Um pulo benjaminiano à origem

AutorHelano Ribeiro
CargoDoutorando em Literatura na Universidade Federal de Santa Catarina
Páginas29-46
http://dx.doi.org/10.5007/1984-784X.2013v13n19p29
| b. pesq. nelic, florianópolis, v. 13, n. 19, p. 29-46, 2013 |
UM PULO BENJAMINIANO À ORIGEM
Helano Ribeiro
Universidade Federal de Santa Catarina / CAPES
RESUMO
Este artigo tem o intuito de armar uma
análise acerca da escritura do austríaco
Thomas Bernhard, em especial, com sua
autobiografia sua experiência traumá-
tica na Segunda Guerra Mundial cujo
título
Origem
já nos arrebata para questões
do teórico Walter Benjamin e seu
Ursprung
[Origem pulo primeiro] anacrônico. A
questão da origem, explicitada por Bern-
hard, revela-se menos no âmbito da gênese
[Entstehung], descendência [Herkunft], do
que em uma leitura dialética da história
no
tempo de aqui e agora
,
momento pre-
sente
das reminiscências do discurso
nacional-socialista que ainda reverbera.
Sua estética da repetição parece ser a tática
de inoperância deste mesmo discurso. A
escrita de si de Bernhard aponta, ainda,
para um sistema de ensino, baseado em
vigilância e punição, que mostra pouco ter
mudado após o período da guerra.
PALAVRAS-CHAVE: Thomas Bernhard. Walter
Benjamin. Ursprung. Estética da repetição.
ABSTRACT
This article aims to set up a review about
the writing of the Austrian Thomas Bern-
hard, especially his autobiography a
traumatic experience in World War II
whose title already
Origin
snatches the
theoretical issues to Walter Benjamin and
his anachronistic
Ursprung
[Origin - leap
first]. The question of the origin explained
by Bernhard seems to move less under the
genesis [Entstehung] descent [Herkunft],
than in a dialectical reading of history
the time here and now, the present mo-
mentthe reminiscences of the national-
socialism discourse that still reverberates.
His aesthetic of repetition seems to be the
tactic of inoperation of this same speech.
His autobiography also points to an educa-
tion system based on surveillance and pun-
ishment, which seems to have not changed
after the period of World War II.
KEYWORDS: Thomas Bernhard. Walter Ben-
jamin. Ursprung. Aesthetic of repetition.
Recebido: 16/06/2013
Aprovado: 30/08/2013
Helano Ribeiro <hjcribeiro@gmail.com> é doutorando em Literatura na Universidade Fede-
ral de Santa Catarina.
helano ribeiro
um pulo benjaminiano à origem
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| b. pesq. nelic, florianópolis, v. 13, n. 19, p. 29-46, 2013 |
UM PULO BENJAMINIANO À ORIGEM
Helano Ribeiro
INTRODUÇÃO
Thomas Bernhard [1931-1989] foi, talvez, o traidor mais feroz do Estado
da Áustria, o filho infame mais odioso de um país, que, segundo ele, ainda se
fazia guiar pelo pensamento nacional-socialista. Em sua extensa obra nar-
rativas de histórias doentias: romances, peças, contos e uma autobiografia
reunida em cinco volumes neste discurso enciclopédico, coabitam suici-
das, psicopatas, marginalizados, neuróticos, obsessivos compulsivos, deses-
perados à beira do abismo, que parecem desarmar o estranhamento de um
mundo que lhes é totalmente alheio e a alienação intelectual existentes
na Literatura Alemã desde 1945.
Bernhard sempre foi considerado um escritor polêmico, mantendo uma
relação de amor e ódio com a Áustria. O ressentimento se faz presente atra-
vés de um testamento no qual proíbe a publicação de qualquer obra póstuma
como cartas e anotações em território austríaco. Dois dias antes de sua
morte, Bernhard procura o tabelião na cidade de Salzburgo com o objetivo de
elaborar seu testamento:
Fica expresso de modo veemente o fato de eu não ter nada a ver com a Áustria
e, posiciono-me não somente contra qualquer interferência, mas também con-
tra qualquer aproximação da Áustria que atinja meu trabalho futuro. Depois de
minha morte, fica proibida a publicação de qualquer material literário póstumo,

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