Contra zoológicos

AutorDale Jamieson
CargoProfessor of Environmental Studies and philosophy at New York University
Páginas51-62

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1. Zoológicos e sua historia

Podemos começar com uma simples definição de zoológicos: eles são parques públicos onde são mostrados animais para o propósito de recreação e educação. Contudo antigamente eram mantidas grandes coleções de animais, não eram zoológicos neste sentido. Tipicamente estas antigas coleções não eram exibidas em parques públicos, ou mantidas para outros propósitos diferentes de recreação ou educação.

Os Romanos, por exemplo, mantinham animais como isca viva para os jogos. Seu entusiasmo para os jogos era tanto que até os primeiros tigres levados a Roma, presente para Augustos César de um governante indiano, iriam para arena. O imperador Trajan durou 123 dias consecutivos de jogos para celebrar a conquista de Dácia. Durante os jogos, onze mil animais foram sacrificados, incluindo, leões, tigres, elefantes, rinocerontes, hipopótamos, girafas, búfalos, renas, crocodilos e serpentes. Os jogos eram populares em todas as partes do Império.

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Quase todas as cidades tinham uma arena e coleções de animais para colocar nela. Na França do século V, havia vinte e seis arenas que continuaram a triunfar até o final do século VIII.

Na antiguidade, os governantes mantinham grandes coleções de animais para mostrar seu poder, o qual eles demonstrariam em ocasiões em que destruiriam a coleção inteira. Isso aconteceu até 1719, quando Elector Augustos II de Desdren abateu pessoalmente toda sua coleção de animais selvagens, que incluía tigres, leões, búfalos e ursos.

Os primeiros zoológicos modernos foram fundados em Viena, Madri e Paris no século XVIII e em Londres e Berlim no século XIX. O primeiro zoológico americano foi aberto na Filadélfia e Cincinati nos anos de 1870. Hoje somente nos Estados Unidos há centenas de zoológicos, e eles são visitados por milhões de pessoas todos os anos.

Os jogos romanos não existem mais, porém touradas e rodeios seguem a tradição. Nos dias de hoje, o poder de nossos líderes é amplamente demonstrado pelo seu comando em armas nucleares. Mesmo assim ainda temos zoológicos. Por quê?

2. Animais e liberdade

Antes de considerarmos as razões pela sobrevivência dos zoológicos, deveríamos ver que há pressuposições morais contra manter animais selvagens em cativeiro. O que isto envolve, afinal, é retirar animais de seu habitat natural, transportá-los por grandes distâncias e mantê-los em ambientes estranhos nos quais sua liberdade é severamente restrita. É verdade que sendo retirados da selva e confinados em zoológicos, os animais são privados de muitos bens. Na maior parte, eles são privados de conseguir sua própria comida, desenvolver sua própria ordem social e geralmente se comportar de maneira que são naturais a eles. Essas atividades requerem significativamente mais liberdade do que muitos animais têm em um zoológico. Se tivermos justificativa em manter animais em zoológicos, deve ser por algum benefício importante só pode ser obtido desta maneira.

Essa conclusão não é propriamente de alguma teoria moral particular, ela segue de muitas teorias morais razoáveis. Temos deveres

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com os animais ou não. Se tivermos deveres com os animais, certamente isso inclui respeitar aqueles interesses que são mais importantes para eles, contanto que não confronte com outros deveres mais rigorosos que possamos ter. Desde que um interesse em não ser retirado de seu habitat natural e ser mantido é muito importante para a maioria dos animais, deveríamos respeitar este interesse.

Supondo, por outro lado, que tivéssemos deveres com os animais. Há duas possibilidades: tanto temos deveres com pessoas que, às vezes, se importam com animais, ou que fazemos com os animais, o fazemos sem nenhuma importância. A última visão é um tanto falsa, e eu posso não considerar mais adiante. Pessoas, que têm tido a antiga visão, que temos deveres com as pessoas que se importam com animais, têm às vezes que tais deveres emergem porque podemos "julgue um homem pelo seu trato com os animais", com Kant cita em "Deveres com Animais". É por esta razão que ele condena o homem que atira em cão fiel que se tornou muito velho para servir. Se aceitarmos a premissa de Kant, é certo dizer que alguém que, sem uma boa razão, remove um animal selvagem de seu habitat natural e nega a ele liberdade, pode ser julgado alguém em que não se pode acreditar. Se assim, ainda não acreditarmos ter deveres com os animais, mas somente deveres que se importam com eles, podemos ainda assegurar que há uma presunção contra manter animais no cativeiro. Se esta presunção for superada, deve mostrar que há benefícios importantes que podem ser obtidos somente mantendo animais em zoológicos.

3. Argumentos para zoológicos

Quais podem ser alguns destes benefícios importantes? Quatro são comumente citados: diversão, educação, oportunidade para pesquisa cientifica e ajuda em preservar espécies.

Diversão foi certamente uma razão importante para o aparecimento dos primeiros zoológicos e lembra uma importante função dos zoológicos contemporâneos. Muitas pessoas visitam zoológicos para se entreter e qualquer zoológico que quiser manter-se financeiramente, deve se apropriar a este desejo. Até os zoológicos mais visados, como o de San

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Diego, tem seus ursos dançarinos e pássaros treinados. Mas mesmo garantindo divertimento para as pessoas, que é visto pelo publico geral, como uma função muito importante no zoológico, ainda assim é difícil de ver uma justificativa em manter animais selvagens em cativeiro.

Muitos curadores e administradores rejeitam a idéia de que o propósito primeiro de um zoológico é divertir. De fato, muitos concordem que o prazer que...

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