Amazônia: 10 anos depois de Cláudio Perani

Páginas197-207
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, n. 244 - Especial Claudio Perani, p. 197-207, 2018 | ISSN 2447-861X |
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EDITORIAL: AMAZÔNIA: 10 ANOS DEPOIS DE CLÁUDIO PERANI
A Amazônia exige de nós um diálogo constante com as outras
culturas;
um diferente conceito de território e ambiente;
um diferente conceito de natureza;
um diferente conceito de relações;
um diferente conceito de propriedade;
um diferente conceito de produção
(Cláudio Perani).
Ao contrário do que pensava Cláudio Perani sobre a Amazônia, o Estad o e as classes
dominantes brasileiras veem a Amazônia sob a ótica do capital. A julgar por seus projetos e
ações, estão empenhados em transformar a maior floresta tropical do mundo em
propriedade privada de pecuaristas, mineradoras, hidrelétricas e investidores en dinheirados
de vários tipos. Para isso, evidentemente, precisam subjugar os povos e culturas com quem
Perani propunha o diálogo constante e a quem dirigiu, ao chegar à região, sua atenção
político-social e pastoral. Dez anos depois de sua morte, compree nder a Amazônia continua
a exigir, talvez mais que antes, prestar atenção, em meio à floresta, ao caminho do dinheiro,
que, em geral, coincide com o caminho do sangue.
Desde que Michel Temer está no poder, um assassinato por conflito de terra a cada
seis dias na Amazônia Legal. E a tendência é de crescimento. Conforme o Atlas de Conflitos
na Amazônia 2017, lançado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) com o apoio da Rede
Eclesial Pan-Amazônia (REPAM), 76 pessoas foram assassinadas na Amazônia por conflitos
de terra desde que Dilma Rousseff (PT) foi tirada da presidência por um impeachment com
base legal inventada (pedalada fiscal). A violência na região era alta nos governos
anteriores, mas piorou muito e aceleradamente no desgoverno Te mer. Em 2016, houve 48
homicídios (19 ainda com Dilma). No país inteiro, ocorreram 61 mortes por conflitos agrários
nesse ano. Em 2017, segundo a CPT, foram 71 assassinatos, sendo que a Amazônia
concentrou cerca de 80% do total.
Na região, desde o assassinato da missionária Dorothy Stang, em 2005, a trilha do
sangue indica que os assassinatos estão diretamente ligados à conversão da floresta em
propriedade privada. uma conexão evidente entre grilagem, desmatamento e mortes por
conflitos de terra. Se grilagem, desmatamento, pais da escravidão moderna. É isso que

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