As lutas contra o desemprego

AutorCláudio Perani
Páginas89-91
AS LUTAS CONTRA O DESEMPREGO
Cláudio Perani
(Publicado originalmente nos Cadernos do CEAS n.º 101, jan.-fev. 1986, p. 49-51)
O problema do desemprego está gerando uma crise social de grande repercussão e de prejuízo
irrecuperável para a população brasileira. Está presente no Brasil inteiro, do Sul ao Norte, no campo
e na cidade. Em vários encontros de CEBs, de grupos de periferia urbana ou de trabalhadores rurais,
o desemprego aparece no depoimento de muitos, com sua dramaticidade.
O mais angustiante é que diante desse problema as pessoas ficam sem saber o que fazer. O
encaminhamento de alguma solução parece tão superior às possibilidades dos grupos interessados
que, muitas vezes, a discussão sobre desemprego fica na constatação da realidade, sem conseguir
encaminhar algo de mais concreto.
Um conhecimento maior da situação, porém, e uma análise mais aprimorada revelam que, também
neste setor, há um fervilhar de iniciativas.
Em primeiro lugar, devemos reconhecer que o povo brasileiro luta para sobreviver. Há, é verdade, o
caso extremo e dramático de algumas pessoas que se suicidaram por não conseguir trabalho. Mas
são situações limites. A necessidade da vida impõe a cada dia a luta pela sobrevivência. Faz anos
que o povo repete que o custo de vida continua subindo e os salários não o acompanham. Pior
ainda, quando o salário não existe porque o trabalhador foi demitido. Não dá mais para aguentar...
Mas deu! O povo está resistindo. Multiplicam-se os biscates, aumentam as migrações, encontram-se
novos canais de sobrevivência. Desenvolve-se toda aquela atividade que os técnicos chamam de
"economia submersa", porque não individuada pelas pesquisas oficiais, mas inventada e bem
conhecida pelos interessados.
Mas não existem somente estas iniciativas individuais. Há algo de mais organizado e socializado,
que está aparecendo no Brasil inteiro. Desde experiências limitadas e isoladas até o 1.º Encontro
Nacional do Movimento de Luta Contra o Desemprego, anunciado para outubro no momento em
que estamos escrevendo estas linhas.
Em São Paulo, existe a Associação Paulista de Solidariedade no Desemprego (APSD). Consegue
unir as forças do Governo do Estado, de quatro Igrejas e de empresários cristãos. São recolhidas
doações em dinheiro para os desempregados. Nas periferias da cidade, formam-se grupos que se
filiam à Associação e no fim de cada mês recebem uma quantia em dinheiro. A iniciativa, interes-
sante e louvável, pode criar dificuldade para um trabalho mais político que pretenda lutar pela
criação de empregos.
Sempre em São Paulo, surgiram Comitês de Luta Contra o Desemprego, na capital e no interior,
organizados com plenárias municipais, regionais e estadual. Em 1983, foi realizado o acampamento
de Ibirapuera, que durou dois meses e meio.
Quase um ano depois do acampamento, 1.500 desempregados organizados a partir de 70 comitês da
Plenária Estadual ocuparam por uma semana a sede do SlNE (Sistema Nacional de Emprego).
Na luta contra o desemprego, aparecem habitualmente duas propostas: uma de auto-ajuda e outra de
reivindicação. A primeira consiste na união de quatro famílias empregadas, para ajudar uma quinta
sem emprego (ou 5x2). A segunda consiste em elaborar uma pauta de reivindicações,
encaminhando-as nas diversas instâncias competentes. As reivindicações encaminhadas foram:

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