Habilitadores de Inovação para a Base da Pirâmide

AutorKatarina Chaves Lacerda - André Gustavo Carvalho Machado
CargoMestre em Administração. Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, PB. Brasil. e-mail: katarinalacerda@gmail.com - Doutor em Administração. Docente do DA/PPGA/MPGOA. Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, PB. Brasil. e-mail: agcmachado@gmail.com
Páginas39-56
Habilitadores de Inovação para a Base da Pirâmide
R C A
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RESUMO
O objetivo desse artigo é analisar as características dos habi-
litadores de inovação para a base da pirâmide no contexto
brasileiro. A estratégia de pesquisa adotada foi de estudo de
casos múltiplos em três empresas de setores distintos. Os re-
sultados evidenciaram que os principais habilitadores externos
às organizações foram a estabilidade econômica, as políticas
públicas e a qualidade dos fornecedores. Entre os habilita-
dores internos, destacaram-se a criação de conhecimento e
aprendizagem e o reconhecimento do valor e da necessida-
de da inovação. Sob o ponto de vista teórico, os resultados
deste estudo avançam na identicação e compreensão de
habilitadores que, apesar de facilitarem o desenvolvimento
e implementação de inovações para o mercado da base da
pirâmide, encontram-se dispersos na literatura, sem que haja,
inclusive, uma nomenclatura unânime acerca dos mesmos.
Sob a perspectiva dos praticantes, as evidências deste estudo
contribuem para que gestores tenham a percepção de quais
fatores internos e externos podem habilitar as organizações
a inovar nesse mercado.
Palavras-Chave: Inovação; Habilitadores; Base da Pirâmide;
Baixa Renda.
ABSTRACT
This paper aims to analyze the characteristics of the innovation
enablers for the bottom of the pyramid in the Brazilian con-
text. The strategy used in this research was the multiple case
study conducted at three rms operating in dierent sectors.
The results evidenced that the main external enablers of the
organizations were economic stability, public policies and
suppliers’ quality. Among the internal enablers were the crea-
tion of knowledge and learning, and recognition of the value
and necessity of innovation. From the theoretical viewpoint,
the outcomes of this study advance towards identifying and
understanding enablers, which – despite facilitating the deve-
lopment and implementation of innovations for the market at
the bottom of the pyramid –, are dispersed in the literature, in
that publications do not even use a unanimous nomenclature
to address them. From the perspective of practitioners, the
evidence from this study contribute to managers’ perception
of what internal and external factors can enable organizations
to innovate in this market.
Key Words: Innovation; Enablers; Bottom of the Pyramid;
Low In come.
HABILITADORES DE INOVAÇÃO
PARA A BASE DA PIRÂMIDE
Innovation Enablers for the Bottom of the Pyramid
Katarina Leal Chaves Lacerda
Mestre em Administração. Universidade Federal da Paraíba.
João Pessoa, PB. Brasil. e-mail: katarinalacerda@gmail.com
André Gustavo Carvalho Machado
Doutor em Administração. Docente do DA/PPGA/MPGOA.
Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, PB. Brasil.
e-mail: agcmachado@gmail.com
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Revista de Ciências da Administração • v. 21, n. 53, p. 39-56, Abril. 2019
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-8077.2019V21n53p39
Recebido em: 28/04/2017
Revisado em: 09/06/2019
Aceito em: 25/06/2019
Katarina Leal Chaves Lacerda André Gustavo Carvalho Machado
Revista de Ciências da Administração • v. 21, n. 53, p. 39-56, Abril. 2019
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1 INTRODUÇÃO
O mercado da base da pirâmide constitui um
grupo de extrema variedade social, o que diculta
uma denição única e aplicável a todas as suas seg-
mentações (PRAHALAD, 2010). No caso brasileiro,
a base da pirâmide (BoP) inclui as classes sociais E,
D, C2 e C1, as quais apresentam expectativas de con-
sumo diferentes (ANDE; EBAY FOUNDATION; ICE,
2015; LIMA; MACHADO, 2018), exigindo, portanto,
que as empresas se esforcem para o desenvolvimento
de inovações que atendam às distintas necessidades
desses consumidores (VISWANATHAN; SRIDHA-
RAN, 2012).
Para alcançar essa nalidade, as empresas
devem considerar o desao gerencial de comercializar
para os consumidores da BoP e ajudá-los a melho-
rar suas vidas por meio da produção e distribuição
de produtos e serviços de maneira culturalmente
sensível, ambientalmente sustentável e economica-
mente rentável, o que implica o desenvolvimento de
modelos de negócios voltados a proporcionar apoio
a essa inovação (PRAHALAD; HART, 2002; HART;
CHRISTENSEN, 2002; PRAHALAD, 2012; VAN
DER MERWE et al., 2018). A inovação para a base da
pirâmide tem o potencial, assim, de gerar um impacto
social que cria valor e vantagem competitiva para a
empresa, ao mesmo tempo em que contribui para a
diminuição da pobreza nesta camada social (PRAH-
ALAD; HART, 2002; VAN DER MERWE et al., 2018).
Certos fatores (internos ou externos à orga-
nização), por sua vez, têm o potencial de inuenciar
o processo de inovação em direção ao sucesso das
atividades planejadas para o mercado da baixa renda.
Esses fatores são aqui denominados habilitadores
da inovação para a base da pirâmide. Apesar de sua
importância, são poucas as pesquisas que abordam
o desenvolvimento de inovações em produtos para
a BoP nas economias emergentes (RAY; RAY, 2011).
Somado a esse fato, resultados de uma revisão da
literatura empreendida em diferentes bases de dados,
compreendendo artigos publicados entre os anos
2000 e 2018, evidenciaram uma surpreendente es-
cassez de estudos que especiquem, com clareza e de
forma sistematizada, quais fatores habilitam empresas
a inovar neste mercado, constituindo-se, pois, uma
lacuna a ser preenchida.
Além disso, a maioria dos estudos empreen-
didos para compreender as inovações para os con-
sumidores da baixa renda é oriunda de um cenário
diferente do brasileiro, o que sugere que mais esforços
devam ser realizados para esclarecer as características
locais dos habilitadores das inovações para a BoP. A
premência de pesquisas com esta nalidade é desta-
cada por Oliveira e Machado (2016) e se torna ainda
mais evidente na medida em que empresas que foca-
lizam o público de baixa renda no mercado nacional
têm conseguido obter desempenhos signicativos
em termos de crescimento, lucros e resultados ope-
racionais, quando comparadas àquelas voltadas paras
as classes A e B (SPERS; WRIGHT, 2006; WRIGHT;
SPERS, 2011).
Nessa perspectiva, o problema de pesquisa
elaborado em forma de questão foi o seguinte: como
se caracterizam os habilitadores de inovação para a
base da pirâmide no contexto brasileiro? O objetivo
desse artigo, portanto, é analisar as características dos
habilitadores de inovação para a base da pirâmide no
contexto brasileiro. Para o alcance desse objetivo, a
estratégia de pesquisa adotada foi de estudo de casos
múltiplos em três empresas de setores distintos.
Esse estudo se diferencia dos demais na
medida em que apresenta evidências empíricas a
respeito dos fatores que contribuem para a melhoria
do desempenho do processo de inovação de produtos
desenvolvidos para atender aos consumidores de bai-
xa renda no âmbito nacional. Ademais, os resultados
avançam no entendimento de como os habilitadores
internos são selecionados e explorados pelas empre-
sas e de como os habilitadores externos inuenciam
as inovações.
O artigo está assim estruturado: após a con-
textualização do tema e apresentação do problema,
objetivos e relevância da pesquisa na seção intro-
dutória, a seção seguinte discute os habilitadores
de inovação dispostos na literatura. Na terceira e na
quarta seção são apresentados, respectivamente, os
procedimentos metodológicos e os resultados dos
três casos selecionados. Na última seção, os achados
são discutidos transversalmente e as considerações
nais são delineadas.

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