MARXISMO E FEMINISMO.

AutorHamdan, Aline
CargoTexto en portugues - Resena de libro

MOJAB, Shahrzad (ED.) Marxism and Feminism. Zed Books London, 2015. (Sem traducao para o portugues).

Este livro foi publicado em 2015 com o intuito de trazer reflexoes contemporaneas sobre a relacao do marxismo com o feminismo e e o resultado de uma construcao coletiva que sera apresentada sucintamente em 16 capitulos. A editora Shahrzad Mojab (1) contempla tais conceitos atraves da centralidade da classe no feminismo. A maior parte das discussoes foi o resultado de anos de conversas com colaboradores, estudantes de graduacao e de um grupo teorico de estudos marxistas realizado no verao europeu ao longo dos anos anteriores a edicao. Neste grupo, ela compreendeu o materialismo dialetico e historico como ciencia, filosofia, metodo e, de forma mais significativa, um modo de interpretar Marx e o feminismo. Este livro foi planejado para estudantes e ativistas que desejam aprofundar os debates metodologicos sobre as ideias feministas voltadas a uma transformacao social revolucionaria.

Shahrzad, no primeiro capitulo, delineia um panorama entre a primeira "Grande Guerra", na qual estados capitalistas trouxeram imensa destruicao de vida e propriedade para todo o mundo e a conjuntura atual, com novos conflitos imperialistas que devastaram principalmente os paises perifericos. Enquanto alguns autores preferem acentuar a tenue linha entre marxismo e feminismo, a autora pretende demonstrar a superacao das divergencias teoricas pelo metodo dialetico do materialismo historico.

Uma das grandes preocupacoes do livro e a renovacao das ideias marxistas apos a restauracao do capitalismo na Russia (1956) e China (1976) (pagina 23). Isto porque, quando se trata de marxismo-feminismo, apos este periodo, muitas feministas ficaram desiludidas, outras se identificam apenas como materialistas. Desta forma e necessario um resgate historico para reacender a producao teorica que ira refletir na pratica revolucionaria. Alem disso, aponta uma saida do conformismo a partir do momento em que a esquerda nao consegue compreender que a opressao das mulheres tem sido fundamental na criacao das condicoes para a exploracao capitalista de todos os trabalhadores.

O comunismo envolve o desmantelamento de um sistema social desigual, mas ao tratar das opressoes de genero, e preciso enfatizar que o patriarcado reproduz a hierarquia caracterizada pela dominacao masculina. O poder masculino e exercitado por coercao e consentimento, o consentimento e criado por familia, religiao, ideologia, cultura, idioma, literatura, arte, folclore, educacao e todas as outras instituicoes culturais, enquanto a violencia fisica e perpetrada por machos, pela policia, pelos exercitos, a lei e os tribunais (pagina10).

Ainda nesta parte introdutoria, Shahrzad descreve a influencia norteamericana atraves da CIA, em 1953, no Ira e as consequencias imperialistas que vao resultar no fundamentalismo, na perseguicao aos comunistas neste pais e na perda de direitos das mulheres apos este periodo. Ela ressalta que os grupos comunistas no Ira eram os defensores mais persistentes da emancipacao das mulheres naquela epoca, mas, com o retorno do Xa, a oposicao politica foi praticamente esmagada.

Nas insurreicoes que ocorreram em 2010 na Tunisia e que se espalharam por todo o Oriente Medio e Norte da Africa, as mulheres organizadas exigiram o desmantelamento das relacoes patriarcais mas tambem lutaram com os homens lado a lado contra os regimes totalitarios. As relacoes de genero reproduzem as opressoes dos processos sociais, assim, um ataque as mulheres e considerado tambem uma perda para a classe proletaria.

Por isso, a desvinculacao do feminismo destas relacoes e o enquadramento como uma questao cultural e um reducionismo da teoria politica, essa perpetuacao relativista e um obstaculo a emancipacao humana e um retorno ao essencialismo.

Frigga Haug, sociologa e psicologa pela Universidade de Berlim, nos dois capitulos seguintes, aborda as relacoes de genero e a relacao de Marx com o feminismo, sucessivamente. Eles sao introduzidos pela autora atraves da mencao a grande contribuicao teorica de Marx para o feminismo que foi a concepcao de que as relacoes de producao sao relacoes de reproducao dos meios de vida.

Esse assunto foi abordado nos livros "A origem da propriedade privada, da familia e do Estado" (2) e "A Ideologia Alema" (3), nos quais, o primeiro caracteriza a propriedade privada como o alicerce da desigualdade de genero e a heteronormatividade que desenvolveu a ideia da mulher como vitima e sua subjugacao na familia em todo o sistema patriarcal. O segundo, ao tratar da refutacao as teses de Feuerbach, tambem se torna significante para a critica feminista por uma ciencia popular. Segundo Frigga Haug, as ciencias sociais eram construidas sem levar em consideracao as experiencias e praticas de mulher, o que constituiria o cerne do materialismo historico com perspectiva de genero.

Por outro lado, Marx, ao focalizar o salario no trabalhador masculino e a tarefa de sujeito politico a classe trabalhadora, remete o papel historico como ganha-pao familiar ao proletariado. No entanto, o trabalho das mulheres produz mais do que o necessario para sua propria reproducao e a familia e central na producao social. Outras criticas foram sendo feitas pelas autoras feministas porque Engels, por exemplo, evidenciou muito material para provar a subjugacao de mulheres, porem nao enfatizou que tais relacoes de genero determinam a sociedade inteira e nao sao restritas a esfera domestica (pagina 56).

Para aprofundar tal debate, ela cita Donna Haraway (4), feminista com formacao em tecnociencia, que reivindicou a tese da tecnologia a servico tambem da questao de genero. Para ela, a explicacao da opressao de mulheres pelo sexo-genero-sistema (5) era atraves do essencialismo biologico centrado na capacidade reprodutiva e na familia, essa critica foi fundamental para pensar o genero enquanto uma construcao social.

Outra contribuicao critica ao feminismo foi a radicalizacao da representacao da natureza socialmente construida pelo genero, cujo campo de batalha que e a construcao de identidade, apresentada por Butler (6). Outra perspectiva interessante foi quando Nancy Frase (7) criticou Habermas (8) na analise da sociedade moderna como um paradigma androcentrico.

Em determinado fragmento do capitulo, Frigga inicia a discussao sobre o conceito marxiano de trabalho e a teoria da mais-valia. Assim, algumas pensadoras marxistas tambem atribuem ao servico domestico a...

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