Dinâmicas de gênero, emprego e trabalho

AutorIracema Brandão Guimarães
CargoUFBA
Páginas58-74
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, n. 243, p. 58-74, jan./abr., 2018 | ISSN 2447-861X
DINÂMICAS DE GÊNERO, EMPREGO E TRABALHO
Gender, Work and Job Dynamics
Iracema Brandão Guimarães (UFBA)
Informações do artigo
Recebido em 23/03/2018
Aceito em 21/04/2018
doi>: 10.25247/2447-861X.2018.n243.p58-74
Resumo
O acesso das mulheres ao mercado de trabalho ao
longo das últimas décadas tem sido analisado como
resultado de um complexo e lento processo de
mudanças socioculturais e econômicas. Neste último
aspecto, isso vem ocorrendo através de um longo
período de crescimento dos mercados de trabalho
em geral, o que perdurou no Brasil até os anos 70 com
o aumento do trabalho assalariado, observando-se,
nas décadas seguintes, a sua redução, sem que isso
afetasse a intensidade do trabalho das mulheres.
Essas tendências, de crescimento e de declínio do
emprego, em paralelo a o aumento da instabilidade
do trabalho, revelam-se como resultados de uma
dupla transformação econômica e de suas
características locais, ao tempo em que se aprofunda
a divisão sexual do trabalho e a precarização e
informalidade nas últimas décadas. O presente artigo
aborda algumas implicações dessas duas tendências
visando a contribuir com as análises do a cesso das
mulheres ao mercado de trabalho no País.
Palavras-Chave: Trabalho. Divisão Sexual. Gênero.
Serviços. Informalidade.
Abstract
Women's access to the labor market over the last
decades has been analyzed as a result of a complex
and slow process of socia l-cultural and economic
changes. But this has been occurring through a long
period of growth in labor markets in general, which
persisted in Brazil until the 1970s with the increase in
wage labor, and in the following decades it was
reduced without affecting the intensity of the labor
market, women's work. These trends of growth and
decline in stable employment, along with increased
instability, are seen as the result of a double
transformation of work and local characteristics,
while deepening the sexual division of labor and the
precariousness of decades. This a rticle addresses
some of the implications of these two trends in order
to contribute to the analyzes of women 's access to
the labor market in the country.
Keywords: Work. Sexual Division. Gender. Services.
Informal Work.
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, n. 243, p. 58-74, jan./abr., 2018 | ISSN 2447-861X
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Dinâmicas de gênero, emprego e trabalho | Iracema Brandão Guimarães
Os estudos sociológicos e históricos deram origem a duas abordagens sobre as
relações de poder exercidas sobre as mulheres: a problemática da divisão sexual do trabalho,
entendida como o suporte empír ico que permite a mediação entre relações sociais
(abstratas) e práticas sociais (concretas) como hipótese de médio alcance HIRATA;
KERGOAT, 2003, p. 114) o que remete aos mecanismos de poder, e a discussões sobre a
legitimação atribuída às relações de dominação, e às representações e estereótipos que se
reproduzem nos espaços de trabalho e acompanham a inserção das mulheres no mercado de
trabalho. E a problemática das r elações de gênero que busca uma correspondência com as
relações de poder supondo que permeiam as diferentes esferas sociais, cujas demarcações
são fluid as e não excludentes. Neste caso, compreende-se o gênero como elemento
constitutivo das relações sociais baseadas nas diferenças perceptíveis entre sexos; e/ou como
forma básica de representação de relações de poder apresentadas socialmente como
naturais (Scott, 1993).
Para os objetivos do presente trabalho, adotamos principalmente as contribuições da
primeira corrente, tendo em vista a necessidade de compreensão da heterogeneidade do
mercado de trabalho brasileiro que tem sido acentuada pelas profundas mudanças ocorridas
nas últimas décadas em consequência das dinâmicas gerais e locais da economia e das
esferas socioculturais de nossa sociedade. Diante disso, a oferta da força de trabalho tem-se
caracterizado por um grande crescimento da População Economicamente Ativa (PEA), que
passou de 17,1 milhões de pessoas, em 1950, par a 93,5 milhões de pessoas, em 2010 (último
censo demográfico), representando um aumento de 5,5 vezes (ALVES, 2013, p. 10). Neste
longo período, houve redução contínua da diferença e ntre homens e mulheres na PEA,
quando a participação masculina diminuiu de 80,8% para 67,1%, ao passo que a participação
feminina mais que triplicou, saltando de 13,6% para 49,9% (ALVES, 2013). Cabe esclarecer
que as mudanças metodológicas introduzidas nos instrumentos de coleta do Censo
Demográfico (IBGE) e das Pnad s (IBGE) podem refletir-se nos dados, a exemplo da inclusão
da produção familiar agrícola e de atividades para autoconsumo, mas a tend ência ao
aumento da participação feminina no longo prazo se confirma. Em outra font e, a Pesquisa
Mensal de Emprego (PME, IBGE) indica: - a participação das mulheres na População

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