A política nacional de humanização

AutorValdir Cimino
Páginas33-126
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A POLÍTICA NACIONAL DE
HUMANIZAÇÃO
Cumpre-nos salientar, inclusive, conforme fora mencionado na
introdução, que haveremos de falar sobretudo de responsabilidades, pois
são elas que nos induzem a cumprir com nossas obrigações desde o
momento em que as assumimos. Tratando-se do sistema de saúde, nos-
sa intenção não é utilizar a responsabilidade como se isso bastasse para
se obter eficiência.
Na verdade, só têm eficiência quando todo o conjunto do sistema é
influenciado. É como se a engrenagem que se presta à responsabilidade
movesse o objetivo que a ela esteja atrelado. Hoje o sistema também é
tratado separado, ou seja, de forma cartesiana, e apresenta desgastes na visão
da integralidade, principalmente no uso da tecnologia como humanizado-
ra desrespeitando as responsabilidades, atribuições e obrigações que lhes são
conferidas, a fim de que todos possam movimentar o sistema a contento.
Ao ingressarmos no sistema de saúde é fundamental que nos res-
ponsabilizemos por seu bom funcionamento, certificando-nos da qua-
lidade de tudo o que fazemos por isso diariamente. Qualidade que se
estenda não como um simples reconhecimento a nós mesmos, mas em
benefício de outra pessoa, o que por si só denota o aspecto fundamental
da humanização.
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VALDIR CIMINO
Não há como escusar-se dessas responsabilidades. É como ao
tempo da faculdade, em que a obrigação de prestar atenção às informa-
ções que hão de nos qualificar para o ofício não bastam para nos dife-
renciar, exigindo nossa própria capacidade de ir além do esperado.
Nesse processo deve-se aprender a responder não apenas às
perguntas que nos são feitas, mas, sobretudo, a raciocinar diante do caso
concreto, permitindo-nos mediante novas tecnologias e ações alcançar
as inovações que beneficiem a quem precise do conhecimento, tanto
quanto ao próprio conhecimento que se expande por um processo
humanizador.
É algo como ir além do lugar comum. É um chamado ao desafio.
A vida é feita de desafios e eles, certamente, só encontram o verdadeiro
sentido quando alguém mais, além de nós mesmos, possa ser beneficia-
do. É para isso que existe o sistema de saúde. Para beneficiar àqueles que
necessitam restaurar a sua condição anteriormente saudável, ou ao me-
nos para que seja encontrado um caminho que possa lhes suprir, da
melhor forma, o bem-estar.
Isto é, sem dúvida, um desafio de todos os dias, muitas vezes de
madrugadas adentro, como bem sabem os plantonistas. Um sacerdócio,
como se costuma dizer mediante o uso do adágio. Aliás, na esteira do
provérbio, de forma alguma se pode tomar o sistema de saúde como
uma engrenagem que, se não tem remédio, remediada está. Dizemos
isso pois é o que parece ser o seu reflexo, enquanto opere seu gerencia-
mento de forma ineficaz e sua operacionalidade de forma ineficiente.
Permanecendo nos moldes atuais, afronta ao Estado Democrático
de Direito, instituído para defender as garantias fundamentais, base da
dignidade da pessoa humana, aos direitos humanos tanto quanto à ca-
pacidade administrativa de inovar e encontrar soluções, e aos profissio-
nais de saúde e pacientes, razão de ser da existência do sistema, devendo,
por isso, primar pela qualidade do atendimento.
O debate é importante, também, porque vivemos novos tempos,
onde não há mais espaço para se eximir das responsabilidades e fechar
os olhos para a ineficiência do serviço público, tampouco das que
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visem à melhoria da condição da vida humana. E isso não se faz apenas
com o advento das novas tecnologias, mas, sobretudo, com comporta-
mentos que se permitem repensar, muitas vezes buscando não propria-
mente ideias novas, mas retomando conceitos que um dia se mostraram
eficientes.
A eficácia demonstra as boas decisões tomadas nos rumos que se
pretende seguir, sabendo, de fato, o que fazer. A eficiência, a seu turno,
demonstra a capacidade de produzir o melhor efeito, o melhor resulta-
do, ou seja, fazer bem feito, sobretudo com o emprego de um esforço
qualitativo e não quantitativo.
Diante dessa exposição, responda-se, considerando que um dia,
possivelmente, será também responsável pelo bom funcionamento des-
sa engrenagem: o que você enxerga no sistema de saúde? Filas intermi-
náveis? Atendimento ineficiente? Gestão ineficaz? Baixa remuneração?
Pessoas insatisfeitas? E tudo por quê? A resposta é simples: o sistema atual
funciona sem a eficaz conjunção de esforços, acarretando a ineficiência
dos atendimentos, permitindo um sistema desumanizado.
Qual a principal reclamação dos usuários do sistema de saúde? Se
você pensou em respostas como: não há médicos; estão em greve; mar-
caram os meus exames ou a minha cirurgia para daqui a meses, mesmo
meu caso sendo grave e não podendo esperar; você pensou em uma
parte da problemática gestão que rege o sistema de saúde que, saiba você,
é também uma das mudanças focadas pelas propostas das diretrizes da
Política Nacional de Humanização.
Em paralelo a essa problemática gerencial, há outros aspectos que
chamaram a atenção daqueles que pensaram a Política Nacional de Hu-
manização. Qual é a sua opinião quanto ao motivo que leva um alto
número de usuários do sistema de saúde a não aderir aos tratamentos,
ocasionando o agravamento da doença, a resistência ao medicamento
ou mesmo a morte, proporcionando, assim, um encarecimento dos
custos de saúde?
Boa parte da resposta passa pelo distanciamento praticado entre os
profissionais de saúde e aqueles que estão sob seus cuidados. Infelizmente

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