Alteridade como instrumento de preservação da dignidade humana durante a vivência da morte

AutorRafael Verdival
CargoMestrando em Direitos Fundamentais e Alteridade pela Universidade Católica do Salvador (UCSal/BA)
Páginas144-165
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Revista Direitos Fundamentais e Alteridade, Salvador, v. 4, n. 1, p. 144-165, jan-jun, 2020 | ISSN 2595-0614
ALTERIDADE COMO INSTRUMENTO DE PRESERVAÇÃO DA DIGNIDADE
HUMANA DURANTE A VIVÊNCIA DA MORTE
ALTERITY AS AN INSTRUMENT FOR THE PRESERVATION OF HUMAN DIGNITY
DURING THE EXPERIENCE OF DEATH
Rafael Verdival1
RESUMO: O presente estudo tem como objetivo analisar como a alteridade pode ser aplicada
como um instrumento capaz de trazer dignidade à vida durante o processo de morrer,
garantindo, assim, uma morte digna. Para tanto, inicialmente, analisa-se alguns aspectos do
ideário de morte e como o processo de morrer pode ser compreendido à luz da dignidade da
pessoa humana. Em seguida, fundamenta-se o conceito de alteridade a partir do reconhecimento
do outro como outro e do respeito às suas diferenças. Por fim, analisa-se como a aplicação da
alteridade em contextos envolvendo o fim da vida contribui para a efetivação de uma vida digna
durante o processo de morte. Utiliza-se o método hipotético-dedutivo juntamente com a
pesquisa bibliográfica.
Palavras-chave: Alteridade; Morte digna; Bioética.
ABSTRACT: The present study aims to analyze how otherness can be applied as an instrument
capable of bringing dignity to life during the process of dying, thus guaranteeing a dignified
death. To do so, initially, some aspects of the idea of death are analyzed and how the process
of dying can be understood in the light of the dignity of the human person. Then, the concept of
otherness is based on the recognition of the other as another and respect for their differences.
Finally, we analyze how the application of otherness in contexts involving the end of life
contributes to the realization of a dignified life during the death process. The hypothetical-
deductive method is used together with bibliographic research.
Keywords: Alterity; Worthy death; Bioethics.
SUMÁRIO: 1 INTRODUÇÃO. 2 A IDEIA DE MORTE E A DIGNIDADE NO FINAL
DA VIDA. 3 A CONSTRUÇÃO DO FUNDAMENTO DA ALTERIDADE. 4 A
APLICAÇÃO DA ALTERIDADE COMO FUNDAMENTO DA GARANTIA A UMA
MORTE DIGNA. 5 CONCLUSÃO. REFERÊNCIAS.
1 INTRODUÇÃO
1 Mestrando em Direitos Fundamentais e Alteridade pela Universidade Católica do Salvador (UCSal/BA). Pós-
Graduado em Filosofia e Autoconhecimento: uso pessoal e profissional pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul (PUC/RS). Membro integrante do Grupo de Pesquisa JusBioMed Direito, Bioética e
Medicina.
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Revista Direitos Fundamentais e Alteridade, Salvador, v. 4, n. 1, p. 144-165, jan-jun, 2020 | ISSN 2595-0614
A morte é um fato na existência humana. Questões relacionadas ao final da vida
são complexas e envolvem aspectos morais, religiosos, culturais e até mesmo jurídicos. Por
conta disso, é possível perceber uma dificuldade de se tomar decisões ou estabelecer garantias
relacionadas a um processo de morte com dignidade. Sendo assim, torna-se fundamental
compreender a morte como parte da vida humana, buscando-se instrumentos aptos a preservar
a dignidade dessa experiência.
Nesse contexto, o presente estudo tem como problema de pesquisa a possibilidade
de a alteridade ser aplicada como um instrumento de preservação da dignidade humana durante
o fim da vida. Dessa forma, tem-se como objetivo principal analisar de que maneira o
reconhecimento do outro como outro viabiliza a vivência de uma morte digna, respeitando a
concepção individual que cada pessoa tem sobre o final da vida.
Para atingir o objetivo proposto, pretende-se, em um primeiro momento, analisar
alguns elementos do ideário de morte e como a ideia de vida digna pode se fazer presente nos
momentos finais da existência humana. Nesse contexto, destaca-se como a morte deixa de ser
um evento social e público - encarada com resiliência -, para se tornar fúnebre e sombria
transformando-se em um verdadeiro tabu. Mostra-se como esse ideário da morte, no sentido de
algo a ser evitado, foi sendo construído no decorrer dos séculos, influenciando o
comportamento da sociedade ocidental sobre o assunto nos dias de hoje.
Em seguida, busca-se compreender os fundamentos da alteridade, em especial sob
a ótica de uma ética em que o eu reconhece o outro como outro e o respeita nas suas
diferenças, em uma relação interpessoal. Para tanto, analisa-se o conceito de alteridade a partir
de uma perspectiva ética. Verifica-se que uma lógica da ação pautada na alteridade,
necessariamente, deve levar em conta a influência mútua entre o “eu” e o “outro”, situados em
um contexto plural, multifacetado e interconectado. A alteridade, nesse sentido, demanda um
esforço cognitivo no sentido de não apenas compreender que o “outro” é o “outro”, mas de
respeitar e entender as diferenças e os constitui, e que afeta também o “eu”.

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