As metodologias de recém-doutores dos programas de pós-graduação em sociologia no Brasil: das disciplinas às teses

AutorMarina Félix de Melo - Selefe Gomes da Silva Neta - Rúbia Carmita do Nascimento
CargoDoutora em Sociologia pela UFPE/UMinho. Professora Adjunta da Universidade Federal de Alagoas - Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Alagoas - Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Alagoas
Páginas115-146
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2019v18n41p115/
115115 – 146
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As metodologias de recém-doutores
dos programas de pós-graduação
em sociologia no Brasil: das
disciplinas às teses
Marina Félix de Melo1
Selefe Gomes da Silva Neta2
Rúbia Carmita do Nascimento3
Resumo
O presente artigo é resultado de uma pesquisa com recém-doutores em Sociologia de Programas
de Pós-Graduação brasileiros e investiga a hipótese de que os problemas de pesquisa das teses
de Sociologia não determinam os métodos a serem utilizados nos trabalhos, sendo tais métodos
determinados pelas condições de competências técnicas e de formação dos pesquisadores e por
dimensões relacionadas a fatores relacionais entre os atores e a vida acadêmica. Observamos a
ênfase dada ao aspecto metodológico de teses, examinando a percepção e o interesse que os
investigadores têm a respeito de perspectivas metodológicas diversas. Apresentamos uma análise
documental das ementas das disciplinas metodológicas nos cursos de doutorado e uma análise de
conteúdo realizada a partir de 35 entrevistas com recém-doutores em Sociologia. Investigamos as-
pectos dimensionados a questões de orientação acadêmica, relações institucionais, intercâmbios,
dentre outras experiências vinculadas a processos de formação metodológica dos atores.
Palavras-chave: Teses sociológicas. Pós-graduação. Metodologia.
1 Doutora em Sociologia pela UFPE/UMinho. Professora Adjunta da Universidade Federal de Alagoas
2 Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Alagoas
3 Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Alagoas
As metodologias de recém-doutores dos programas de pós-graduação em sociologia no Brasil:
das disciplinas às teses | Marina Félix de Melo; Selefe Gomes da Silva Neta; Rúbia Carmita do Nascimento
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Contextualização de um campo investigativo e os aspectos
norteadores da pesquisa
O presente artigo se origina na problemática mais ampla de um traba-
lho publicado na Revista Brasileira de Sociologia (MELO; BERNARDO;
GOMES, 2018) em que se investigou como ocorre, porque ocorre e que
consequências carregam as escolhas metodológicas de trabalhos acadêmi-
cos da Sociologia brasileira. O principal objetivo percorrido na altura foi
o de analisar a utilização metodológica de perspectivas qualitativa e quan-
titativa em trabalhos acadêmicos da Sociologia, nomeadamente teses de
doutorado realizadas no Brasil, e seus respectivos autores, no triênio 2012-
2014, a pensar não somente nos aspectos metodológicos diretamente liga-
dos a tais teses, mas também a considerar as conjunturas de produção das
pós-graduações em que se inserem as investigações.
De forma paralela, objetivamos: 1. vericar os principais métodos e
técnicas utilizados nas teses de Sociologia; 2. analisar as justicativas utili-
zadas nos trabalhos para a aplicação de determinados métodos de análise;
3. perceber se há signicativa construção de novas técnicas, ou alterações
nos métodos tradicionais, que caracterizem processos criativos dos pes-
quisadores; 4. observar a ênfase dada ao aspecto metodológico dos traba-
lhos; 5. realizar uma análise documental sobre as ementas das disciplinas
de metodologia disponibilizadas pelos Programas de Pós-Graduação aos
estudantes de doutorado; 6. examinar a percepção e o interesse que os in-
vestigadores têm a respeito de perspectivas metodológicas não diretamente
utilizadas em seus trabalhos de tese e; 7. vericar se os investigadores se
sentem aptos à utilização de outras metodologias, supostamente não uti-
lizadas em seus trabalhos. Os objetivos de 01 a 04 já foram contemplados
e publicados na Revista Brasileira de Sociologia (MELO; BERNARDO;
GOMES, 2018). O presente texto tratará sobre os objetivos de 05 a 07,
inéditos, e que caracterizam a continuidade da investigação a partir de
resultados já alcançados.
A justicativa inicial que nos impulsionou a estudar as propostas bá-
sicas das teses de Sociologia no Brasil foi a de entender o que estava sen-
do produzido na Sociologia brasileira contemporânea. O projeto original
em que se localizam nossos dados é formado por três etapas. A primeira
Política & Sociedade - Florianópolis - Vol. 18 - Nº 41 - Jan./Abr. de 2019
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etapa é um estudo quantitativo sobre as metodologias utilizadas em 282
teses de Sociologia defendidas entre os anos 2012-2014 nos 13 Programas
de Pós-Graduação em Sociologia (PPGSs) do País existentes na altura da
coleta de dados. A segunda, uma análise dos conteúdos metodológicos
estudados pelos pesquisadores ao longo de suas formações sociológicas,
contendo uma análise das ementas e estruturas metodológicas formativas
dos Programas de disciplinas ministradas nos cursos de mestrado e dou-
torado em Sociologia no Brasil. A terceira, um estudo qualitativo com 35
entrevistas a compreender as motivações patentes e latentes ao processo
metodológico de pesquisa sociológica, em que são investigadas as teses da
primeira etapa da investigação a partir de seus autores. A hipótese central
que investigamos é de que os problemas de pesquisa das teses de Sociologia
não determinam os métodos a serem utilizados nos trabalhos, sendo tais
métodos determinados pelas condições de competências técnicas e de for-
mação dos pesquisadores e por dimensões relacionadas a fatores relacionais
entre os atores e a vida acadêmica.
Na primeira fase de pesquisa muitas teses que analisamos não cita-
vam, ao longo das centenas de páginas, a palavra “Metodologia”, bastanto
teclar um comando “control F” no arquivo em PDF para vericarmos a
inexistência do termo em muitos trabalhos. Não que isto signicasse que
não tenham considerado metodologia a partir de outra semântica, tam-
pouco, que não a trabalhem; porém, esta informação tem um cruzamento
substancial com os dados apresentados (MELO; BERNARDO; GOMES,
2018), mostrando, pelo menos, o não protagonismo das questões metodo-
lógicas ao grosso das recentes teses de Sociologia no Brasil. Igualmente, o
fato de muitas apresentarem, de acordo com nossos dados, seus sumários
por uma estruturação de “teoria e campo concomitantemente”, não signi-
ca que estes aspectos estejam reexionados concatenadamente ao longo
dos textos. Em muitas situações, localizamos estruturas “soltas” justamente
pelo aspecto plenamente notado em nossa pesquisa de que muitas teses
não possuíam a apresentação de uma metodologia pontuada, dicultando
a localização dos argumentos sustentados, o que inviabilizou um possível
melhor acesso ao material, sobretudo por parte daqueles que não são da
área sociológica e que não tramitam pelo campo semântico aí comparti-
lhado. Paralelamente, dizer que uma tese tem um capítulo ou subtópico

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