A crise do sistema soviético e o fim da Guerra Fria

AutorSidnei Munhoz
CargoDoutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo
Páginas449-469
Direito autoral e licença de uso: Este artigo está licenciado sob uma Licença Creative
autoria da obra, forneça um link para a licença, e indicar se foram feitas alterações.
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2017v24n38p449
The Soviet System crisis and the end of Cold War
Sidnei José Munhoz*
Resumo: Este artigo tem como propósito examinar a crise do sistema soviético
e as estratégias desenvolvidas pelo governo Gorbachev para redirecionar
a economia e a política soviética com o objetivo de resolver os principais
problemas que afetavam a URSS durante os anos 1980. Em adição, serão
analisados os problemas encontrados por Gorbachev para implementar as
reformas que tanto a União Soviética necessitava e a expansão da crise que
culminou na dissolução da URSS.
Palavras-chave: Guerra Fria, União Soviética, Gorbachev, Perestroika,
Glasnost
Abstract: The purpose of this paper is to examine the crisis of Soviet system,
and the strategies developed by Gorbachev government to redirect Soviet
USSR during the 1980s. In addition, it will be scrutinized the obstacles found
by Gorbachev to promote the restructurings that Soviet Union required, and
the expansion of the crisis that culminated in the dissolution of the USSR.
Keywords: Cold War, Soviet Union, Gorbachev, Perestroika, Glasnost.
* Doutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo. É Professor Associado
da Universidade Estadual de Maringá, Maringá/PR, Brasil e docente do Programa de Pós-
graduação em História (PPH-UEM). Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq (Nível
Artigo
2). E-mail: sidneimunhoz2010@gmail.com
450
Revista Esboços, Florianópolis, v. 24, n. 38, p.449-469, dez. 2017.
Introdução
As reexões apresentadas neste artigo precisam ser situadas em um
contexto histórico marcado nas últimas quase três décadas por mudanças
relevantes no campo da diplomacia, além de outras inquietações no campo
das relações internacionais. A arquitetura de poder global edicada durante o
longo conito de dimensões globais conhecido como Guerra Fria se dissipou.
Após a crise e a falência dos regimes pró soviéticos da Europa Oriental e, na
sequência, a desagregação da própria União Soviética, deu-se o alargamento
das chamadas fronteiras ocidentais e do modelo de capitalismo e de democracia
liberal liderados pelos EUA.
No contexto em que um dos contendores da Guerra Fria deixava de
existir, o modelo bipolar1 que grosso modo operou durante aquele conito
não deu origem a um sistema multipolar. Sobre essa problemática, G. John
Ikenberry2 defende a perspectiva de que, com o m da Guerra Fria, os EUA
passaram a atuar como uma potência unipolar. Discordo do autor, pois,
embora reconheça a possibilidade da existência de uma supremacia ou da
preponderância do poder estadunidense no campo militar, acredito que a
complexidade da atual fase de expansão do capitalismo negue a tese da
unipolaridade. Sublinho a necessidade de considerar os diferentes campos por
intermédio dos quais as nações se relacionam nesse complexo cenário. Merecem
destaque os campos do comercio internacional, das instituições políticas e da
cultura. Dessa perspectiva, a noção de unipolaridade torna-se insustentável,
uma vez que existe uma grande interdependência entre as nações, apesar da
enorme preponderância do poder estadunidense.
Ainda início da década de 1990, intelectuais associados aos Think
Tanks estadunidenses preconizavam uma nova era de tranquilidade e
opulência, derivada da percepção de que com o m da Guerra Fria, o mundo
atravessava um momento promissor. Chegou-se a proclamar o m da História,
uma tese esdrúxula elaborada por Francis Fukuyama, que de modo célere
ganhou repercussão global e produziu uma excitação acadêmica alavancada
pela mídia, mas logo perdeu vigor frente a críticas contundentes3. Naquele
contexto, aançou-se um consenso por meio do qual só haveria um caminho
a seguir e garantiu-se que ele levaria à melhoria dos padrões de bem-estar
social, como resultado de uma nova onda de desenvolvimento econômico
conduzida pelos EUA.
Sedimentados aqueles eventos e frustradas muitas daquelas pro-
messas, ao contrário do proclamado, houve a expansão de conflitos em
diferentes regiões do planeta. Muitos desses conflitos, regra geral com
algum tipo de envolvimento dos EUA, espalharam-se pelas fronteiras do
chamado mundo ocidental e nas bordas das áreas que em passado recente
estavam sob a influência da URSS. Agora, sem a antiga oponente que
obstaculizava a sua ação durante a Guerra Fria, os EUA e a Otan expan-

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT