Nova era e new age popular: as transformações nas religiões brasileiras

AutorAmurabi Oliveira
CargoLicenciado e Mestre em Ciências Sociais (UFCG), Doutorando em Sociologia (UFPE). Professor da Universidade Federal de Alagoas
Páginas65-85
DOI:10.5007/1984-8951.2011v12n100p65
NOVA ERA E NEW AGE POPULAR: as transformações nas religiões
brasileiras
NEW AGE AND POPULAR NEW AGE: The Transformations in the
Brazilian Religions
Amurabi Oliveira
1
RESUMO
Este trabalho visa contribuir para a discussão sobre a Nova Era no Brasil, destacando
não apenas o seu percurso como também os seus desdobramentos, em especial a
partir do que denominamos New Age Popular, que possibilita uma rearticulação entre o
discurso da Nova Era e os elementos da religiosidade popular, contextualizando-a em
meio aos processos de transformações sociais mais amplas. Além deste aspecto
destacamos também o caráter congregacional que este momento da Nova Era traz.
Argumentamos que a New Age Popular encontra-se presente não apenas nos Novos
Movimentos Religiosos, como o “Santo Daime”, o “Vale do Amanhecer”, dentre outros,
como também nas mais diversas práticas religiosas.
Palavras-Chaves: New Age Popular. Nova Era. Religiões Brasileiras.
ABSTRACT
This paper aims to contribute to the discussion about the New Age in Brazil, highlighting
not only its way, as well as its developments, especially from what we call Popular New
Age, which allows a re-articulation of the New Age Discourse and the elements of the
popular religiosity, contextualizing it through the processes of social change. Beyond
this aspect, it could also be remarked the character of unification that this moment brings
to the New Age. We argue that the Popular New Age shows up not only in New
Religious Movements (e.g. "Santo Daime" and/or the "Valley of the Dawn", between
others), as well as in another religious practices.
Key Words: Popular New Age. New Age. Brazilian Religions.
1
Licenciado e Mestre em Ciências Sociais (UFCG), Doutorando em Sociologia (UFPE). Professor da
Universidade Federal de Alagoas. amurabi_cs@hotmail.com
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não Adaptada.
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Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.12, n.100, p.65-85 , jan/jul 2011
RELIGIÃO, SINCRETISMO E PODER NO BRASIL
Comecemos nossa afirmativa a partir da colocação de Andrade (2002), que
postula que o ethos religioso brasileiro encontrar-se-ia no sincretismo, e não no
catolicismo, como propõem alguns autores. Desse modo, compreender a dinâmica do
universo religioso no Brasil pressupõe uma análise mais ampla em torno de como os
diversos elementos, signos e práticas culturais se articulam, formando um todo
simbólico significativo para aqueles que vivenciam o sagrado.
Para além de uma sobreposição de crenças e práticas religiosas, o sincretismo
representa uma hibridização cultural, alocada no plano social, são os contextos nos
quais se situam os atores sociais que possibilitam a elaboração sincrética. Na obra de
Freyre (2005) já encontramos elementos que apontam para o caráter hibrido da cultura
brasileira, apontando elementos históricos e sociais que estariam na base de tal
configuração, como a “plasticidade” do português, que por ter passado por intensos
contatos culturais, em especial com os mouros, estaria mais apto à recepção de
práticas culturais diversas, formando no Brasil um Novo Mundo nos Trópicos. Cabe-
nos aqui uma crítica ao autor, na medida em que, o mesmo olvida como as relações de
poder se estabelecem nesta “mestiçagem”, já que, inserido no projeto colonial, o papel
de colonizador e colonizado se estabelece a partir de relações que são hierárquicas e
que se impõe enquanto “naturais” (MEMI, 2007). Não podemos situar o sincretismo
como uma realidade cultural que se assenta em relações horizontalizadas de poder,
muito pelo contrário, os espaços encontram-se bem demarcados e, por vezes,
“naturalizados”.
É oportuno ainda destacar o fato de que nestas relações de poder estabelecidas
a Igreja Católica terá um papel fundamental, já que ele encontra-se, neste momento
histórico, atrelada visceralmente ao Estado. No processo de configuração do campo
religioso brasileiro houve um processo tácito de divisão do trabalho colonial, cabendo
ao Estado o domínio sobre os corpos, e à Igreja o sobre as almas, ainda que possamos
apontar alguns conflitos de interesse entre estas duas instituições no período
(RIBEIRO, 2006).

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