Entrevista com o ministro Sydney Sanches

AutorFernando de Castro Fontainha/Marco Aurélio Vannucchi Leme de Mattos/Leonardo Seiichi Sasada Sato
Páginas49-187
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SYDNEY SANCHES
Apresentação; origem familiar; infância e educação
em Pitangueiras e Araraquara, São Paulo, entre 1933 e
1953; primeiro emprego na infância como datilógrafo
em cartório; surgimento do interesse pelo Direito
e magistratura; contatos com o desembargador
Valentim Alves da Silva
 Ministro, a gente sempre co-
meça essas entrevistas pedindo para o senhor nos dizer o seu
nome completo, o nome dos seus pais, a cidade onde o senhor
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 Já vou respondendo. Bem, eu sou
nascido em Rincão, uma cidade pequena próxima a Araraqua-
ra. Meu pai era ferroviário, e por isso é que eu nasci lá, minha
mãe estava lá. E nasci no dia 26 de abril de 1933. Depois...?
 Como se chamavam seus pais?
 Meu pai, José Sanches Martins, e minha mãe, Henriqueta
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 Ambos eram a primeira geração no Brasil? Eles mesmos
eram brasileiros? Ou não?
 Não. Eles já eram brasileiros. Os pais vieram naquela
época em que a Itália andou vindo para o país, não é, boa parte
da população italiana, e espanhola, também, no começo do sé-
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ela, de italianos.
  Ministro, como é que o senhor descreveria a sua casa
na infância? Como foi a sua infância? O senhor tinha irmãos?
Como foi a casa onde o senhor cresceu?
 Bem, como meu pai era ferroviário, ele era promovi-
do, de vez em quando, de uma estação para outra, até chegar
a chefe de estação. Então, em Rincão, eu nasci lá, mas saí de lá
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com dois anos de idade. Passamos por Bebedouro, que é uma
cidadezinha maior, e, depois, por Pitangueiras, onde eu passei
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pude fazer o ginásio porque não tinha ginásio. Aí, fui fazer o gi-
násio em Araraquara. Mas meu pai continuou, ainda, a carreira
dele e foi para Colina. Colina é perto de Barretos, e foi lá que
conheci minha mulher. Eu já estava, a essa altura, no segundo
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Depois, o terceiro clássico, o cursinho, o vestibular e o primei-
ro emprego em São Paulo, e a primeira pensão onde eu morei,
tudo foi em 1953, já estava com 20 anos. Passei no primeiro
vestibular, não houve problema, e emprego, eu arrumei fácil,
porque eu era muito bom datilógrafo. Comecei a trabalhar, em
Pitangueiras, com 11 anos de idade, em cartório, e me tornei
um bom datilógrafo, e com isso aqui... E era o que mais se pre-
cisava aqui em São Paulo, naquela época, porque tudo era feito
à mão, depois era passado à máquina. E era o que eu fazia. Uma
parte, eu fazia à mão, um setor de serviço de procurações, e a
outra parte, eu era datilógrafo. E ganhava por linha. E como eu
era muito bom datilógrafo eu ganhava bem, ganhava bem para
a minha idade e para a minha posição, que nunca tinha tido sa-
lário bom. Eu tinha vindo de uma cidade pequena. Até que meu
pai me interpelou, quando soube que eu estava ganhando X,
porque ele estava ganhando menos. Aí tive que responder por
quê: porque eu tinha feito 50 mil linhas como datilógrafo. E ga-

eu acabei me formando em Direito batendo máquina. E, mes-
mo depois de advogado, continuei no mesmo prédio onde era
o último cartório que eu trabalhei aqui em São Paulo, que era
tabelionato; não era já mais cartório judicial. O de Pitangueiras
era cartório judicial, que envolvia inquérito policial, envolvia
registro de imóveis, registro de títulos e documentos. Foi ali
que eu comecei, então, o contato com juízes, promotores e ad-
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SYDNEY SANCHES
vogados. E depois fui para um cartório judicial e mais ainda...
Foi mais aproximado o meu contato, e eu tive contato com de-
legado, promotor, juiz, advogado. Aquele que me entusiasmou
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sei. Mas foi. Eu percebi a importância dele na cidade. Tudo ele
decidia: ele decidia sobre honra, sobre liberdade, sobre falên-
cia, sobre concordata, sobre casamento, sobre inventário, so-
bre arrolamento, sobre testamento. Tudo isso, quem decidia
era o juiz. Os outros... Os advogados preparavam, o promotor
opinava, o escrivão preparava, o delegado funcionava nos ca-
sos de inquérito policial, de crime, mas quem decidia mesmo
era o juiz. Então eu via nele uma grande responsabilidade no
meio social, e me entusiasmei por aquilo. Por sinal, uma das
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vim passar as férias em Pitangueiras, e meu pai me disse que
o juiz estava precisando de um datilógrafo porque ele estava
preparando um livro sobre... Um repertório de jurisprudência
do Código Penal. E eu fui incumbido por ele de datilografar as
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dãos que eu mais datilografava eram os do Supremo Tribunal
Federal, sem nunca pensar que um dia eu poderia ser ministro
do Supremo Tribunal Federal. Aliás, não sabia nem que eu ia
me formar em Direito. Não sabia nem que ia ser juiz de Direito.
De maneira que aquilo foi um contato assim, bem importante

queria ser juiz mesmo.
-
mou essa convicção? Alguma lembrança particular?
 Bom, os meus contatos...
 Algum nome em particular que o inspirou?
 Quando eu comecei a trabalhar, eu tinha 11 anos de ida-
de. Foi em 1944. Tinha saído do grupo escolar em 1943. Então,

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