Étant donnés: Raúl viu a vulva (¡Ave María!)

AutorCarlos Eduardo Schmidt Capela
Páginas5-20
|boletim de pesquisa nelic, florianópolis, v. 18, n. 29, p. 5-20, 2018|
doi:10.5007/1984-784X.2018v18n29p5 5
ÉTANT DONNÉS
RAÚL VIU A VULVA AVE MARÍA!)
Carlos Eduardo Schmidt Capela
UFSC – CNPq
RESUMO: Tanto na edição argentina, Maria con Marcel (Duchamp en los trópicos), de 2006, quanto
na brasileira, Maria com Marcel (Duchamp nos trópicos), de 2010, ambas versões de um dos livros-
-chave assinados por Raúl Antelo, comparece uma fotografia do autor “atrás do Pequeno vidro de
Marcel Duchamp”, como nelas informado, indicação a que segue a referência: “Museum of Modern
Art, Nova Iorque, 2004. Foto A.G.” Tal fotografia constitui o porto de partida para a proposição de
um conjunto de reflexões acerca das potências anartísticas, desdobradas de uma série de coinci-
dências duchampianas, dispostas pelo exercício anarcrítico anteliano ao longo daquele mesmo livro
tornado outro de si.
PALAVRAS-CHAVE: Raúl Antelo; Marcel Duchamp; Maria Martins; Evanescências; Incontinências.
ÉTANT DONNÉS
RAÚL SAW THE VULVA AVE MARÍA!)
ABSTRACT: Both in the Argentine edition, María con Marcel (Duchamp en los trópicos), 2006, and
in the Brazilian edition, Maria com Marcel (Duchamp nos trópicos), 2010, versions of one of the key
books signed by Raúl Antelo, there is a photograph of the author “behind the Small Glass of Marcel
Duchamp”, as informed in them, indication that follows the reference: “Museum of Modern Art,
Nova Iorque, 2004. Foto A.G.” Such a photograph constitutes the starting port for the proposition
of a set of reflections about the anartistics powers, unfolded in a series of Duchampian coincidences,
arranged by the anarcritic Antelian exercice in the same book, made another of itself.
KEYWORDS: Raúl Antelo; Marcel Duchamp; Maria Martins; Evanescences; Incontinences.
Carlos Eduardo Schmidt Capela é professor de Teoria Literária no Departamento de Língua e
Literatura Vernáculas e professor do Programa de Pós-Graduação em Literatura da Universidade
Federal de Santa Catarina.
|boletim de pesquisa nelic, florianópolis, v. 18, n. 29, p. 5-20, 2018|
doi:10.5007/1984-784X.2018v18n29p5 6
ÉTANT DONNÉS
    !)
Carlos Eduardo Schmidt Capela
U  ,
É intrigante imaginar o conjunto de acidentes que levaram à invulgar cir-
cunstância de que a sigla do então mais novo museu carioca – o museu no
qual estivemos reunidos para prestar uma justa homenagem a Raúl Antelo,
em outubro de 2014 – seja MAR, exatamente a sequência e a figura, a palavra
e a extensão que introduzem, ao modo de um prefixo singular cuja ordem é a
da expansão, o nome das duas personagens principais de um dos livros mais
instigantes entre nós ultimamente publicados, MARia com MARcel, resultado
do denso, arguto e minucioso estudo levado a efeito pelo nosso homenagea-
do. Em sendo assim, como seria possível, após eu ter me imaginado imerso no
MAR no qual súbito nos surpreenderíamos em sã deriva, como teria sido pos-
sível que eu deixasse de me concentrar naqueles MARES tão bem explorados
pela nau anteliana?1
E não apenas o MAR das artes, o museu aquele situado defronte ao líquido
e certo mar, pode fornecer, decerto, um seguro porto de partida para as aven-
turas inerentes à proposição de um trajeto de leitura orientado pelo prévio, e
complexo, roteiro reflexivo empreendido por Raúl Antelo. Os MARES, afinal,
posto que legião, nos fazem perder a vista, de tão estendidos perdem-se de
vista, embora persistam desafiando o olhar. Seja como for, entre o MAR guar-
dião de tantas memórias e os imensos MARES conjungidos no título do livro
há, de todo modo, outros portos, outros museus com seus arquivos e reservas
várias, de onde é muito bem possível partir ao encontro do pensamento pre-
disposto do autor. O Museum of Modern Art, de Nova Iorque, é um deles. De
lá aporta, nas duas versões em que um mesmo livro feito outro apareceu, uma
expressiva fotografia.
1 Maria con Marcel (Duchamp en los trópicos), de Raúl Antelo, foi a princípio lançado na Ar-
gentina, em 2006, pela Siglo veintiuno editores, de Buenos Aires. No Brasil Maria com Marcel
(Duchamp nos trópicos) foi publicado poucos anos depois, em 2010, pela Editora da UFMG, de
Belo Horizonte. A versão brasileira contou com o acréscimo de algumas seções, concentradas
sobretudo na conclusão, “O retorno da mesma figura”, que na edição argentina constitui o
sétimo e derradeiro capítulo. Parte das imagens presentes nesta última, por outro lado, foram
suprimidas na versão local.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT