Análise dos dados quantitativos referentes à capacidade funcional de trabalhadores de metalúrgicas

AutorAlexandra Renosto; Paulo Alberto Klafke
Páginas33-42

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1 Introdução

Dentre as várias12 modificações apresentadas pela economia mundial, uma que chama atenção é a relacionada às condições de trabalho dos operários. Apesar da disseminação dos conceitos de qualidade e produtividade na maior parte das empresas, a forma como os operários desempenham suas tarefas não tem mostrado uma regularidade, com melhorias significativas. Alguns fatores contribuem para isso. O primeiro é a entrada de países emergentes, como a China, a Índia, e Indonésia, em muitos mercados que antes não atuavam. Este fato determinou a prevalência de uma força trabalhadora com custo reduzido, o que forçou os demais países a tentarem equiparar-se aos custos destas nações.

O segundo fator importante é o fato de países como o Brasil serem submetidos a esta concorrência sem que sua população tenha atingido um padrão econômico que permitisse enfrentar estas modificações com mais tranqüilidade. A obrigação de redução de custos por parte das empresas força o arrocho salarial, que por sua vez obriga aos trabalhadores a submeterem-se a condições inadequadas de trabalho, e por períodos mais longos, no mercado de trabalho.

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Um terceiro fator que aumenta o interesse e a importância da discussão é o relacionado às modificações no perfil epidemiológico, com um aumento substancial da idade média da população, levando a uma alteração da relação entre a população ativa e inativa, mas também fazendo com que pessoas mais idosas, por força da situação econômica, buscassem novamente o mercado de trabalho.

O aumento da idade do grupo de trabalhadores da ativa reflete-se na sua capacidade funcional. Muitos estudos, tanto em âmbito mundial como no Brasil (Andrade, 2002) relatam que o envelhecimento funcional reflete-se diretamente na capacidade para o trabalho dos indivíduos. Esta capacidade referida para o trabalho compõe-se de aspectos ligados às capacidades físicas, mentais e sociais dos trabalhadores, e que o colocam em condição de responder às demandas das atividades designadas. Para sua determinação são levados em conta também os fatores ligados ao grupo de trabalho, seu ambiente e organização do sistema.

A busca de um entendimento de um problema, por si só complexo, como é o relacionado às condições de trabalho, agravado pela alta heterogeneidade reinante entre as nações, e até mesmo dentro dos países, faz com que cresça a importância de estudos sobre o assunto. A análise quantitativa assume um papel preponderante neste problema, pois oferece instrumentos que permitem dar mais clareza aos fatos, ao mesmo tempo em que dá a oportunidade de estabelecer comparativos entre situações diferentes.

Como forma de mensuração da condição para desempenhar tarefas, foi desenvolvido na Finlândia, na década de 80, um indicador chamado Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT), que é aplicado sob forma de auto-avaliação do trabalhador em relação a sua condição adequada de executar as operações. Este indicador tem sido utilizado como apoio aos profissionais da área na tarefa de avaliar com antecedência modificações que possam ser apresentadas pelos trabalhadores em sua capacidade no desempenho de suas funções dentro do ambiente organizacional.

Com isto, é possível atuar preventivamente contra a perda de capacidade, pois o índice apontará seu estado atual e em um horizonte de curto alcance, mostrando sua condição de executar as demandas de trabalho, baseado em suas características de saúde gerais, física e mental. (Bellusci e Fischer, 1999).

Os estudos já realizados com a utilização do ICT para avaliação da capacidade funcional mostram algumas características próprias. Conforme Raffone e Hennington (2004), a redução da capacidade produtiva no trabalho apresenta uma prevalência de 16,8%. Outro estudo, este de Bellusci e Fischer (1999), mostrou que entre as mulheres, aquelas que possuem maior tempo na organização, exercendo funções nos cargos de auxiliar de serviços gerais, são as que possuem maiores chances de apresentar ICT de médio para reduzido.

Em relação à faixa etária, os trabalhos realizados por Andrade (1999) mostraram que os indicadores de menor condição para o trabalho situaram-sePage 35 no grupo de idade mais elevada, de cinqüenta a sessenta anos. Outra variável que foi considerada foi a escolaridade, sendo que nos estudos de Raffone e Hennington (2004), os autores concluíram que os operários com maior escolaridade apresentam índices de capacidade mais elevados, condição também verificada para aqueles que desenvolvem atividades físicas regulares.

Este trabalho, realizado sobre os dados de uma pesquisa concretizada em 2005, procurou verificar algumas variáveis que pudessem influenciar os índices de capacidade relatados, como forma de demonstrar a validade da análise quantitativa para este tipo de...

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