O cinema político e a indústria cultural: a obra de Michael Moore

AutorCristiane Toledo Maria
CargoDoutoranda em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês, FFLCH-USP. Docente no curso de Letras do Centro Universitário Ítalo-brasileiro
Páginas46-61
doi:10.5007/1984-784X.2015v15n24p46
46
|boletim de pesquisa nelic, florianópolis, v. 15, n. 24, p. 46-61, 2015|
O CINEMA POLÍTICO E A INDÚSTRIA CULTURAL
A OBRA DE MICHAEL MOORE
Cristiane Toledo Maria
USP/CAPES
RESUMO: Este artigo tem como objetivo discutir a respeito da produção fílmica do cineasta norte-
americano Michael Moore, tendo como questão central a relação que se estabelece entre arte e
política num momento histórico que, de um lado, aponta para a crise do capitalismo e, de outro,
para a fragmentação política da classe trabalhadora. Focado na análise dos documentários Roger e
Eu (1989) e Capitalismo: uma história de amor (2009), este artigo é uma tentativa de compreender
o método desenvolvido pelo cineasta para lidar com a crise de representação e comunicação vivida
pela arte política nas últimas décadas, bem como as condições de representação da luta de classes
dentro da indústria cultural norte-americana.
PALAVRAS-CHAVE: Cinema político. Cinema norte-americano. Indústria cultural.
POLITICAL CINEMA AND CULTURE INDUSTRY
THE WORK OF MICHAEL MOORE
ABSTRACT: This article aims to reflect upon the production of the American filmmaker Michael Moore,
proposing as a central question the relationship established between art and politics in a historical
moment which, on one side, points to the crisis of capitalism and, on the other side, to the political
fragmentation of the working class. Focusing on the analysis of the documentaries Roger & Me
(1989) and Capitalism: a love story (2009), this article is an attempt to understand the method
developed by the filmmaker to deal with the crisis of representation and communication experienced
by political art in the last decades, as well as the conditions of representation of class struggle in
American culture industry.
KEYWORDS: Political cinema. American cinema. Culture.
Cristiane Toledo Maria é Doutoranda em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês, FFLCH-USP.
Docente no curso de Letras do Centro Universitário Ítalo-brasileiro.
doi:10.5007/1984-784X.2015v15n24p46
47
|boletim de pesquisa nelic, florianópolis, v. 15, n. 24, p. 46-61, 2015|
O CINEMA POLÍTICO E A INDÚSTRIA CULTURAL
A OBRA DE MICHAEL MOORE
Cristiane Toledo Maria
“Todos os filmes são políticos, mas os filmes não são todos políticos da
mesma maneira.”1 Se considerarmos o termo “cinema político” como algo
mais específicoque engloba produções que encaram a arte como um ins-
trumento de formação e engajamento político, bem como de intervenção
social —, veremos que esse tipo de produção tem encontrado impasses políti-
cos e estéticos, em especial no final do século XX e início do século XXI.
Politicamente, as últimas décadas sofreram diversas crises que tiveram
como última consequência o surgimento do discurso do “fim da História” e da
vitória final do capitalismo sobre qualquer alternativa ao sistema. O fortale-
cimento do neoliberalismo, tanto no centro quanto na periferia do capita-
lismo, foi consequência principalmente de diversos obstáculos enfrentados
pela Esquerda com as experiências do stalinismo e da socialdemocracia.
Além disso, o cinema político está inserido numa batalha de ordem esté-
tica. De um lado, o cinema hollywoodiano, visto pela crítica em geral como
mera mercadoria e cuja função é, na maioria das vezes, servir como espe-
táculo e entretenimento alienante; de outro, o cinema de arte, com seu foco
geralmente centrado na radicalização formal e na discussão do próprio fazer
artístico, muitas vezes não sendo capaz de dialogar com os problemas reais da
classe trabalhadora. Somando-se a isso, existe dentro da tradição da “arte
política” a pressão para se fazer um cinema “épico”, nos moldes de Bertolt
Brecht, o que muitas vezes transforma seu legado em mero receituário
formalista. Para finalizar, nas últimas décadas do século XX temos o pós-
modernismo, que parece ter absorvido técnicas das mais progressistas para
seu repertório neutralizador de discussões políticas.
Se, nos anos 1930, artistas e filósofos da arte política como Bertolt Brecht
e Walter Benjamin apostavam num potencial subversivo e revolucionário do
cinema, acreditando ser possível utilizar seu caráter de reprodutibilidade,
1 WAYNE , Mike. Political film: the dialectics of T hird Cinema. London: Pluto Press, 2001, p. 1
[Tradução nossa].

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT