Perani, companheiro e mestre do caminho

AutorRuben Siqueira
CargoAgente da CPT (Comissão Pastoral da Terra), na Bahia e na Coordenação Nacional Executiva atual, graduado em Filosofia e Pedagogia e Mestre em Ciências Sociais
Páginas365-370
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, n. 244 - Especial Claudio Perani, p. 365-370, 2018 | ISSN 2447-861X |
doi>: 10.25247/2447-861X.2018.n244.p365-370
PERANI, COMPANHEIRO E MESTRE DO CAMINHO*
Há pessoas e não são muitas que marcam decisivamente a vida da gente. Pe.
Cláudio Perani é uma dessas pessoas na minha caminhada.
Em 1981, vindo de São Paulo, interrompendo na metade o curso de Teologia e a
perspectiva em crise de ser padre redentorista, cheguei à Bahia da Diocese de Juazeiro, das
grilagens de terra, da barragem de Sobradinho e dos projetos de irrigação, do bispo-profeta
Dom José Rodrigues, de um reduzido mas afinado grupo de agentes de pastoral e da CPT
atuante. Um caminho novo e desafiador se abria e precisava de apoio seguro para trilhá-lo.
Logo soube do jesuíta italiano Perani, como o chamávamos, referência para o tipo de pastoral
popular que desenvolvíamos ali. Era conhecido também pelas suas posições críticas à
Ditadura Civil-Militar (1964-19 85) e ao "carlismo"
1 na Bahia, e pela guarida que deu a
perseguidos pelo regime.
Os Cadernos do CEAS, publicação do Centro de Estudos e Ação Social, dos jesuítas em
Salvador, que ele dirigia, forneciam luz e força naqueles tempos bicudos e cheios de
esperança na resistência popular, como ele mesmo nos fez enxergar. Sob a censura, não
haviam sobrevivido outras publicações nesta linha. Sem os Cadernos, estaríamos
provavelmente, ainda mais perdidos. Semente bem plantada, árvore generosa, mais de 50
anos depois os Cadernos continuam.
Soube que, pelo CEAS, Perani havia procurado o bispo anter ior de Juazeiro, antes do
início das obras da barragem (1974), para alertar sobre o que sucederia com as 72 mil pessoas
atingidas, 2/3 camponeses ribeirinhos e catingueiros desprotegidos, e oferecer assessoria à
diocese no que o pessoal do CEAS via como desafio pastoral. Em vão. A barragem, imposta
pela Ditadura, a produzir energia para o chamado desenvolvimento do Norde ste, foi o
desastre anunciado. Uma resposta pastoral à altura só veio depois, a partir de 1975, com a
chegada do novo bispo, d. José Rodrigues de Souza e a CPT, cuja criação na diocese ele
* Versão modificada da Carta a Cláudio Perani que não se queria póstuma publicada pela ADITAL
1 Carlismo na Bahia designa o esquema de poder e a forma de liderar do governador e senador Antônio Carlos
Magalhães (1927-2007), que combinava tecnocracia com mandonismo.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT