Editorial: entre o vírus e o estigma

AutorJoaci de S. Cunha
CargoCoeditor.
Páginas4-8
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 45, n. 249, p. 4-8, jan./abr. 2020 | ISSN 2447-861X |
doi>: http://dx.doi.org/10.25247/2447-861X.2020.n248.p4-8
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EDITORIAL: ENTRE O VÍRUS E O ESTIGMA
Esta edição dos Cadernos do CEAS vem à luz, quando o Brasil e as Américas se
encontram nas trevas. Aqui e alhures, suas lideranças estão mergulhados no desgoverno, de
braços dados com o neofascismo, ainda que com exceções nacionais; mas, ao Norte e ao Sul,
ameaçados por guerra civil, exacerbação do racismo, xenofobismo e genocídios.
Isso, genocídios no plural, porque além da covid-19, que em 2020 ceifa vidas às
centenas de milhares no Continente, apenas aparentemente sem olhar a quem, as ações e
omissões dos Estados avançam produzindo o secular extermínio dos povos indígenas da
grande Amazônia, dos afrodescendentes e dos povos originários. Vítimas prioritárias da
violência, esses povos e culturas agora estão submetidos ao efeito d e um velho instrumento
colonial, um vírus, o novel SARS-CoV-2. Todavia, o tr istemente popular coronavírus, que
devasta prioritariamente aos negros, amazônidas e aos mais pobres de qualquer etnia,
amontoados nas favelas urbanas e rurais das Américas, não age sozinho. Conta com a política
genocida de vários Estados da imensa América.
Uma clara necropolítica que passa por diversos caminhos, desde a secular violência
policial, a segregação sócio-étnico-espacial, a destruição de sistemas de saúde públicas e
universais, a negativa de acesso à educ ação e demais direitos sociais até a super-exploração
do trabalho e da natureza.
Os Cadernos do CEAS, que em sua trajetória cinquentenária dedica-se à análise crítica
dessas questões e tantas outras a essas correlatas, como a de auscultar movimentos e
iniciativas que apontam para uma necessária transformação desse status quo, na presente
edição tratará de quatro desses caminhos mencionados.
O primeiro, das questões ambientais, será abordado através das iniciativas da Igreja
Católica e do Papa Francisco, quanto ao importan te pr ocesso de conversão ecológica e
pastoral consubstanciado no Sínodo da Amazônia e conta com duas colaborações. No
segundo caminho, três artigos retomam temas importantes para repensar as relações sociais,
a governança democrática e os modos de distribuição e produção de alimentos,
especialmente, em tempos de colapso do modo de produção capitalista, envolto em sua mais
profunda crise desde os anos de 1930. Temas caros à trajetória da economia social e solidária,

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