Exaltação da beleza

AutorWladimir Novaes Martinez
Ocupação do AutorAdvogado especialista em Direito Previdenciário
Páginas194-197

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"Vivemos em plena cultura da aparência: o contrato de casamento importa mais do que o amor, o funeral mais que o morto, as roupas do que o corpo e a missa mais do que Deus" - obtemperou Eduardo Galeno.

No bom sentido da locução, o Estado deverá tentar promover o máximo de gozo aos cidadãos; todavia, isso é pedir demais. Para tanto, às vezes, o governo é obrigado a interferir na vida privada e adota uma bandeira do laissez faire, laissez aller, laissez passer.

Nesse sentido justiicam-se observações que sejam pertinentes à estética dos transeuntes dos passeios públicos. Carece compreender a postura do povo para compreender o Estado.

A beleza é convenção impositiva deluente da natureza: as espécies mais apuradas têm mais ensejo de se reproduzirem e de prosperarem.

O que é belo agrada a todos. Foi programado pela ordem natural das coisas e em hipótese alguma poderá ser reprovado por quem quer que seja, até mesmo por um esteta ocupado em ser um ditador vigente da moda.

Quem alegar não desejar o que é bonito nem admirar o belo ou desprezar o nascer ou o pôr do sol, preferindo a visão usual, o equilíbrio nivelante ou um céu sem nuvens, é moralmente um cegueta, desavisado ou insensível: não será cogitado em tais conjecturas artísticas.

Essas questões não despertam incertezas e irmam jurisprudência. Por outro lado, a beleza gratuita não é a suprema norma.

Exigida dos artistas e dos galãs e nas coisas da arte, no plano das relações entre indivíduos ela deveria conhecer limitações.

Mas não tem.

À evidência, os que falam mal das feias não têm razão: as não bonitas não devem perdoá-los. William Sheakespeare: "Oh! Ela ensina as luzes a brilharem" (Romeu e Julieta, Ato I).

São palavras do grande Mário Quintana:

"Do belo/Nada, no mundo é, por si mesmo, feio/Inda a mais vil mulher, inda o mais triste poema/ Palpita sempre nele o divino anseio/Da beleza suprema".

Ele mesmo disse: "Mulher, mulher, eu te amo tanto, mas tanto, que até pelo seu marido tenho um certo quebranto".

Prevalência do corpo

Depois que as revistas passaram a publicar fotos de mulheres ou homens esbeltos, sarados e bronzeados, a indústria farmacêutica e cosmética percebeu que poderia produzir e comercializar os rejuvenescedores, as virtudes morais foram postas de lado e perderam algum signiicado.

Mulheres lindas que são pobres de espírito surpreendem-se duas vezes: quando elas atraem os homens em função de suas medidas esculturais e curvilíneas e, aos perdê-los por conta da mesma centimetragem. E elas não atinam com o que lhes aconteceu...

Constrói-se uma sociedade que valoriza em excesso a parte exposta da beleza em detrimento da interioridade.

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Seria natural e aceitável, caso os despojados desses belos atributos não padecessem as próprias consequências.

Quem vende sua esbelteza deveria saber que prejudica o gênero de que faz parte. É ledo engano julgar que, assim, de alguma forma, ludibriará as pessoas...

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