A Agroindústria no Sistema do Ecoturismo Rural

AutorLuís Augusto Lara
Páginas275-283

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Turismo - considerações

O fenômeno turístico, em sua versão mais moderna, surgiu na metade do século XIX, quando Thomas Cook organizou uma viagem em 1841, levando um grupo de pessoas para um evento. Esse acontecimento marcou, praticamente, o início do turismo moderno, altamente consumidor de recursos naturais e o surgimento de grupos organizados com fins lucrativos.

O turismo é um fenômeno social complexo, porém desenvolveu-se com as "características de uma atividade econômica altamente degradante, em decorrência do acréscimo propiciado pela Revolução Industrial, na Inglaterra do século XVIII" (DIAS, 2003).

Essa revolução introduziu na sociedade moderna um modelo de crescimento cujo objetivo era a geração de renda, por meio da expropriação e exploração dos recursos naturais.

Esse modelo predominante, que submeteu à sua racionalidade o conjunto de atividades que sustenta, foi o mesmo adotado pelo turismo como um de seus segmentos econômicos. Pires (2002) corrobora esse fato quando, ao realizar uma retrospectiva da atividade, identifica que, em especial, temos como ponto de referência as décadas de 1950 e 1960, que representaram um período de grande expansão desenvolvimentista e de enorme incremento mundial nas viagens, com o consequente crescimento exponencial do turismo.

No entanto, o estágio mais agudo desse processo deu-se a partir do início dos anos 1970, na plenitude do turismo de massas. Também é nessa época que começam a ser evidenciados os problemas desencadeados pela atividade, com suas consequências mais negativas e danosas, recaindo sobre a estrutura social e econômica das populações anfi-

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triãs, bem como sobre a qualidade ambiental dos destinos consagrados por esse modelo de turismo.

A percepção desse quadro atinge, primeiramente, alguns setores conscientes de instituições e organismos ligados ao turismo, motivando-os a empreender as primeiras críticas contrárias ao desenvolvimento desordenado do turismo. Com essa atitude, em plena fase de ascensão e consagração do turismo de massas, tomou-se consciência dos primeiros indícios de seu desvirtuamento (RUSCMANN, 1997).

Surgem, mediante este contexto, novas formas de turismo que advogam com um enfoque oposto ao turismo convencional de massa (FENNEL, 2002), em que a principal preocupação era garantir que as políticas de turismo não se concentrassem apenas nas necessidades econômicas e técnicas, mas enfatizassem a demanda por um ambiente não degradado e levassem em consideração as necessidades da população local (KRIPPENNDORF, 1982 apud FENNEL, 2002).

Desenvolvimento sustentável e turismo

Inicia-se o debate teórico e político sobre a questão ambiental e o desenvolvimento. Desse processo crítico, surgem ideias sobre ecodesenvolvimento. Coube a Maurice Strong cunhar esse termo, em 1973. Num segundo momento, porém, o ecodesenvolvimento designa também um enfoque de planejamento de estratégias plurais de inter-venção, pois o planejamento do desenvolvimento envolve a preparação de políticas no intuito de adaptar ou, pelo menos, influenciar a ação do homem em relação à natureza e a si mesmo, no processo de utilização do meio natural (SACHS, 1986).

Esse novo tipo de planejamento torna-se uma tentativa de promover diferentes modalidades de desenvolvimento, fundadas nas condições e potencialidades dos ecossistemas e no manejo prudente dos recursos. Esse conceito de ecodesenvolvimento foi, mais tarde, rebatizado pelos pesquisadores anglo-saxões como desenvolvimento sustentável (KITAMURA, 1994).

O princípio de sustentabilidade surge, então, no contexto da globalização como marca de um limite e sinal que reorienta o processo civilizatório da humanidade, conduzindo a busca de uma ética global sustentável (ERIKSSON, 2002). A crise ambiental vem questionar a racionalidade e os paradigmas teóricos que impulsionaram e legitimaram o crescimento econômico, negando a natureza.

Compreendendo-se que o desenvolvimento sustentável é um processo de transformação onde a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro (CMMAD, 1991).

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A conferência da Organização Mundial do Turismo (OMT) de 1980, em Manilla, refletiu para o turismo esse momento de transformação de mentalidade em relação à sociedade e ao modelo de desenvolvimento. Esses e outros acontecimentos subsequentes, ao longo das décadas de 1980 e 1990, foram delineando e amadurecendo conceitos por um turismo que soubesse equilibrar os múltiplos fatores que o constituíam.

É introduzido, então, no turismo, o conceito de sustentabilidade da CMMAD "de modo a permitir que sejam atendidas eqüitativamente as necessidades ambientais e de desenvolvimento de gerações futuras e presentes" (CMMAD, 1991), no sentido de assegurar sua permanência em longo prazo, integrando as comunidades locais e buscando a rentabilidade por meio da gestão e otimização dos recursos, em contraposição ao turismo convencional, cujas premissas de funcionamento são as de maximização da lucratividade num curto espaço de tempo.

Esse conceito fez com que a OMT entendesse que as diretrizes para o desenvolvimento e as práticas de gestão sustentável são aplicáveis em todas as formas de turismo, em todos os...

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