A rampa antimendigo e a noção de site specificity, ou andrea matarazzo no soho
Autor | Graziela Kunsch |
Páginas | 26-30 |
A RAMPA ANTIMENDIGO E A NOÇÃO DE SITE SPECIFICITY, OU ANDREA
MATARAZZO NO SOHO
Graziela Kunsch
1. Introdução: o que é site specificity?
A rampa antimendigo é uma intervenção dissonante na paisagem de São Paulo.
Projetada por Andrea Matarazzo, então secretário municipal de Serviços, a primeira
rampa foi construída em setembro de 2005 na calçada sob o túnel que liga a Avenida
Paulista à Avenida Dr. Arnaldo. Seu projeto e desenvolvimento foram financiados com
recursos do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento, dentro do Programa de
Reabilitação da Área Central. Sendo uma resposta extrema para o problema da falta de
moradia e dos despejos sociais em massa, a rampa antimendigo não é e nem é pensada
como uma solução, apesar de ser deliberadamente prática: ela expulsa moradores e
moradoras de rua para regiões periféricas da cidade.
Feita basicamente de concreto, a rampa é construída de modo a cobrir toda a área
entre a calçada e o teto dos túneis/viadutos onde antes moravam pessoas. Sua superfície
é bastante inclinada e chapiscada, de maneira que impede que alguém experimente
deitar na rampa para dormir. Criticada como arquitetura da exclusão, podemos também
entender esta obra da prefeitura como um pesado trabalho crítico de arte; uma obra
site-specific de forte ironia simbólica.
Kwon (1997) localiza três procedimentos site-specific: fenomenológico,
social/institucional e discursivo. Na leitura concisa de Jorge Menna Barreto e Raquel
Garbelotti (2004),
Para continuar a ler
PEÇA SUA AVALIAÇÃO