Interpolitransdisciplinaridade

AutorGilberto de Castro Rodrigues
Páginas29-44
29
INTERPOLITRANSDISCIPLINARIDADE
A vida, ela progride e dura. Sem dúvida, sempre será possível,
deitando um lance de olhos ao caminho já percorrido, marcar-lhe a
direção, anotá-la em termos psicológicos e falar como se tivesse havido
persecução de um objetivo. É assim que nós próprios nos expressare-
mos. Mas, acerca do caminho que iria ser percorrido, o espírito huma-
no nada tem a dizer, pois o caminho foi criado ao mesmo passo que o
ato que o percorria, não sendo mais que a direção desse ato ele próprio.
Henri Bergson
A construção do saber no indivíduo e na sociedade
A percepção das coisas, de todas as coisas, em sua to-
talidade se perde, ca comprometida, a partir do momento
em que o homem, buscando uma melhor compreensão e
apreensão de seus objetos de estudo, começa a dissecá-los
para obter alguma percepção, para facilitar-lhe a com-
preensão. Porém a parte, depois de dissecada, estudada e
Capítulo I
da a lma do direito o u a psicologia do direito
30
compreendida, não é reintegrada ao todo enquanto relação
de saber que estende e complementa a totalidade, mas re-
cebe tratamento independente como se, ao ser conhecida,
adquirisse características próprias e se tornasse, a sua vez,
outro todo, um novo todo. Estes homens que se apossam
das partes de qualquer todo, ou da totalidade, para com-
preendê-las em seu mais profundo nível de detalhamen-
to, em todas as suas particularidades, é o que conhecemos
hoje no meio acadêmico como especialistas, como experts.
“O especialista, dizia G. K. Chesterton, é aquele que
possui um conhecimento cada vez mais extenso relativo a
um domínio cada vez mais restrito. O triunfo da especiali-
zação consiste em saber tudo sobre nada. Os verdadeiros
problemas de nosso tempo escapam à competência dos ex-
perts, porque os experts, via de regra, são testemunhas do
nada. A parcela de saber exato e preciso detida pelo espe-
cialista perde-se no meio de um oceano de não saber e de
incompetências. As questões urgentes de nosso século XX
são não apenas as da coexistência pacíca entre os povos,
vale dizer, as questões da paz e da guerra, mas também as
questões colocadas pela desigualdade de desenvolvimento
econômico, técnico e cultural, entre as nações do mundo.
As questões colocadas pela fome, pelo respeito às liberdades,
são indissociáveis da situação geral da humanidade sobre
o planeta Terra, na última etapa do século XX.” – Georges
Gusdorf (JAPIASSU, 1976, p. 8).
Este especialista reluta em abdicar o conhecimento
adquirido visto este possibilitar-lhe uma sensação de po-
der nunca antes experimentada. Constrói, assim, ao lon-
go de poucos séculos, castelos especializados em muitas
coisas, mas sem saber nada da vida ou do mundo, pre-
tendendo, do conhecimento da parte, dar-se por conhe-
cida a totalidade. Enclausuram-se, os especialistas, em

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT