Humor ou sexismo? Uma análise crítica das narrativas publicitárias nos filmes do porta dos fundos

AutorRenata Barreto Malta - Álvaro de Lima Silva - Luan Filipe Ferreira Costa - Yuri Nascimento Costa
CargoDoutora em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo - Aluno do Curso de Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, SE, Brasil - Aluno do Curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, SE, ...
Páginas98-116
http://dx.doi.org/10.5007/1807-1384.2017v14n1p98
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.14, n.1, p.98-116 Jan.-Abr. 2017
HUMOR OU SEXISMO? UMA ANÁLISE CRÍTICA DAS NARRATIVAS
PUBLICITÁRIAS NOS FILMES DO PORTA DOS FUNDOS
Renata Barreto Malta
1
Álvaro de Lima Silva2
Luan Filipe Ferreira Costa3
Yuri Nascimento Costa4
Resumo:
O presente artigo pretende analisar a construção narrativa de três filmes publicitários
encomendados por anunciantes de marcas massivas, produzidos pelo canal Porta
dos Fundos, com a finalidade de ser veiculado no YouTube. Apresentamos como
objetivo observar a produção publicitária como entretenimento e o humor como
elemento de persuasão, problematizando a utilização de argumentos sexistas no
interior de suas narrativas, os quais produzem significado e reforçam valores
hegemônicos machistas. Para as análises, partimos das proposições teórico-
metodológicas de Bordwell e Thompson (2014). A partir das conclusões, as quais
apontam para o sexismo camuflado pelo humor como conteúdo apresentado pelas
narrativas do corpus da pesquisa, emerge o questionamento acerca da função social
da publicidade e as consequências negativas às marcas envolvidas, oriundas de
narrativas que pregam a desigualdade de gênero.
Palavras-chave: Entretenimento. Publicidade. Humor. Sexismo. Porta dos Fundos.
1 INTRODUÇÃO
A publicidade nasceu com o objetivo de divulgar e tornar público um fato ou
ideia, geralmente associada a uma marca ou instituição que pretende obter
resultados positivos. Assim, numa ponta da relação se encontra a marca, na outra o
receptor/consumidor, e no centro, a publicidade. Como destaca Citelli (2004), a
estratégia de comunicação persuasiva torna-se uma arma para a captação,
conscientização e aceitação de marcas, produtos ou serviços, e ideias, que são
1 Doutora em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo com Doutorado-
Sanduíche na Carleton University, Ottawa, Canadá. Professora do Departamento de Comunica ção
Social e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Federal de
Sergipe, Aracaju, SE, Brasil E-mail: renatamaltarm@gmail.com
2 Aluno do Curso de Com unicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda da
Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, SE, Brasil E-mail: alvaro-lima-silva@hotmail.com
3 Aluno do Curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda da
Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, SE, Brasil E-mail: luan.f.f.costa@gmail.com
4 Graduação em Direito pela Universidade Tiradentes. Aluno do Curso de Comunicação Social com
Habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, SE, Brasil E-
mail: yuricostaadv@outlook.com
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anunciados através desse mecanismo, ou seja, ela se apresenta como uma
estratégia que serve para persuadir e convencer seu público.
Neste sentido, deve-se observar os mecanismos utilizados por esse campo
para atingir suas finalidades, quais sejam: os elementos visuais morfológicos,
cromáticos, tipográficos, tecnológicos; elementos narrativos; linguísticos; estéticos.
No interior da publicidade, uma linguagem senão um gênero, ainda que a
publicidade não esteja enrijecida em gêneros fixos - presente em demasia é o
humor, que insere na narrativa elementos os quais induzem ao riso, atribuindo uma
(suposta) maior leveza à mensagem. Entretanto, é latente e notório discursos
preconceituosos e discriminatórios na construção da sociedade, especificamente da
brasileira, e consequentes reflexos nas relações de poder que regem essa mesma
sociedade. Vislumbra-se que tais relações de poder são baseadas principalmente
em classe, gênero, sexualidade e raça. Esta bagagem discriminatória acabou por
influenciar, também, as narrativas humorísticas que pretendem anunciar uma marca
ou produto.
A partir dessas asserções, apresentamos como objeto de estudo o canal do
YouTube “Porta dos Fundos”, o qual se transformou em um fenômeno mundial de
audiência e vem sendo utilizado pelas marcas com fins mercadológicos. As
principais empresas do Brasil e Multinacionais, paulatinamente, atentaram-se à
velocidade que a convergência midiática, com ênfase no meio digital, vem se
perpetuando. Assim, a inserção de produtos e criação de narrativas exclusivas para
as marcas no mundo digital se tornou um novo meio para atingir seu target de forma
qualitativa e participativa.
Contudo, percebe-se que os roteiros e elementos estéticos criados pelo canal,
determinadas vezes, não se enquadram no posicionamento do anunciante, e
tampouco condizem com os valores de igualdade presentes no cenário societário
atual.
Apresentamos como hipótese que os vídeos que serão aqui analisados são
exemplos de que elementos narrativos e estilísticos desse tipo de narrativa
publicitária contêm a discriminação e o preconceito no que se refere à diferença de
gêneros como diretrizes ensejadoras do humor, enquanto que a história das marcas,
de modo geral, demonstra uma trajetória pautada na igualdade, acessibilidade e
solidariedade, ao menos no que concerne ao seu discurso.

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