Vivências de mulheres brasileiras nos serviços de saúde materna

AutorJoana Bessa Topa - Conceição Nogueira - Sofia Neves
CargoDoutorada em Psicologia Social, Assistente Convidada no Instituto Universitário da Maia - Doutorada em Psicologia Social, Professora Associada com Agregação na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação - Doutorada em Psicologia Social, Professora Auxiliar no Instituto Universitário da Maia
Páginas25-51
Periódico do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero e Direito
Centro de Ciências Jurídicas - Universidade Federal da Paraíba
V. 5 - Nº 02 - Ano 2016 Migração, Mobilidade & Direitos Humanos
ISSN | 2179-7137 | http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ged/index
25
DOI: 10.18351/2179-7137/ged.v5n2p25-51
VIVÊNCIAS DE MULHERES BRASILEIRAS NOS SERVIÇOS DE
SAÚDE MATERNA
Joana Bessa Topa1
Conceição Nogueira2
Sofia Neves3
Resumo: O número de mulheres a viver a
maternidade em contexto multicultural e
migratório é, atualmente, uma realidade
com uma expressão reconhecida. Todavia,
o conhecimento em torno da qualidade e da
eficácia do acesso das imigrantes aos
cuidados de saúde, é ainda diminuto em
Portugal (Fonseca et al., 2007). Situado em
pressupostos teóricos e epistemológicos
críticos oferecidos pelo construcionismo
social, o presente estudo, de natureza
qualitativa, pretendeu analisar e
caracterizar, através de entrevistas
semiestruturadas, os discursos, perceções e
vivências de dez mulheres brasileiras que
estavam grávidas e/ou foram mães em
Portugal acerca dos cuidados de saúde
materno-infantis recebidos no país. Como
método de análise recorremos à análise
temática (Braun e Clarke, 2006) sendo esta
complexificada com uma análise em
1 Doutorada em Psicologia Social, Assistente Convidada no Instituto Universitário da Maia e investigadora no
CIEG-ISCSP/UL. Endereço: Av. Carlos Oliveira Campos - Castelo da Maia -4475-690 Avioso S. Pedro, Portugal.
E-mail: jtopa@ismai.pt.
2 Doutorada e m Psico logia Social, Professora Associada com Agregação na Faculdade de Psicologia e Ciências
da Educação (FPCEUP). Endereço: Rua Alfredo Allen- 4200-135 Porto, Portugal. E-mail: cnogueira@fpce.up.pt.
3 Doutorada em Psicologia Social, Professora Auxiliar no Instituto Universitário da Maia e investigadora no CIEG-
ISCSP/UL. Endereço: Av. Carlos Oliveira Campos - Castelo da Maia, 4475-690 Avioso S. Pedro, Portugal. E-
mail: asneves@docentes.ismai.pt.
profundidade auxiliada pela análise crítica
do discurso (Willig, 2003, 2008). Os
resultados mostram que, apesar de
gratuitos, o acesso aos serviços de saúde
para vigilância de gravidez são tardios. Para
isso contribuem as experiências vivenciadas
nos diversos contextos sociais (e.g.,
discriminação) bem como os múltiplos e
diferenciados obstáculos que encontram
(e.g., económicos, burocráticas) quando
acedem ou tentam aceder aos serviços.
Embora a maioria faça uma apreciação
positiva dos cuidados recebidos, algumas
queixam-se da interpretabilidade da lei e
sua usurpação por parte de quem as recebe
nos serviços, bem como alertam para a
insensibilidade demonstrada pelas/os
profissionais face à diversidade cultural e a
constante discriminação preconizada. Face
às dificuldades que encontram, estas
mulheres vão alimentando uma noção de si
Periódico do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero e Direito
Centro de Ciências Jurídicas - Universidade Federal da Paraíba
V. 5 - Nº 02 - Ano 2016 Migração, Mobilidade & Direitos Humanos
ISSN | 2179-7137 | http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ged/index
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DOI: 10.18351/2179-7137/ged.v5n2p25-51
como pessoas com menos direitos, o que as
leva conformarem-se com as práticas
ocidentais de cuidado e a silenciar-se face
às práticas discriminatórias a que são
sujeitas. As estratégias individuais
utilizadas parecem não constituir qualquer
tipo de ameaça ao grupo hegemónico,
contribuindo para a manutenção do status
quo e da desigualdade (Topa et al., 2013).
Palavras-chave: Imigrantes Brasileiras.
Serviços de Saúde Materno-Infantis.
Vivências. Direitos
Abstract: The number of women living
motherhood in a multicultural and
migratory context is, today, a reality with a
recognized expression. However,
knowledge about the quality and
effectiveness of the access of immigrants to
health care is still scarce in Portugal
(Fonseca et al., 2007). Located in critical
theoretical and epistemological
assumptions offered by social
constructionism, the present study, of
qualitative nature, intended to analyze and
characterize, through semi-structured
interviews, speeches, perceptions and
experiences of ten Brazilian women who
were pregnant and / or were mothers in
Portugal about the maternal health care
received in the country. To analyze the data
we used thematic analysis (Braun e Clarke,
2006) and discourse critical analyses
(Willig, 2003; 2008). The results show that,
although free,
the acess to maternal and child health
services is made very late. To this
contribute the experiences of these women
in different social contexts (e.g.,
discriminatory experiences) as well as
multiple and different obstacles that they
face (e.g., economic, bureaucratic) when
they access or attempt to access the health
services. Most of them have a positive
assessment of the care received, but some
complain about the interpretability of the
law and its usurpation, the insensitivity
shown by health professionals and the
constant discrimination made by them.
Given the difficulties experienced these
women feed a sense of themselves as people
with fewer rights, which leads them to
comply with western practices of care and
to silence themselves when they face
discriminatory practices. This study shows
that the individual strategies used by
Brazilian women do not constitute any
threat to the hegemonic group, contributing
to the maintenance of the status quo and
inequality (Topa et al., 2013).
Key-words: Brazilian Immigrants.
Maternal and Child Health Services.
Experiences. Rights

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