Movimentos sociais hoje no Brasil: breves reflexões

AutorCláudio Perani
Páginas117-125
MOVIMENTOS SOCIAIS HOJE NO BRASIL: BREVES REFLEXÕES
CLÁUDIO PERANI*
O tema dos movimentos sociais é atual e importante. Quem fala de crise,
quem os considera como o melhor caminho político de mudança, quem os
relativiza, quem os instrumentaliza... Há muitas experiências bem sucedidas,
outras questionáveis. Existe, também, uma boa reflexão teórica. Nessas
páginas desejo apresentar algumas notas, numa perspectiva mais
questionadora, esperando que possam contribuir na discussão.
1. DO QUE SE TRATA
Sob o nome “movimento social” habitualmente se incluem múltiplas
experiências e organizações bastante diferenciadas: movimentos populares,
associações, sindicatos de trabalhadores, pastorais sociais, projetos
econômicos alternativos, economia solidária, fóruns, comissões, conselhos,
coordenações, campanhas etc. Numa palavra, em sentido amplo, podemos
dizer que há movimento social lá onde grupos se mexem, em geral para
reivindicar direitos e provocar alteração na ordem sóciopolítica existente.
Seria bom, nesse momento, lembrar a imensa diversidade das iniciativas
populares, que nós chamamos de espontâneas, sem dar muito valor porque,
talvez, não se encaixam na nossa visão de organização nem são por nós
conhecidas. Algumas são ligadas a partidos ou, o mais das vezes,
independentes deles. Outras emergem dos setores populares, com ou sem
apoio de outros segmentos, apoio mais discreto ou mais diretivo, não raro com
recursos intelectuais e materiais.
O que impressiona é o grande número desses movimentos, sua complexidade,
sua diversificação e, também, dispersão. Em primeiro lugar, antes de qualquer
crítica, parece importante reconhecer a riqueza desses grupos que se mexem
e o seu valor político. Devemos desconfiar de algumas conclusões apressadas,
como aquela que fala de fraqueza dos movimentos porque muitos dispersos.
Ou do desejo de logo articular ou intervir com mais recursos para aumentar
sua força. Os resultados muitas vezes são o oposto do que se quer: os
movimentos enfraquecem ou até mesmo desaparecem.
Nessa situação, não é fácil definir e classificar os diversos movimentos. O
fundamental é manter uma atitude de discernimento contínuo e crítico, que nos
leve a conhecer diretamente os movimentos em sua atuação concreta. Para
tal, se faz necessário um contato direto e uma escuta constante, buscando
uma maior compreensão. Isso é indispensável porque as intenções e as ações
explicitadas no projeto nem sempre encontram respaldo na prática e a intuição
ou o carisma inicial às vezes é abandonado, entrando num processo de
burocratização.
Aqui surge a necessidade de parâmetros teóricos. Entre os autores que
refletem sobre os movimentos sociais encontramos o sociólogo e psicólogo

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