Gerenciamento por decisões operacionais: alternativa para evitar reportar prejuízos

AutorNevison Amorim Pereira - Marcelo Tavares
CargoDoutor em Ciências Contábeis (UFU) - Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas (ESALQ/USP)
Páginas64-79
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Artigo
Original
Artigo
Original
Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 18, n. 46, p. 64-79, jan./mar., 2021.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 2175-8069. DOI : https://doi.org/10.5007/2175-8069.2021.e71102
Gerenciamento por decisões operacionais: alternativa para
evitar reportar prejuízos
Real earnings management: an alternative to avoid reporting losses
Gestión de resultados reales: una alternativa para evitar reportar pérdidas
Nevison Amorim Pereira*
Doutor em Ciências Contábeis (UFU)
Administrador na Universidade Federal de Uberlândia,
Uberlândia/MG, Brasil
nevison@ufu.br
https://orcid.org/0000-0001-7168-0267
Marcelo Tavares
Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas (ESALQ/USP)
Professor do Programa de Pós-Graduação em
Ciências Contábeis (UFU), Uberlândia/MG, Brasil
mtavares@ufu.br
https://orcid.org/0000-0003-3008-3460
Endereço do contato principal para correspondência*
Av. João Naves de Ávila, 2121, Bloco 3P, sala 203, Santa Mônica, CEP: 38.400-902, Uberlândia/MG, Brasil
Resumo
O objetivo desse trabalho foi verificar se as empresas brasileiras listadas na Brasil, Bolsa, Balcão [B]
3
utilizaram-se do gerenciamento de resultados por atividades reais para evitar reportar prejuízos. A amostra é
composta por 157 empresas brasileiras de capital aberto, somando 1570 observações no período de 2008 a
2017. Utilizou-se o modelo de Roychowdhury (2006) para mensurar o gerenciamento de resultados. Para a
análise dos dados, utilizaram-se os modelos de regressão linear múltipla. Quanto aos resultados, evidenciou-
se que o gerenciamento de resultado baseado em decisões operacionais foi confirmado nas empresas que
apresentaram margem de lucro entre 0 e 1%.
Palavras-chave: Gerenciamento de resultados; Decisões operacionais; Reportar prejuízos
Abstract
The aim of this work was to verify whether Brazilian companies listed in Brazil, Bolsa and Balcão [B]
3
used
real earnings management to avoid report losses. The sample consists in 157 Brazilian publicly trading
companies, totaling 1570 observations from 2008 to 2017. The Roychowdhury model (2006) was used to
measure earnings management. For data analysis, multiple linear regression models were used. As for the
results, evidence showed that earnings management based on operational decisions was confirmed in
companies that presented a profit margin between 0 and 1%.
Keywords: Earnings management; Operational decisions; Report losses
Resumen
El objetivo de este trabajo fue verificar si las empresas brasileñas que cotizan en Brasil, Bolsa y Balcão [B]
3
utilizaban la gestión de resultados reales para evitar pérdidas en el informe. La muestra de 157 empresas
brasileñas que cotizan en bolsa, con un total de 1570 observaciones de 2008 a 2017. Para medir la gestión
de resultados se utilizó el modelo de Roychowdhury (2006). Para el análisis de datos se utilizaron modelos
de regresión lineal múltiple. En cuanto a los resultados, la evidencia mostró que la gestión de resultados
basada en decisiones operativas se confirmó en empresas que presentaron un margen de utilidad entre 0 y
1%.
Palabras clave: Gestión de resultados; Decisiones operativas; Informar pérdidas
1 Introdução
O gerenciamento de resultados é um dos temas de interesse nas pesquisas da área contábil, o que
pode ser explicado pela preocupação dos reguladores, acionistas e da mídia em relação ao funcionamento
do mercado de capitais e à qualidade dos resultados divulgados pelas entidades (Barton, 2001).
Nevison Amorim Pereira, Marcelo Tavares
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Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 18, n. 46, p. 64-79, jan./mar., 2021.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 2175-8069. DOI : https://doi.org/10.5007/2175-8069.2021.e71102
Na medida em que os gestores estão preocupados em melhorar os indicadores de desempenho atual,
eles têm incentivos para inflar seus lucros atuais (Kim & Sohn, 2013). Podem-se citar incentivos como atender
as previsões dos analistas e investidores (Scott, 2012) e manter o lucro estável e previsível (Martinez, 2013).
Contudo, a prática de gerenciamento de resultados pode ter outros objetivos, como reduzir a variabilidade
dos lucros em virtude de fatores externos, como instabilidade econômica. Portanto, o lucro pode advir das
ações de gerenciamento de resultados que distorcem essa medida de desempenho.
Pesquisas envolvendo gerenciamento de resultados comumente focam nos lucros dado a importância
desta variável no mercado (Rodrigues, Melo, & Paulo, 2019). Os gestores julgam o lucro, a métrica central a
ser considerada pelos outsiders (Graham, Harvey, & Rajgopal, 2005). Nesse sentido, Dichev, Graham, Harvey
e Rajgopal (2013) verificaram que a principal importância do lucro, na visão dos gestores, refere-se à
possibilidade de os investidores avaliarem a empresa, e os dois benchmarks mais significativos são os lucros
trimestrais, em relação ao mesmo período do ano anterior, e as estimativas de lucro dos analistas. Além disso,
atender ou exceder os benchmarks é pertinente, visto que os executivos acreditam que atingi-los gera
credibilidade junto ao mercado (Graham et al., 2005). Nesse raciocínio, eles estão dispostos a praticar o
gerenciamento de resultados e sacrificar o desempenho futuro de suas empresas a fim de atender às metas
de relatórios financeiros do período atual (Rodrigues et al., 2019).
Em geral, os gerentes deturpam positivamente as informações financeiras da empresa na esperança
de distorcer a avaliação do mercado e sinalizar valor positivo, logo, influenciam na percepção dos usuários
externos sobre as condições financeiras e econômicas da empresa (Kothari; Mizik, & Roychowdhury, 2016).
Portanto, os relatórios contábeis das empresas têm informações que podem sofrer ajustes por parte dos
gestores (Sincerre, Sampaio, Famá, & Santos, 2016).
As pesquisas que abordam o gerenciamento de resultados indicam que os gerentes têm poder
discricionário sobre recursos além de incentivos para divulgar o lucro, ou seja, a discrição e os incentivos
estão entrelaçados no cotidiano das empresas (Han, Rezaee, & Tuo, 2019). Zang (2012) notou que o
gerenciamento do lucro é feito inicialmente por atividades operacionais (reais) e, posteriormente, caso
necessário, por accruals.
Segundo Roychowdhury (2006), as proxies utilizadas para verificar o gerenciamento por atividades
reais são o fluxo de caixa operacional, as despesas com vendas, gerais e administrativas e os níveis de
produção. Estudos nacionais (Reis, Cunha & Ribeiro, 2014; Reis, Lamounier, & Bressan, 2015; Rodrigues;
Paulo & Melo, 2017) não verificaram a utilização de todas essas proxies pelas empresas brasileiras na prática
deste tipo de gerenciamento.
Cohen, Dey e Lys (2008) consideram provável que as empresas que gerenciam os lucros para cima,
por meio das atividades operacionais, tenham uma combinação de fluxo de caixa excepcionalmente baixo
das operações, e/ou despesas discricionárias baixas e/ou custos de produção excepcionalmente altos.
Rodrigues et al. (2017) e Dal Magro, Lavarda e Klann (2019) destacam que os estudos não têm dado
ênfase para o gerenciamento de resultados mediante atividades reais, havendo a necessidade de ampliar o
número de pesquisas sobre essa vertente. Logo, esse estudo visa suprir parte desta lacuna. Nesse contexto,
a questão problema que norteia essa pesquisa é: quando as empresas estão propensas a apresentarem
resultados negativos no período, elas fazem uso do gerenciamento de resultados por atividades operacionais?
Assim, o objetivo é verificar se as empresas brasileiras listadas na Brasil, Bolsa, Balcão [B]
3
evitaram
reportar prejuízos baseado no gerenciamento de resultados por atividades operacionais. Especificamente, o
estudo tem por finalidade verificar se as três proxies de gerenciamento por atividades reais são empregadas
pelas empresas.
O trabalho se justifica, pois, a prática de gerenciamento de resultados por decisões operacionais
compromete a confiabilidade das demonstrações contábeis e acaba interferindo na tomada de decisão dos
stakeholders (Man & Wong, 2013). Esse estudo traz uma contribuição prática ao apontar o comportamento
das organizações na iminência de apresentarem possíveis prejuízos e, por conseguinte, para a tomada de
decisão dos usuários da informação contábil. Em relação à contribuição teórica, esse trabalho colobora ao
analisar se as formas de gerenciamento de resultados por atividades reais foram todas empregadas.
2 Fundamentação Teórica
A contabilidade visa subsidiar a tomada de decisão dos usuários, procurando fornecer informações
contábeis fidedignas e confiáveis (Paredes & Wheatley, 2017). Contudo, os gestores possuem
discricionariedade no julgamento de fatos contábeis, podendo alterar as demonstrações financeiras (Kothari
et al., 2016). Dal Magro et al. (2019) destacam que a Teoria da Agência tem sido utilizada para guiar a maioria
dos estudos sobre gerenciamento de resultados, apresentando duas explicações: o comportamento
oportunista dos gestores que visa não demonstrar informações relevantes da contabilidade para as partes
interessadas e o reporte da informação contábil usada na comunicação entre as partes.
A Figura 1 resume os principais aspectos a respeito do gerenciamento de resultados. Conforme Lo
(2008), podem-se levantar os seguintes questionamentos quanto ao tema: quem faz, por que faz, como faz,
modalidades de gerenciamento e quem são as “vítimas”.

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