Novas perspectivas na historiografia do trabalho em Santa Catarina

AutorRafaela Leuchtenberger
CargoUniversidade Estadual de Campinas ? UNICAMP
Páginas105-128
NOVAS PERSPECTIVAS NA HISTORIOGRAFIA DO TRABALHO
EM SANTA CATARINA.
Rafaela Leuchtenberger
Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP
Resumo
Neste artigo pretendo realizar uma análise geral sobre a produção historiográfica
do trabalho em Santa Catarina, passando pelas diversas formas de compreender
os trabalhadores na História para, por fim, deter-me num exame sobre as produ-
ções desenvolvidas nos últimos 12 anos no Estado. Apresento breve apresenta-
ção a respeito dos trabalhos analisados, separando-os por grupos em temáticas
com a finalidade de se visualizar melhor as abordagens realizadas.
Palavras-chave: historiografia, trabalho escravo, trabalho livre, Santa Catarina
Abstract
This article intends to realize a general analysis about the productions of work’s
historiography in Santa Catarina State. It goes through the different ways of
comprehension of History’s workers and does a deep examination about the
productions realized in the last 12 years in the state. I have done a shortly
presentation about the analyzed researches, with thematic groups, intending to
have a better vision of the realized boarding.
Key words: historiography, slave work, wage earner, Santa Catarina state.
Ao se iniciar uma pesquisa a respeito de trabalhadores e relações de tra-
balho no Estado de Santa Catarina, a primeira dificuldade com que o pesquisador
se depara é a falta de bibliografias que tenham o trabalhador e suas experiências
como objeto de análise, compreendidos como sujeitos da história. Mas estes per-
sonagens, pouco a pouco, vêm ganhando espaço, o que pode ser percebido atra-
vés das pesquisas que vêm sendo desenvolvidas nos últimos anos, e que se tor-
nam cada vez mais presentes, tendo como objeto de interesse o trabalhador cata-
rinense e sua agência. Este fenômeno está relacionado à produção historiográfi-
1 E-mail: rafaberger@yahoo.com.br
106 REVISTA ESBOÇOS Nº 17 — UFSC
ca do pós anos 1980 no Brasil, que atuou no sentido de possibilitar novas formas
de se pensar e compreender as relações de trabalho, assim como, os sujeitos na
história. Em Santa Catarina percebe-se o quanto isso viabilizou outras perspecti-
vas de abordagem, assim como, a utilização de diversificadas fontes e diferentes
problemáticas, resultando em estímulo para maior produção de pesquisas.
Realizei para este artigo busca dentre os trabalhos desenvolvidos na UFSC,
UNESC e UDESC1 por serem estas as instituições que desenvolvem pesquisa no
Estado. Foram verificados aproximadamente 164 trabalhos, na maioria disserta-
ções de mestrado, dos quais 60 tratam de assuntos relacionados aos trabalhado-
res. Verifiquei que a partir de 2001 é que estes trabalhos passam a ser mais
presentes e em 2005 ganham uma maior influência da história social, sendo que
os trabalhos anteriores apresentavam forte perspectiva da história cultural. Acre-
dito que isso se deva ao fato de ter sido fundada apenas em 2002, no Programa
de Pós Graduação da UFSC, a Linha de estudos Trabalho, Sociedade e Cultu-
ra, com enfoque da história social, organizada dentro da Área de História Cultu-
ral existente desde 1975 na Universidade Federal.
Acho importante salientar que compreendo este artigo como um trabalho
inicial e, portanto, com algumas limitações. Não consegui desenvolver pesquisa
mais aprofundada em outros departamentos que não fossem de História, encon-
trando apenas alguns trabalhos que foram desenvolvidos em outras áreas embora
saiba da importância dessa produção para a historiografia. Também não pude
verificar aprofundadamente a produção a respeito de Santa Catarina em univer-
sidades fora do Estado, o que acabou tornando-o mais focado nas produções
historiográficas desenvolvidas sobre o Estado no Estado.
HISTORIOGRAFIA DO TRABALHO – APONTAMENTOS:
Para o desenvolvimento de um estudo de história dos trabalhadores em
Santa Catarina, livres ou escravos, parte-se de uma bibliografia comum, que hoje
nos serve mais de fonte do que como registro historiográfico. Os primeiros estu-
dos de história do Estado foram desenvolvidos por pesquisadores amadores que
buscavam registrar os acontecimentos passados e vivenciados em suas cidades.
Mas também, e principalmente, por historiadores positivistas, como Walter Pia-
zza, Oswaldo Cabral2 e Humberto Carlos Correa, que dentro da lógica pela qual
compreendiam o fazer da história, desenvolveram pesquisas que buscavam ser
grandes sínteses e que se focavam nas elites, assim como, nos principais fatos
políticos e militares. Nessa perspectiva alimentaram-se concepções baseadas
nas elites locais, e nas famílias tradicionais, desenvolvendo tratados de elogios às
práticas empreendedoras dos imigrantes europeus bem sucedidos.

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