Envelhecimento populacional e as condições de rendimento das idosas no Brasil

AutorCristiane Soares
Páginas167-185
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Niterói, v.12, n.2, p. 167-185, 1. sem. 2012
ENVELHECIMENTO POPULACIONAL E AS CONDIÇÕES
DE RENDIMENTO DAS IDOSAS NO BRASIL
Cristiane Soares
E-mail: cristiane.soares@ibge.gov.br
Resumo:A redução das taxas de fecundidade e de mortalidade no caso
brasileiro tem sido responsável pela configuração de um novo padrão de-
mográfico, no qual se observa uma sobrevida das mulheres. A questão da
“feminização” do envelhecimento é apontado como um problema para as
políticas públicas, considerando o perfil sociodemográfico das idosas. A
grande maioria das idosas não contribuiu para a Previdência Social e tem
baixa escolaridade. A falta de rendimento e o não reconhecimento do tra-
balho reprodutivo das mulheres as colocam, muitas das vezes, em situação
de dependência. Este estudo mostra que, do ponto de vista quantitativo,
as políticas assistenciais têm atingido seu público-alvo – principalmente as
mulheres idosas em situação de pobreza.
Palavras-chave: envelhecimento populacional; idosos; rendimento; gênero.
Abstract:The reduction of the fertility and mortality rates in Brazilian case
has been responsible for the configuration of the new demographic stan-
dard, with a surplus of women. The question of“feminization” of the elderly
peoplehas been considereda problem for public policies, according to their
socio-demographic profile. Most women did not contribute for the social
security and has loweducation. Furthermore, most women do not receive
any earning and there is no recognition of their reproductive work. So, se-
veral women in this age are in condition of economic dependence. In this
article we show, in a quantitative perspective, the aim of the social policy
has been reached – mainly women in condition of poverty.
Keywords: population ageing; elderly people; income; gender.
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Introdução
No Brasil, a literatura recente em demografia tem exaustivamente
abordado a questão do envelhecimento populacional como um proces-
so acelerado, caracterizado pela queda da mortalidade e da fecundidade1
(BELTRÃOet al, 2004a, AGOSTINHO; MÁXIMO, 2006, CAMARANO, 2002, en-
tre outros). A sobrevida das mulheres, as mudanças no âmbito da família,
as condições de vida dos idosos e as implicações para o regime de Pre-
vidência Social são alguns temas que têm tido destaque nessa discussão
(FÍGOLI, 2001, NASCIMENTO, 2001, ANDRADE, 2001).
No que se refere à sobrevida das mulheres e às mudanças no âmbito
da família, Moreira (2001) e Nascimento (2001) destacam a “feminização”
do envelhecimento populacional, que é explicada pelos diferenciais de
mortalidade entre homens e mulheres,tendendo a se ampliar nos grupos
etários mais avançados. Nascimento (2001) aborda ainda a realidade das
mulheres idosas quanto ao suporte familiar e afirma que, com a redução
do tamanho das famílias e a entrada das mulheres no mercado de trabalho,
funções tradicionalmente e culturalmente atribuídas às mulheres, como o
cuidado dos idosos, são parcialmente transferidas para o Estado. Para ele, a
questão da “feminização” do envelhecimento é um problema para as polí-
ticas públicas não somente sob o aspecto quantitativo, mas em relaçãoao
perfil dessas novas beneficiárias. Essa geração de mulheres, na sua maioria,
não participou do mercado de trabalho, e mesmo aquelas que trabalha-
ram tiveram como principal porta de entrada o serviço doméstico, marca-
do pela baixa formalização. Além disso, um elevado contingente de idosas
é pouco escolarizado e com baixa qualificação profissional.
De acordo com Nascimento (2001), a situação demográfica atual
numa perspectiva de gênero reflete não somente o diferencial de morta-
lidade, mas uma organização social na qual homens e mulheres têm pa-
péis bastante diferenciados. Histórica e culturalmente, a mulher assume
uma posição subalterna e dependente. Mas essa realidade está mudando
e,certamente, um novo perfil da população idosa irá se delinear nos próxi-
mos anos. A maior participação das mulheres no mercado de trabalho, o
número crescente de mulheres chefes de família, uma maior escolarização
feminina, entre outros aspectos, configurarão esse novo perfil.
1 De acordo com Beltrão et al(2004a), em 1940, a proporção de pessoas com 60 anos ou mais de idade era de
4% e de 8,6% em 2000. Estima-se que em 2020 esse percentual será de 14%.

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