Os albergues independentes como um novo meio de hospedagem e prestação de serviços. Estudo de caso: Red Hostel

AutorAntonella Guimarães Satyro/ Zulméia Pinheiro
CargoCentro Universitário Positivo (UNICENP).
Páginas31-38

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1 Introdução

Com o crescimento, o desenvolvimento e a expansão do turismo no mundo, registra-se uma oferta imensurável de distintos meios de hospedagem. Dentre eles, há um segmento que está em constante crescimento e difusão, os albergues, estabelecimentos que oferecem hospedagem econômica e com serviços diferenciados.

Desde o primeiro hostel estabelecido na Alemanha, uma grande rede chamada Hostelling International consolidou sua fama oferecendo hospedagem e serviços por uma tarifa econômica.

Uma nova clientela, os famosos "backpackers " 1, começa a ganhar grande credibilidade no mercado internacional no que diz respeito ao turismo jovem. O Hostelling International tem como princípio oferecer hospitalidade barata e convivência com outros viajantes da mesma faixa etária. Outra característica: todos os que levam o nome da rede oferecem os mesmos serviços, condições similares de estrutura, atendimento, regras quanto ao funcionamento e outros tópicos que são padronizados e oferecidos a todos.

Atualmente, porém, surgem muitos outros de meios de hospedagem, de um lado oferecendo serviços básicos por tarifas econômicas, e de outro, hotéis de grande porte detentores de serviços altamente qualificados.

Os motéis Inns, os Bed and Breakfast, resorts, hotéis internacionais e outros são criações recentes e que tornam a competição na área hoteleira cada vez mais acirrada e focada em um público alvo.

Os albergues independentes surgiram com a finalidade de oferecer serviços diferenciados por um preço acessível. Estão sendo fortemente implementados em diversas cidades do mundo, visando a alcançar um público jovem, com espírito aventureiro, mas que preza a qualidade dos serviços que este meio de hospedagem pode oferecer. Não são filiados a Hostelling International ou outras redes alberguistas e, geralmente, são operados por poucas pessoas sob a supervisão dos proprietários.

Este artigo relata a pesquisa desenvolvida durante o mês de julho de 2005, motivada pela preocupação dos proprietários em conhecer a opinião dos viajantes sobre os serviços oferecidos aos hóspedes.

2 Objetivos

Este artigo tem como objetivo geral historiar brevemente a hospitalidade; expor e discorrer sobre os albergues da rede Hostelling International, o processo

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da formação dessa modalidade de hospedagem e sua difusão mundial.

Como objetivos específicos, propõe: (a) evidenciar este novo segmento turístico que é o turismo de jovens, o lugar onde se hospedam e quais são as principais motivações; (b) analisar as características e diferenciais desses empreendimentos; (c) verificar sua rentabilidade de uma forma assistemática, porque o artigo não pretende analisar minuciosamente dados econômicos e financeiros, mas apresentar um esboço do tamanho do investimento e seus respectivos lucros, até para poder explanar o que são os albergues independentes e como funcionam; (d) por fim, estudar um novo conceito desta segmentação do ramo hoteleiro -os albergues independentes - e, dentre eles, o Red Hostel em Montevidéu, no Uruguai, como um estudo de caso.

3 Metodologia

A metodologia usada para o estudo de caso do Red Hostel foi a pesquisa de campo que durou 3 semanas, com estada no local para verificar a qualidade dos serviços oferecidos aos clientes, quanto à limpeza, eficiência, organização, ordenação do estabelecimento e os procedimentos desenvolvidos na oferta da hospedagem.

Foram feitas entrevistas com funcionários, hóspedes, e com os donos do estabelecimento. Com relação à entrevista com os proprietários, interessava à pesquisa (1) saber como se deu a idéia inicial; (2) buscar respostas a questões referentes à renda investida e esperada, aos impostos pagos ao governo, a licenças para seu funcionamento; (3) conhecer as propostas para que o albergue independente se estabelecesse e (4) quais seriam os diferenciais que o tornariam um equipamento turístico de qualidade a ser vendido mundo afora. Com os hóspedes mantiveram-se diálogos em forma de entrevistas com a finalidade de obter informações e opiniões acerca do albergue. As perguntas eram sempre as mesmas a todos os entrevistados: O que estavam fazendo em Montevidéu? Qual era o motivo da viagem? Que imagem possuíam dos albergues? O que achavam das acomodações e dos serviços oferecidos pelo Red Hostel?

4 Marco Teórico

Os autores aqui citados falam em sua grande maioria da história da hospitalidade, os tipos existentes de meios de hospedagem, a forma de estruturação de cada um e sua operacionalização.

Os pressupostos teóricos servem como base para permear este trabalho e mostrar a partir de referencias bibliográficas as explicações necessárias de determinados conceitos utilizados.

Os órgãos de turismo brasileiros ainda não classificam albergues como um meio de hospedagem, por isso foi necessário recorrer ao trabalho de Dittmer (2002) por ser o mais completo encontrado na bibliografia pesquisada. Outras fontes contribuíram para acrescentar pequenos detalhes.

Bibliografias nacionais e estrangeiras foram consultadas para embasar o tema com fundamentação em autores especializados na área hoteleira, para assim, apresentar conceitos reconhecidos mundialmente e pela Organização Mundial do Turismo.

A introdução do trabalho tem como base a hotelaria, conceitos iniciais, para fazer assim, um link com a hospitalidade e os meios de hospedagem. Neste trabalho, primordialmente, os albergues.

A história da hospitalidade é muito antiga, não havendo consenso entre os autores quanto às datas e registros do ano da construção e de quando, precisamente, entrou em operação como tal.

Para Dias (2002), desde 2000 a.C., grandes pousadas perto do Oriente e no Oriente já haviam sido estabelecidas em muitas rotas por onde passavam caravanas. Os viajantes aproveitavam para descansar e alimentar seus burros e camelos e viajavam em grupos para facilitar sua defesa, caso fossem assaltados.

Na Grécia, os estrangeiros já eram recebidos e exaltados com amor. Foi uma das civilizações que mais desenvolveu este conceito. Em Roma, os anfitriões também eram muito educados e atendiam as necessidades dos viajantes.

A noção de hospitalidade provém do latim e significa ato de acolher, hospedar; a qualidade do hospitaleiro; boa acolhida; recepção; gentileza; cortês; tratamento afável; amabilidade. E uma de suas derivações deu origem a palavra hóspede que designa estrangeiro; forasteiro; individuo que se acomoda ou se acolhe provisoriamente em casa alheia, hotel ou outro meio de hospedagem (DIAS, 2002).

A partir do século XI, na Europa, peregrinos, pessoas doentes, comerciantes, entre outras, se abrigavam em hospícios, onde encontravam alimento e repouso. Estes locais também eram conhecidos em latim como hospitais que significa hospedaria ou casa de hóspedes.

Na França do século XIII, a hospitalidade era uma prestação de serviços regulamentada pelas autoridades públicas e classificada como uma profissão. De origem francesa, a palavra hôtel tinha a conotação de qualquer tipo de edifício imponente, e depois foi relacionado às mansões senhoriais que alugavam quartos por certo período de tempo mediante determinado tipo de pagamento (DIAS, 2002).

Com o aparecimento de outros meios de hospedagem, o hôtel se tornou uma palavra mais popular, mas sempre ligada ao conforto e ao requinte que as construções anteriores disponibilizavam no passado.

Alojamentos, hotéis, hospedarias e outros tiveram grande desenvolvimento após a Revolução Industrial devido ao advento de uma maior tecnologia e uma ampliação nos relacionamentos com outras civilizações.

Na Inglaterra, existem registros dos primeiros hotéis que forneciam leitos e alimentação no século XIV. Pode-se citar também a presença de um turismo jovem nos séculos XVII e XVIII com o Grand Tour, ajudando na formação do indivíduo.

No século XX, com a difusão dos automóveis nos Estados Unidos, os motéis ou motor hotels começaram a surgir no contexto hoteleiro. Esta potência mun-

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dial via a hotelaria como uma administração regida pela preocupação com os equipamentos, aspectos funcionais dos serviços e pontos específicos. Já a européia, visa à tradição com ênfase nas técnicas de cozinha, serviço e recepção, sempre visando a um melhor atendimento ao hóspede (DIAS, 2002).

4. 1 Os Albergues

Em 1909, em Altena, na Alemanha, surgiu o primeiro Albergue da Juventude - HOSTEL, em um castelo alemão. Seu criador foi o professor Richard Schirmann, que se dedicava a criar programas de convivência com seus alunos, organizando grupos de jovens para realizar pequenas viagens de estudos. Por isso, a filosofia deste meio de hospedagem ficou conhecida como uma forma de interação, de fazer novas amizades. Atualmente o prédio foi restaurado, tornando-se um monumento histórico em funcionamento (www.hihostels.com/openHome 2005).

Desde então, muitos outros foram implantados em diversos países e continentes. Começaram com o nome "hostel" e uma grande cadeia se formou a Hostelling International, com a idéia inicial, vigente até hoje, de que todos os que se afiliarem têm que abrir estabelecimentos hoteleiros seguindo a mesma missão, filosofia e princípios.

No final da década de 20, o movimento atingiu toda a Europa. Muitos albergues foram implantados na Suíça, Polônia, Holanda, Inglaterra, Noruega e França, e mais tarde na Irlanda, Bélgica e Escócia.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os albergues sofreram um período de estagnação, mas, após o conflito, retomaram seu crescimento expandindo para todos os países. Foram implantados nos Estados Unidos em 1934, e no Canadá em 1938. Na América do Sul, seus primeiros...

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