Lava Jato e Politeia comprometem a recondução de Rodrigo Janot?

AutorFelipe Recondo
Páginas431-433

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Se Brasília fosse Politeia, políticos alvos de investigação não se valeriam de seus mandatos para ameaçar aqueles que os investigam. Mas deputados e senadores brasileiros não vivem na cidade descrita por Platão, onde a ética sempre prevalece sobre a corrupção, cujo nome batizou a nova operação da Polícia Federal. E é por isso que a recondução do procurador geral da República, Rodrigo Janot, para um segundo mandato corre perigo, especialmente depois das operações de busca e apreensão na casa de três senadores investigados na Lava Jato.

É bem verdade que, publicamente, os colegas não se solidarizam com os senadores atingidos pelas operações de terça-feira - Fernando Collor (PTB-AL), Fernando Bezerra e Ciro Nogueira. Ninguém subiu à tribuna, além de Collor, para falar mal da Polícia Federal ou do Minis-tério Público. Mas a solidariedade pode vir de outras formas, discretas e protegidas pelo voto secreto. Ainda mais depois que Janot denunciar - como o fará - o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também investigado na Lava Jato.

O mandato de Janot termina em setembro. Em agosto, uma lista tríplice será remetida pela Associação Nacional dos Procuradores da República à presidente Dilma Rousseff. A lista é corporativa. Não tem previsão legal. A presidente poderia escolher outro nome que não estivesse relacionado. Mas desde o governo Lula, é indicado para o cargo o mais votado pelos membros do Ministério Público.

Janot disputa esta eleição com outros três colegas de MP. Um deles já o criticou abertamente por abrir inquéritos contra políticos sem ter

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condições de provar os crimes apontados. Seria uma forma sutil de dizer que o procurador usa o cargo para ameaçar políticos. Apesar disso, o nome de Janot deverá ser o mais votado entre os colegas. E a presidente deverá indicá-lo novamente.

Para ser reconduzido, Janot passará por nova sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Dos 27 titulares da comissão, oito são investigados na Lava Jato. Apenas um deles é da oposição e deve ter a investigação arquivada nas próximas semanas: Antonio Anastasia (PSDB-MG). Se o nome de Janot for aprovado pelo voto secreto, será remetido ao plenário do Senado para nova votação. Ali, precisará de maioria absoluta de votos - 41 votos.

Com os presidentes do Senado e da Câmara, Eduardo Cunha, denunciados, Janot conseguirá...

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