Elementos para entender a transposição do Rio são Francisco

AutorAltair Sales Barbosa
CargoAltair Sales Barbosa é professor titular do Instituto do Trópico Subúmido da Universidade Católica de Goiás (UCG). [altair@ucg.br]
Páginas48-56
ELEMENTOS PARA ENTENDER A
TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO
ALTAIR SALES BARBOSA *
1. OS AFLUENTES DO SÃO FRANCISCO
Os afluentes da margem esquerda são os principais responsáveis pela
perenização do rio São Francisco, pela sua oxigenação e, em última instância,
pelo seu nascedouro e existência. A água armazenada neste grande espaço
geográfico abrange da Serra da Canastra, ao sul, até a Chapada das
Mangubeiras, ao norte, e se limita a oeste pelo Espigão Mestre, que separa
Goiás e Tocantins de Minas Gerais e Bahia. Nos Chapadões formados a leste
do Espigão Mestre existem grandes depósitos de arenito que constituem a
formação geológica denominada Urucuia, de idade cretácea, formada entre
140 e 65 milhões de anos. A formação Urucuia repousa sobre a Formação
Bambuí, calcário de idade pré-cambriana e paleozóica inicial, com idade média
de 1 bilhão de anos. Essas duas formações geológicas armazenam a água
que forma dois grandes aqüíferos, respectivamente denominados Bambuí e
Urucuia, responsáveis pelas águas que fazem jorrar a nascente do São
Francisco e de todos os seus afluentes da margem esquerda, agrupados em
dois grandes conjuntos em função de secções geomorfológicas.
O primeiro se situa da Serra da Canastra (MG) à Serra da Capivara, na
fronteira entre Minas Gerais e Bahia; o segundo, desta Serra até os
contrafortes da Chapada das Mangabeiras, na fronteira entre Bahia,
Tocantins, Piauí e Maranhão. Entre os rios do primeiro conjunto se destacam o
Abaeté, o Paracatu, o Urucuia, e o Pardo. A partir da Serra da Capivara, um
aglomerado de capilares aquosos forma importantes rios como o Carianha,
que deságua diretamente no São Francisco, além de uma série de outros
importantes cursos d’água, como os rios Pratudão, Pratudinho, Arrojado,
Correntina, do Meio, Guará etc., os quais se juntam nas proximidades de
Santa Maria da Vitória (BA), dando origem ao rio Corrente, que, por sua vez,
deságua no São Francisco, na altura de Bom Jesus da Lapa (BA). Mais ao
norte, outro grande conjunto de inúmeros capilares aquosos vêm desde o
Jalapão (TO) e se juntam num imenso volume de águas, dando origem ao rio
Grande, que deságua no São Francisco na cidade de Barreiras (BA). Todos
esses rios são perenes durante o ano inteiro mas, até cerca de trinta anos
atrás, seu volume era no mínimo cinco vezes maior que o atual.
A partir da década de 1970, as áreas dos chapadões onde se situam as
nascentes e os cursos médios desses rios vêm sofrendo uma grande
transformação, com a retirada da cobertura vegetal natural para a plantação de
grãos e outras plantas exóticas. Este fato tem impedido a realimentação
normal dos aqüíferos, contribuindo para o desaparecimento de inúmeros
afluentes menores e a diminuição drástica do volume dos cursos maiores. Em
outras palavras, o sistema de capilaridade aquosa está sendo drasticamente
afetado.

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