Alienation/strangement and species-being in Karl Marx's Economic-philosophical Manuscripts/Alienacao/estranhamento e ser generico nos Manuscritos Economico-filosoficos de Karl Marx.

AutorKeller, Rene Jose
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  1. Introducao

    Por vezes a obra de Karl Marx e vista como uma unidade, sendo o conjunto dos seus textos trabalhado de forma indistinta, negligenciando que--a exemplo dos grandes pensadores da humanidade--existe um processo natural de amadurecimento teorico. Isso, de forma alguma, deve ser extremado, como procedido por Louis Althusser (2015, p. 25), ao ponto de defender a existencia de uma ruptura epistemologica entre o jovem e o velho Marx. No entanto, tampouco parece prudente supor que todos os escritos apresentam formas de pensamento acabadas, que nao passam por transformacao, descontinuidade ou ate mesmo negacao.

    O presente artigo tem como objetivo geral discutir o lugar que os Manuscritos Economico-Filosoficos ocupam dentro da obra de Karl Marx, em pormenor as categorias alienacao/ estranhamento e ser generico. Imagina-se que ha um uso destas categorias sem a devida problematizacao e, consequentemente, rigor, produzindo uma especie de "senso comum" academico, que praticamente atribuiu um novo significado e alcance para o termo (como e o caso da categoria alienacao).

    Inicialmente, pretende-se demonstrar a influencia de Georg Hegel e Ludwig Feuerbach na redacao da parte filosofica dos Manuscritos, promovendo-se uma distincao, que se entende necessaria, entre alienacao e estranhamento. Alem disso, julgou-se prudente questionar a concepcao de Marx acerca da essencia humana (ser generico) na mesma obra, indagando em que medida tal nocao foi efetivamente abandonada ou mantida pelo autor a partir de 1845.

    A par da complexidade que permeia o estudo, imagina-se que existe uma contribuicao para o trato mais rigoroso das categorias marxianas, a fim de estabelecer uma premissa metodologica que e insita ao metodo dialetico na sua fundamentacao materialista: nao se deve mobilizar categorias em abstrato. Isto e, quando da redacao dos mais variados textos academicos, socorrer-se de uma categoria de Marx significa pensa-la de forma viva, verificando o grau de compatibilidade para a elucidacao do fenomeno social que se defronta.

    No mais, o presente escrito decerto apresenta alguma serventia aos que pretendem trabalhar a categoria de alienacao/ estranhamento e ser generico em Marx, notadamente porque busca compreender a sua raiz e suas limitacoes. Nao se trata de defender uma forma especifica de leitura, senao de apontar para a complexidade que envolve trabalhar com um texto especifico da formacao de um dos principais intelectuais da humanidade.

  2. Alienacao e estranhamento nos manuscritos-economico filosoficos

    Um dos assuntos que passa a margem de discussoes mais densas e a influencia que Hegel e Feuerbach tiveram no que se denomina de jovem Marx (1840-1844). Se por um lado e sabido que a dialetica tal qual utilizada por Marx foi incorporada de Hegel, evidentemente, apos a sua "inversao" materialista, carece de estudos mais sistematizados a utilizacao da categoria de alienacao dos Manuscritos, bem como a nocao de essencia humana (ser generico).

    Para sentir o peso da problematica que envolve o assunto ora debatido, recorrese a duas frases diametralmente antagonicas, que se invalidam mutuamente se tidas por corretas. Louis Althusser, filosofo estruturalista frances, decretou acerca do jovem Marx: "[...] o jovem Marx nunca foi hegeliano, e sim inicialmente kantiano-fichtiano, em seguida feuerbachiano (ALTHUSSER, 2015, p. 25-26). Ao seu turno, Jesus Raniere, tradutor dos Manuscritos na edicao mais recente publicada pela editora Boitempo, e categorico: "Marx nunca foi feuerbachiano" (RANIERI, 2010, p. 11).

    Esse impasse se deve a interpretacoes distintas que sao conferidas aos Manuscritos, sendo que o tom provocativo das duas citacoes esconde uma questao latente. Sendo Marx pretenso seguidor de Hegel ou de Feuerbach, esse debate nao traduz a problematica central e que ora se ocupa, i.e, a influencia exercida por ambos pensadores na redacao dos Manuscritos.

    Acerca da sua relacao com Hegel, lembra-se os dizeres no posfacio da segunda edicao de "O Capital", de 1873: "[...] declarei-me publicamente como discipulo daquele grande pensador e, no capitulo sobre a teoria do valor, cheguei ate a coquetear aqui e ali com seus modos peculiares de expressao" (MARX, 2014, p. 91). Ja em relacao a Feuerbach, Engels lembra a influencia que tiveram da obra "A essencia do Cristianismo": "Veio entao a Wesen des Christenthums de Feuerbach. [...] O entusiasmo foi geral: momentaneamente fomos todos feuerbachianos. Quao entusiasticamente Marx saudou a nova concepcao e quanto ele [...] foi por ela influenciado [...]" (ENGELS, 1985b, p. 386).

    Os Manuscritos Economico-Filosoficos, tambem denominados de Manuscritos de Paris ou Cadernos de Paris, escritos entre abril e agosto de 1844, apresentam um carater fragmentario, evidentemente por se tratar de um manuscrito, cuja publicacao ocorreu post-mortem. Tao somente em 1932 e que os Manuscritos ganharam vida, a partir da sua divulgacao na extinta Uniao Sovietica.

    Um fato notorio chama a atencao: ainda que se trate de um manuscrito dividido entre a parte economica e a filosofica, foi esta ultima que ganhou ampla repercussao, nao obstante a primeira ocupe ao menos metade do texto. A razao mais evidente e que do conteudo economico Marx se dedicou de forma mais efetiva ao longo da sua vida, enquanto a filosofia passou para segundo plano, sem ser abandonada por completo (1).

    De Georg Hegel (2016, p. 239 e ss.), Marx incorpora nos Manuscritos o conceito de alienacao, que e trabalhado na "Fenologia do Espirito", ainda que Hegel o tenha abordado em obras anteriores. Lembra-se que nos Manuscritos ha uma critica a filosofia hegeliana, bem como a categoria "alienacao" (2) tal qual trabalhada por Hegel, em virtude dela se operar no plano do pensamento puro (pensar abstrato-filosofico), ao inves de ser tratada como consciencia humana da objetificacao humana, e vista como figura do espirito (MARX, 2010, p. 121-122).

    Nesse estagio, a critica a Hegel ocorre a partir da incorporacao de uma categoria sua, tendo por premissa o materialismo de Feuerbach. Marx pretende demonstrar que a "alienacao" nao ocorre no plano do pensamento abstrato, do espirito, como propoe Hegel, senao que esse pensamento abstrato filosofico representa a propria essencia humana do ser generico, como sera abordado no topico seguinte (MARX, 2010, p. 123).

    A compreensao de que os Manuscritos, em pormenor a parte filosofica, tem forte inspiracao de Hegel e de Feuerbach nao explica o objetivo central do presente estudo, que e ilustrar como houve uma alteracao semantica radical da categoria incorporada e trabalhada por Marx. Essa reformulacao de sentido, em grande medida, tem como causa a traducao dos termos nas primeiras edicoes da obra.

    A primeira traducao brasileira, da decada de 1960, consta na obra de Erich Fromm, intitulada "Conceito Marxista do Homem", tendo por base da traducao para o ingles efetuada por T. B. Bottomore. A titulo de nota, Bottomore esclarece: "[...] traduzi tanto Entausserung quanto Entfremdung por 'alienacao' [...] visto que Marx (como Hegel) nao indica uma distincao sistematica entre ambos" (BOTTOMORE, 1970, p. 88).

    As demais edicoes de uso corrente...

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