Governança e Inovação em Redes Industriais: um estudo do setor produtivo de bolsas e calçados

AutorSimone Tiêssa de Jesus Alves, Carlos Alberto Gonçalves, Daniel Jardim Pardini
Páginas11-26
Artigo recebido em: 10/04/2013
Aceito em: 06/02/2014
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
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GOVERNANÇA E INOVAÇÃO EM REDES INDUSTRIAIS: UM
ESTUDO DO SETOR PRODUTIVO DE BOLSAS E DE CALÇADOS
Governance and Innovation in Industrial Networks: a study of
the productive sector of bags and shoes
Simone Tiêssa de Jesus Alves
Professora e Pesquisadora em Ciências da Administração. FACISA-BH. Betim, MG. Brasil. E-mail: tiessa.alves@yahoo.com.br
Carlos Alberto Gonçalves
Professor e Pesquisador em Ciências da Administração. Universidade FUMEC e UFMG. Belo Horizonte, MG. Brasil. E-mail: carlos@
face.ufmg.br
Daniel Jardim Pardini
Professor e Pesquisador em Ciências da Administração. Universidade FUMEC. Belo Horizonte, MG. Brasil. E-mail: pardinidaniel@
hotmail.com
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-8077.2014v16n39p11
Resumo
Este artigo apresenta um estudo da configuração
de determinada rede produtiva a partir das ações
de políticas governamentais, agentes de mercado e
da inovação presente nas empresas da rede APL.
Para tanto, aplicou-se 21 questionários de rede e 26
entrevistas com proprietários das empresas e entidades
de apoio, e efetuou-se uma pesquisa documental sobre
o histórico do APL. Os dados sobre tipos de inovações
ocorridas nas empresas, entre 2009 e 2013, e seus
fatores de influência foram analisados e categorizados
por estatísticas descritivas. A influência dos agentes nas
inovações foi examinada com indicadores de redes
sociais. Assim, procedeu-se a triangulação e análise
das fontes de dados para compor o caso. Verificou-
se que as práticas de inovação das empresas são
influenciadas pelas empresas de referência no mercado.
Já as entidades de apoio, responsáveis pelas ações da
governança pública, não assumem destaque quanto
à centralidade, proximidade e intermediação da rede
de inovação.
Palavras-chave: Governança. Arranjos Produtivos
Locais. Redes de Inovação.
Abstract
This paper presents a study of the production
network configuration determined from the actions of
government policies, market players and this innovation
in enterprises cluster network. To this end, we applied 21
questionnaires and 26 interviews with network owners
of enterprises and organizations support, and made it a
documentary research on the history of cluster. Data on
types of innovations occurring in companies between
2009 and 2013, and its influence factors were analyzed
and categorized by descriptive statistics. The influence
of agents in innovations was examined with indicators
of social networks. Thus, we proceeded to the analysis
and triangulation of data sources to make the case. It
was found that the practices of firms are influenced by
leading companies in the market. Have the support
entities, responsible for the actions of public governance,
not assume prominence as the centrality, closeness and
intermediation of innovation network.
Keywords: Governance. Clusters and Innovation.
Networks.
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1 INTRODUÇÃO
Teóricos do campo da administração estratégica
(FURMAN; PORTER; STERN, 2002; PORTER, 1999)
relatam que a capacidade de inovação de uma nação
depende da força da infraestrutura econômica comum
de inovação, do ambiente de inovação presente em
suas aglomerações industriais e da força dos enlaces
entre a micro e a macro estrutura. Os Arranjos Pro-
dutivos Locais (APLs) são redes empresariais que se
configuram em aglomerações espaciais de firmas, com
uma estrutura produtiva local específica, proporcionan-
do vínculos (laços) tangíveis e/ou intangíveis, fracos ou
fortes entre os atores locais. (LASTRES; CASSIOLLA-
TO, 2006; VILLELA; PINTO, 2009)
Graça (2007) cita que a inovação tecnológica
decorre da conjuntura de concorrência de um merca-
do, destacando, ainda, a importância da governança
e suas estruturas na geração de capacidade de inova-
ção dos APLs. Estruturas de governança podem ser
compreendidas como “[...] a capaci dade de comando
ou coordenação que certos agentes ou instituições
exercem sobre as inter-relações produtivas, comerciais,
tecnológicas e outras, influenciando decisi vamente o
desenvolvimento do sistema ou arranjo local”. Assim,
“[...] a governança é um dos aspectos mais complexos
dentre os que caracterizam a dimensão espacial das
atividades produtivas e inovadoras” (SUZIGAN et al.,
2007, p. 1). Tal complexidade resulta, por um lado,
do difícil equilíbrio que a forma de governança deve
manter entre cooperação e competição no âmbito do
APL e, por outro lado, da grandeza de fatores que con-
dicionam a governança. Essas estruturas surgem nos
APLs a partir do momento em que os agentes regionais
procuram ir além do aproveitamento das vantagens
competitivas locais decorrentes das economias de aglo-
meração e procuram desenvolver iniciativas coletivas
ou ações conjuntas, estreitando suas interdependên-
cias em busca da eficiência coletiva, desenvolvendo
parcerias nas esferas pública, educacional e privada.
(SUZIGAN et al., 2007)
1.1 Apresentação do Caso e Justificativa
do Estudo
O APL de bolsas e calçados da RMBH é historica-
mente reconhecido pela produção de produtos de alto
luxo, de alto valor agregado e design, tendo, contudo,
sofrido os reflexos da migração das principais empresas
líderes na região (Arezzo e San Marino) desde meados
dos anos de 1990. Tal acontecimento impactou não só
a imagem de referência de mercado da região, como
sua cadeia de produção devido ao êxodo dos principais
fornecedores com a migração das empresas líderes,
como a Arezzo. (FIEMG, 2013)
A partir da definição da Política Industrial, Tec-
nológica e de Comércio Exterior, em 2003, o governo
federal instituiu, no ano de 2004, o Grupo de Traba-
lho com APLs, o GTP-APL, no âmbito do Ministério
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
(MDIC). Esse grupo passou a coordenar ações de
entidades públicas e privadas, bem como de go-
vernos estaduais envolvidos com a temática das
aglomerações (BOTELHO et al., 2009). Em 2008,
o estado de Minas Gerais publicou uma caracterização
dos APLs do estado.
Esses fatos fizeram emergir no empresariado da
região o reconhecimento da necessidade de recorrer
às políticas públicas através dos sindicatos patronais.
A partir de meados de 2009, o APL de bolsas e cal-
çados da Região Metropolitana de Belo Horizonte
(RMBH), objeto deste estudo, passou a integrar o grupo
de APLs do Estado, com o aporte das políticas e recur-
sos do GTP-APL. Isso culminou na formação recente de
uma estrutura de governança pública no arranjo a fim
de traçar planos para o desenvolvimento das firmas da
região. É possível verificar neste caso que o APL passou
pelo rompimento de um modelo de governança de
mercado conduzida por empresas líderes, tradicionais
na região, indo para uma governança pública.
Ainda, o arranjo apresenta uma estrutura de
competição setorial marcada pela inovação, dada a
intensa velocidade de lançamento de produtos (ao
menos duas coleções de produtos ao ano). Além disso,
o APL encontra-se na fase inicial do estabelecimento
das inter-relações entre firmas em função da governan-
ça, recém-estabelecida. Assim, acredita-se que o caso
reúna características que possam agregar conhecimento
sobre a relação entre a governança, a inovação e as
redes de arranjos produtivos, dada a peculiaridade
de evidenciar o contexto inerente ao estágio inicial de
estabelecimento do APL. (ANDERSSON et al., 2004)
Desse modo, este estudo buscou-se explicar e
contrapor o papel desempenhado pela governança

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