Violência, crime e os estudos sobre o banditismo na história

AutorRodrigo Leonardo de Sousa Oliveira
CargoProfessor de História do CEFET-MG, Campus Belo Horizonte
Páginas97-131
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P A N Ó P T I C A
Panóptica, Vitória, vol. 9 (n. 27), 2014
ISSN 1980-775
VIOLÊNCIA, CRIME E OS ESTUDOS SOBRE O
BANDITISMO NA HISTÓRIA
Rodrigo Leonardo de Sousa Oliveira
Professor de História do CEFET-MG, Campus Belo Horizonte.
Doutor em História pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Resumo: Este trabalho tem como objetivo discorrer sobre os conceitos de
violência na História e apresentar ao leitor uma breve discussão bibliográfica
sobre a questão do bandoleirismo no mundo ocidental. Partindo do estudo da
obra Bandidos, de Eric Hobsbawm, buscamos apresentar os conceitos ali
empregados e estabelecer alguns parâmetros com as teorias revisionistas,
principalmente dos estudos dos autores Anton Blok, Richard Slatta, Gilbert
Joseph e Paul Saint Cassia e outros autores brasileiros e latino-americanos
que se dedicaram ao assunto.
Palavras-Chave: Banditismo; Violência Coletiva; História da Justiça.
Os conceitos de violência e a criminalidade na História
Assunto recorrente nas ciências humanas e sociais aplicadas, os estudos
sobre a violência coletiva vem ganhando destaque em diversas instituições
acadêmicas brasileiras. Em uma sociedade em que a violência faz parte da
cotidianidade do cidadão, o assunto acaba despertando o interesse de diversos
estudiosos carentes de novos objetos e novas ideias que venham colaborar
com os estudos dos fenômenos criminais. A recorrência a esse tipo de
pesquisa, em muitos casos, tem o objetivo de colaborar para o controle da
violência em uma sociedade ainda carente de projetos sociais e políticas
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educacionais que contribuam para uma melhor qualidade de vida da
população.
A investigação sobre o fenômeno da violência coletiva, especialmente sobre
o bandoleirismo, levou-nos a uma busca incessante sobre obras, artigos
científicos e grupos de pesquisa que tenham como objeto de pesquisa a
violência. Foi dessa forma que tivemos acesso a uma vastidão de trabalhos
sobre o tema, oriundo das ciências humanas, sociais e das ciências políticas.
Procuramos sistematizar nossa coleta de dados privilegiando os estudos que
procuraram descortinar o conceito de violência e, fundamentalmente, obras que
se detiveram sobre as ações de bandoleiros e facinorosos no mundo ocidental.
Buscaremos apresentar sucintamente os conceitos de violência para que
possamos adentrar nas análises historiográficas sobre o bandoleirismo.
Pensamos que esse tipo de análise é fundamental para a nossa pesquisa,
afinal não como dissertar sobre qualquer forma de criminalidade sem, ao
menos, descortinar brevemente o conceito e os tipos de violência na História.
Um dos principais referenciais teóricos para o estudo da violência, como
ação coletiva, é o autor Charles Tilly. Em sua visão, a violência é uma
característica própria da vida social, podendo ser percebido quando
determinados grupos agem para defender e/ou estender os seus interesses
estritamente particulares. Dessa forma, muitos casos de violência coletiva
foram motivados por causas antifiscais, como nos prova os inúmeros motins e
rebeliões que ocorreram no mundo ocidental no período do Antigo Regime.
Dessa forma, esse conceito não pode ser explicado por ações estritamente
irracionais dos povos. Antes, é uma forma de ação coletiva levada a cabo por
aqueles que não detêm o monopólio da força, mas que buscam se inserir no
meio político em que vivem e lutam coletivamente para adquirirem
determinados direitos na sociedade na qual estão inseridos.
1
1TILLY, Charles. Coerção, Capital e Estados europeus. São Paulo: EDUSP, 1996. Ver também
TILLY, Charles. The politics of collective violence. Cambridge: Cambridge University Press,
2003.
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Em Violência, Desvio e Exclusão na Sociedade Micaelense Oitocentista,
Susana Serpa Silva teceu um breve, porém sistematizado, estudo sobre o
conceito de violência aplicado à História. Em geral, o discurso sobre essa
temática seguiu três direções principais, a saber: a análise da violência
quotidiana nos moldes da Antropologia Social; o estudo da violência como
criminalidade e como repressão, que entronca com a nova história da justiça e
do direito e, por fim, a abordagem da violência coletiva, de onde decorre uma
nova dimensão atribuída à história dos conflitos, das revoltas e das
revoluções.
2
Assunto de grande interesse na atualidade, os estudos sobre a violência
vieram à tona fundamentalmente no século XIX, influenciado pelos avanços da
criminologia, das correntes positivistas, antropológicas ou higienistas. Aos
poucos, o que era objeto de investigação dos cientistas sociais passou a ser de
interesse do meio acadêmico historiográfico, fazendo parte dos domínios da
história social. Dessa forma, estudar a violência passou a significar estudar o
passado coletivo por meio dos seus agentes e a forma como a população
esteve interligada aos mecanismos de investigação da cultura política, seja na
compreensão das formas de revoltas e conflitos ou inserção da camada mais
desfavorecida aos mecanismos políticos de uma determinada ação, seja na
constituição de redes de poder ou na forma como esses sujeitos buscavam
tecer a sua história diante de mecanismos de repressão autoritários ou
violentos. Portanto, uma busca por um novo objeto que discorresse não apenas
sobre histórias biográficas ou narrativas de grandes feitos, e sim algo que
viesse a descortinar de vez a verdadeira natureza da cultura política e das
sociabilidades de uma determinada região, em diferentes espaços e períodos.
Etimologicamente, a palavra violência vem do latim “vis” (força, potência ou
vigor). Ou seja, o emprego da força nas relações sociais, ir às “vias de fato”.
Em Dufrenne, a violência é caracterizada como a forma forte da força, algo que
é exercido de forma direta ou indireta pelos seus atores sociais, numa escala
2SILVA, Susana Paula Franco Serpa. Violência, Desvio e Exclusão na Sociedade Micaelense
Oitocentista. Lisboa: Centro de História e Além-Mar (CHAM), 2012, p. 27.

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