As dimensões da mobilidade sustentável: subsídios para um processo de formulação de políticas integradas

AutorJuan Pedro Moreno Delgado Doutor - Karina Albuquerque de Souza do Nascimento - Márcia Sampaio Baggi
CargoDepartamento de Engenharia de Transporte e Geodesia / UFBA. E-mails: jpyupi@yahoo.com.br, juan.moreno@ufba.br - Urbanista; Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Bahia /SEDUR. E-mail: aniraknasc@gmail.com - Urbanista; Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Bahia /SEDUR. E-mail: msbaggi@yahoo.com.br
Páginas93-111
As dimensões da mobilidade sustentável
Caderno s do CEAS, Salvador, n. 235, p. 93-111, 2015 93
AS DIMENSÕES DA MOBILIDADE SUSTENTÁVEL: SUBSÍDIOS
PARA UM PROCESSO DE FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS INTEGRADAS
Sustainable mobility dimensions: subsidies for an integrated political formulation
process
Resumo
As concepções de cidades sustentáveis e de sustentabilidade
configuram um novo paradigma para a mobilidade urbana,
passando a nortear as Políticas, em diversos países. Avaliar a
viabilidade dessas políticas frente à cultura do automóvel e sua
efetividade, no estímulo ao uso dos modos de transporte público
e não-motorizado, através da interação entre as políticas de
transporte, circulação e planejamento urbano, tornou-se
fundamental. Esta análise pretende identificar os impactos
associados à degradação, precariedade e contaminação,
originados pelo modelo convencional de produção de
transporte, nas cidades, visando conformar uma proposta
metodológica de promoção da mobilidade sustentável para
subsidiar o processo de formulação de Políticas integradas.
Palavras-chave: Mobilidade sustentável. Sustentabilidade
urbana. Política urbana.
INTRODUÇÃO
As crises ambiental, econômica e social colocaram em xeque as noções
generalizadoras e progressivas do desenvolvimento (ALMEIDA, 1999). O modelo de
desenvolvimento de base exclusivamente economicista gerou enormes desequilíbrios
socioambientais. Este modelo de desenvolvimento revelou-se insustentável na medida em que
destruía gradativamente a estabilidade ecológica e a subsistência dos povos (HERCULANO,
1992). No Terceiro Mundo, o crescimento econômico concentrado tornou-se o ponto de
partida da pobreza e da escassez, o que deslocou, na década de 80, o foco do desenvolvimento
para o tema da capacidade de sustento a sustentabilidade.
Os problemas relacionados com a perda da mobilidade nos centros urbanos estão
diretamente relacionados com o crescimento acelerado e desordenado das cidades e o uso
excessivo dos meios motorizados, especialmente o crescente uso do carro, provocando um
quadro de insustentabilidade, suscitando o aumento da pressão por equipamentos,
infraestruturas e serviços. Apesar de aumentarem as reivindicações, principalmente por
Juan Pedro Moreno Delgado
Doutor; Departamento de
Engenharia de Transporte e
Geodesia / UFBA. E-mails:
jpyupi@yahoo.com.br,
juan.moreno@ufba.br
Karina Albuquerque de Souza
do Nascimento
Urbanista; Secretaria de
Desenvolvimento Urbano da Bahia
/SEDUR. E-mail:
aniraknasc@gmail.com
Márcia Sampaio Baggi
Urbanista; Secretaria de
Desenvolvimento Urbano da Bahia
/SEDUR. E-mail:
msbaggi@yahoo.com.br
As dimensões da mobilidade sustentável
Caderno s do CEAS, Salvador, n. 235, p. 93-111, 2015 94
habitação e transportes, parte expressiva da população ficou à margem desses direitos. O
modelo de produção de transporte adotado nas cidades continua distribuindo desigualmente,
no espaço e entre os grupos sociais, a acessibilidade e impactos ambientais, sendo necessário
reestruturar o processo de formulação de políticas públicas no setor.
As políticas de mobilidade para serem sustentáveis devem ser integradas ao
planejamento urbano e não apenas abordagens centradas nos problemas de trânsito e
transporte motorizado, requerendo, ainda, para garantir sua efetividade, um processo
democrático, através de esforço conjunto entre sociedade, Estado e o setor empresarial.
A CONTRIBUIÇÃO DO AUTOMÓVEL NA INSUSTENTABILIDADE URBANA
É comum os transportes serem indicados como um dos principais causadores dos
problemas urbanos, devido aos impactos ocasionados pelo uso dos modos motorizados,
especialmente o automóvel. A cultura do automóvel tem gerado um grande número de
externalidades e impactos no meio ambiente, em termos de poluição, consumo de espaço e
energia, número de engarrafamentos e tempo perdido para chegar aos destinos desejados. O
crescente uso desse modo não é incentivado apenas por aspectos culturais, nos quais o carro é
visto como um elemento de status social, mas também pelas características do modelo de
produção de transporte urbano, fortemente voltado para o transporte individual, o qual se
evidencia em diversos aspectos:
a) no financiamento das vias, por exemplo, o qual é realizado por todos os
contribuintes, enquanto o transporte público no Brasil é financiado apenas pelos
seus usuários diretos através da tarifa;
b) na tecnologia aplicada ao sistema de transportes, mediante a qual varias
alternativas são propostas para viabilizar o uso do automóvel, tais como: a
amplitude da rede, o conforto e inovações tecnológicas internas, etc. Deste
modo, nota-se a disparidade entre este e o transporte público, o qual, em
termos dos recursos energéticos, é menos poluente;
c) na lógica operacional, quando se deveria priorizar o transporte sustentável,
destinando a este espaços de circulação exclusivos, grande parte do viário
continua sendo utilizado indiscriminadamente pelo automóvel; e,

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