Desenhos de resistência na cidade videovigiada: considerações sobre a recusa criativa no contexto biopolítico contemporâneo

AutorEledison de Souza Sampaio
CargoMestre em Desenho, Cultura e Interatividade pela Universidade Estadual de Feira de Santana
Páginas34-54
http://dx.doi.org/10.5007/1807-1384.2015v12n2p34
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não
Adaptada.
DESENHOS DE RESISTÊNCIA NA CIDADE VIDEOVIGIADA: CONSIDERAÇÕES
SOBRE A RECUSA CRIATIVA NO CONTEXTO BIOPOLÍTICO
CONTEMPORÂNEO
Eledison de Souza Sampaio
1
Resumo:
O texto tece considerações sobre o desenho de resistência na sociedade biopolítica
contemporânea. Em um primeiro momento, retoma uma discussão sobre as
“sociedades disciplinares” e “sociedades de controle”, para, posteriormente, colocar
a questão da resistência criativa como fluxos insurgentes nas cidades brasileiras.
Com isso, será possível demarcar alguns movimentos políticos atuais que apontam
para o caráter ambivalente da sociedade biopolítica contemporânea.
Palavras-chave: Disciplina. Controle. Videovigilância. Desenhos de Resistência.
Cidade contemporânea.
1 INTRODUÇÃO
Seguindo uma perspectiva interdisciplinar, este artigo elabora o tema da
resistência no contexto biopolítico contemporâneo. Para tanto, retoma uma leitura
minuciosa das obras de Michel Foucault (1988; 2008; 2013), sobretudo aquelas
onde o filósofo anuncia, com seus movimentos conceituais, aquilo que Gilles
Deleuze (1992) veio a denominar como sociedades de controle.
Para dar conta deste paradigma complexo e escorregadio, convém
incrementar uma investigação interdisciplinar da problemática que envolve os
processos de comunicação e a produção de subjetividades na sociedade
contemporânea. Como se sabe, quando os autores citados Michel Foucault e
Gilles Deleuze elaboram suas metodologias para o estudo do poder, expressam
um ponto de confluência, uma zona de intersecção, que é a que nos interessa neste
momento. Trata-se, em ambos, de uma avaliação ambivalente da sociedade, ou
melhor, de uma postura que emparelha as tentativas de homogeneização e os
esforços de diferenciação como condições intrínsecas ao sistema político
1
Mestre em Desenho, Cultura e Interatividade pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
Bacharel em Hum anidades pela Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA. E-mail:
eledisonsampaio@hotmail.com
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R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.12, n.2, p.34-54, Jul-Dez. 2015
contemporâneo. Neste caso, vale destacar que a perspectiva ultrapassa a
importante contribuição marxiana crítica ao modus operandi da sociedade
capitalista, sobretudo à violência de classe , mas não a descarta, já que, por detrás
das novas formas de poder, encontram-se velhas condições de dominação e
violência, principalmente em países pós-coloniais, a exemplo do Brasil.
Convém ressaltar que a abordagem possui um caráter dual, pois concebe
alguns efeitos antidemocráticos da videovigilância na cidade contemporânea, mas,
por outro lado, registra importantes movimentos de resistência. Grosso modo, o
poder assimila em suas dinâmicas relacionais as questões do controle e da
resistência criativa (DELEUZE, 1992). Tais procedimentos de recusa, aqui
denominados como desenhos de resistência, indicam uma potência que é da ordem
da criação e do movimento, operando enquanto política desregrada e transgressora
que articula o visível e o invisível em cada contexto de multiplicidades.
O texto que segue procura ressaltar um tipo de olhar criativo sobre a cidade
que sobrevive e que se desenvolve à revelia das ameaças constantes de
homogeneização e da globalização processos que possuem relação íntima com o
modo de funcionamento dos regimes tecnológicos de vigilância e controle das
sociedades atuais.
2 DA DISCIPLINA AO CONTROLE
No conhecido texto Vigiar e Punir, Michel Foucault (2013) apresenta um
itinerário analítico sobre duas formas diferentes de operação do poder e dos
mecanismos de dominação. Se nas sociedades de soberania o poder postula sobre
a vida e a morte dos súditos, impondo o terror como estratégia de obediência, nas
sociedades disciplinares ocorre uma espécie de “suavização” das práticas de poder
e dos efeitos de dominação: trata-se de docilizar através de procedimentos que
investem o corpo mais que objetivam a alma e o autocontrole, a interiorização da
norma.
Pode-se dizer que a emergência das técnicas disciplinares materializa uma
nova estratégia de exercício do poder de castigar; a questão, aqui, não é punir
menos, mas punir melhor, com mais universalidade extensão e profundidade.

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