A herança intelectual de Beccaria

AutorDANIEL CARDOSO GERHARD
Páginas21-34
Capítulo 2
A herança intelectual de Beccaria
Assim como fez Beccaria, outros filósofos do
século XVIII italianos ou não propuseram questionamen-
tos e denunciaram os abusos e as mazelas sociais vividas à-
quela época, pugnando por reformas incontinenti.
Seria uma ingerência histórico-intelectual di-
zer que o século XVIII teve apenas uma linearidade de pen-
samento em toda a sua extensão. O homem é um ser dinâmi-
co que se afirma como tal ao longo de sua história, e tal afir-
mação não é feita de forma previsível e equânime, mas, sim,
pautado por uma racionalidade específica que varia conforme
o momento histórico.
Desvela-se como oportuno, portanto, um recorte mais
preciso no século XVIII, notadamente no período em que
Beccaria escreve sua obra (1764). Para tanto, seguir-se-á a
divisão tríplice do Século das Luzes realizada por Émile Bré-
hier.23. O primeiro período (1700-1740) retifica a i-
deia de razão vigente no século XVII, em que subsiste um
racionalismo atrelado a Deus, “inscrito por Deus no coração
dos homens”, conforme o sagrado escrito de São Paulo. As-
sim, a razão divina, que é a priori, dita à razão humana o seu
modus operandi. Esta concepção pode ser verificada em auto-
res como Malebranche e Descartes. Todavia, já no início do
século XVIII, vê-se uma ruptura com esta forma de pensar,
conforme nota Bréhier:
23 BRÉHIER. História da filosofia. Tomo 2, s.p.

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