekqpcn"fg"Eqnqpk¦c›«q"g"Tghqtoc"Citƒtkc"Î"KPETC"
e transformado em assentamento em 1996. O referido
assentamento não é um fruto de um movimento
de ocupação, nos moldes das experiências do
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST,
rqtswg" cu" hconkcu" lƒ" xkxkco" pc" ƒtgc." jƒ" ff‌iecfcu."
como agregadas/moradores.
2
Trata-se de localidades com limites com a propriedade.
201
TRAJETÓRIA SOCIAL E CONSTRUÇÕES IDENTITÁRIAS DE MORADOR A ASSENTADO: a perspectiva dos
sujeitos
R. Pol. Públ., São Luís, v.16, n.1, p. 191-201, jan./jun. 2012
5
F0"C0"C0"Gpvtgxkuvc"c"E0"O0"U0"D0"Equvc0"Cuugpvcogpvq"
Centro do Designo, 7/nov./2004.
6
F0"C0"O0"Gpvtgxkuvc"c"E0"O0"U0"D0"Equvc0"Cuugpvcogpvq"
Centro do
Designo, 6/nov./2004.
7
H0"U0"E0"Gpvtgxkuvc"c"E0"O0"U0"D0"Equvc0"Cuugpvcogpvq"
Centro do Designo, 21/nov./2004.
8
Tgikuvtq"Igtcn"fg"Vgttcu"fg"3;26."Ctswkxq"R¿dnkeq"fq"
Piauí.
9
J0"E0"U0"Gpvtgxkuvc"c"E0"O0"U0"D0"Equvc0"Cuugpvcogpvq"
Centro do Designo, 7/nov./2004.
8
Conforme os narradores, as capoeiras são áreas onde
lƒ"hqtco" tgcnk¦cfqu"rncpvkqu" fg"ewnvwtcu" fg"ugswgktq."
costumeiramente resguardadas para pousio, isto é, o
descanso de, em média, 5 a 8 anos, tempo tido como
pgeguuƒtkq" rctc" c" vgttc" ug" tgeqorqt" g" cfswktkt" qu"
pwvtkgpvgu"fg"swg"pgeguukvc"pc"rtqfw›«q"fg"cnkogpvqu0""
;
L0"H0"N0"Gpvtgxkuvc"c"E0"O0" U0"D0"Equvc0"Cuugpvcogpvq"
Centro do Designo, 20/ mar./2004.
32
¡"korqtvcpvg"tgikuvtct"swg."fgxkfq""gzkuv‒pekc"fguucu"
áreas, as famílias têm duas safras por ano, uma por
ocasião do “inverno” e a outra, do verão. Nesta, as
áreas começam a ser preparadas em julho, sobretudo
eqo"c"ewnvwtc"fq"hgkl«q."swg"vgo"woc"rtqfw›«q"ockqt"
no verão.
33
O0"L0"L0"E0"Gpvtgxkuvc"c"E0"O0"U0"D0"Equvc0"Cuugpvcogpvq"
Centro do Designo, 20/mar./2004.
34
F0"R0"U0"Gpvtgxkuvc"c"E0"O0"U0"D0"Equvc0"Cuugpvcogpvq"
Centro do Designo, 7/nov./2004.
35
¡"korqtvcpvg"fguvcect"swg"cu" tgnc›gu"fg"uwdokuu«q"
vivenciadas pelas famílias durante o processo
de sobrevivência e reprodução social estão
compreendidas dentro do contexto de patronagem-
fgrgpf‒pekc" swg." ugiwpfq" Hqtocp" *3;9;+." u«q"
alimentadas por um conjunto de proposições ligadas
à submissão, à autoridade e à
obrigação exercidas
sobre os camponeses.
36
C0"L0"N0"U0"Gpvtgxkuvc"c"E0"O0"U0"D0"Equvc0"Cuugpvcogpvq"
Centro do Desi
gno, 6/ nov./2004.
37
X0"R0"T0" Gpvtgxkuvc"c"E0"O0"U0"D0"Equvc0"Cuugpvcogpvq"
Centro do Designo, 21/mar./2004.
38
C0"T0"U0"Gpvtgxkuvc"c"E0"O0"U0"D0"Equvc0"Cuugpvcogpvq"
Egpvtq"fq"Fgukipq."341fg¦0142260
39
H0"T0"C0"Gpvtgxkuvc"c"E0"O0"U0"D0"Equvc0"Cuugpvcogpvq"
Egpvtq"fq"Fgukipq."341fg¦0142260
3:
H0"T0"U0"Gpvtgxkuvc"c"E0"O0"U0"D0"Equvc0"Cuugpvcogpvq"
Egpvtq"fq"Fgukipq."341fg¦0142260
3;
X0"C0"N0"Gpvtgxkuvc"c"E0"O0"U0"D0"Equvc0"Cuugpvcogpvq"
Centro do Designo, 6/nov./2004.
42
K0"R0"C0"Gpvtgxkuvc"c"E0"O0" U0"D0"Equvc0"Cuugpvcogpvq"
Centro do Designo, 21/nov./2004.
Conceição de Maria Sousa Batista Costa
Assistente Social
Mestre em Políticas Públicas pela Universidade Federal
do Piauí - UFPI
Professora da Faculdade Santo Agostinho - FSA e
Assistente Social da Secretaria da Assistência Social e
Cidadania e
E-mail: ceica_batista28@yahoo.com.br
conceica_batista28@hotmail.com
Faculdade Santo Agostinho - FSA
Av. Valter Alencar, 665 - São Pedro
Teresina - PI –
CEP: 64.019-625

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