Comunidades eclesiais de base: alguns questionamentos

AutorCláudio Perani
Páginas13-27
COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE: ALGUNS QUESTIONAMENTOS
Cláudio Perani
(Publicado originalmente nos Cadernos do CEAS n.º 56, jul.-ago. 1978
1. UM NOVO DESPERTAR
"Do Amazonas ao Rio Grande do Sul vêm sendo criadas as CEBs (Comunidades
Eclesiais de Base). De uma região para outra, elas variam muito em suas fórmulas,
aspectos, condições. Mas todas estruturam-se dentro de um mesmo princípio filosófico:
inspiradas no Concílio Vaticano II, defendem a libertação do homem por seu próprio
esforço. Acusadas de comunistas ou subversivas, as Comunidades de Base têm como
uma de suas principais funções o desenvolvimento da consciência política - apartidária e
não ideológica - e o despertar do povo para seus direitos. Com isso, desencadeiam um
processo de reflexão crítica sobre a realidade dos problemas locais e as causas dessas
realidades". Com tais palavras o Jornal do Brasil (14/05/78) introduzia uma matéria
sobre as Comunidades Eclesiais de Base. O fenômeno parece ter-se ampliado a tal ponto
que chega a ter uma ressonância política, sendo que MDB e ARENA estão preocupados
com as mudanças verificadas em suas bases populares.
Há anos no Brasil fala-se em Comunidades Eclesiais de Base como uma das esperanças
de renovação eclesial. O processo começou no início da década dos 60, impulsionado
oficialmente pela orientação da CNBB através de seu Plano de Emergência e do Plano
de Pastoral de Conjunto. Sem dúvida, dentro do clima de renovação suscitado pelo
Concílio Vaticano II, contribuíram para isso movimentos como o Mundo Melhor, a
Ação Católica Especializada, a renovação catequética, etc., mas sobretudo a exigência
da situação concreta da falta de padres, tradicionais líderes das comunidades cristãs, que
obrigava a tentar soluções novas. Não devemos esquecer os motivos mais estruturais: a
mudança histórica da sociedade, novas condições de vida, a ascensão das classes
populares, etc., colocando novas exigências para a igreja.
O ponto de partida foi bastante eclesial: "Na situação brasileira, as paróquias, no seu
estado atual, não têm condições de se constituírem nestas comunidades vivas,
missionárias e educadoras da fé".
Atualmente estamos numa fase de um certo amadurecimento, podendo contar já com
uma experiência de anos, com uma história de tentativas, fracassos, sucessos e
descobertas; história e experiência que permitiram a realização em Vitória do Espírito
Santo e em João Pessoa de três grandes encontros de representantes de CEBs,
comparados com os Sínodos da Igreja primitiva. O primeiro realizou-se de 6 a 8 de
janeiro de 1975 com a participação de representantes de comunidades do Brasil inteiro;
o segundo teve lugar de 29 de julho a 01 de agosto de 1976, com a presença de
representantes e membros de 24 igrejas do Brasil, localizados em 17 estados, num total
de quase 100 pessoas, entre leigos, religiosos, padres e bispos; também estiveram
presentes representantes de outros países da América Latina e da Europa.
O terceiro acaba de realizar-se de 19 a 23 de julho em João Pessoa depois de uma
preparação prévia e demorada, feita por leigos nas várias regiões do país, escolhendo as
experiências mais críticas. Mais que nos primeiros dois, neste encontro esteve presente a

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