Valoriza??o dos produtos de origem e do patrim?nio dos territ?rios rurais no sul do Brasil: Contribui??o para o desenvolvimento territorial sustent?vel

AutorClaire Cerdan
CargoPesquisadora do Centre de Coop?ration Internationale pour la Recherche Agronomique dans le D?veloppement- CIRAD- D?partement TERA
Páginas277-300
Dossiê
Valorizaçâo dos produtos de origem
e do patrimônio dos territórios
rurais no sul do Brasil:
Contribuição para o desenvolvimento
territorial sustentável
Claire Cerdan*
Resumo
Este artigo analisa como os agentes rurais, nos estados de Santa Catarina
e Rio Grande do Sul, no Brasil, elaboraram e implementam dispositivos
de valorização das especificidades locais. Neste contexto, a consideração
da diversidade biológica e cultural numa perspectiva de desenvolvimento
sustentável impõe-se, mesmo que de maneira indireta. O artigo fundamen-
ta-se no estudo de duas experiências de promoção através da origem: a
carne bovina produzida nos campos nativos do Pampa gaúcho brasileiro
(protegida por uma Indicação Geográfica (IG) desde 2006) e o vinho Goethe
elaborado na região de Urussanga (pedido de IG em curso). Estes casos
inserem-se, no nível brasileiro, nos atuais debates sobre as IG, a proteção
do patrimônio nacional e do desenvolvimento rural sustentável.
Palavras-chave: Indicação geográfica, valorização da origem, diversidade
cultural, biodiversidade, desenvolvimento rural sustentável.
1. Introdução
No momento em que o Brasil confirma sua posição de gigante
agrícola em nível mundial, as desigualdades aprofundam-se en-
tre as suas regiões. As diferenças mostram-se, principalmente, entre
os centros de produção situados em regiões agrícolas históricas e
as frentes pioneiras nas regiões Centro-Oeste e pré-Amazônica, e
entre o forte setor voltado para a exportação (produção de massa)
e as agriculturas familiares.
* Pesquisadora do Ce ntre de Coopération Internationale pour l a Recherche
Agronomique dans le Développement- CIRAD- Département TERA, TA 6015,
34390, Montpellier, França. E-mail : claire.cerdan@cirad.fr
278 p. 277 – 299
Nº 14 – abril de 2009
O futuro e a sustentabilidade de territórios rurais marginaliza-
dos estão sendo fortemente questionados em diferentes situações:
pública, acadêmica ou mesmo pela sociedade civil. No Brasil, esse
tema não é novo, sendo objeto de inúmeras reflexões e trabalhos
visando à construção de políticas públicas de desenvolvimento rural
e de apoio aos agricultores familiares (BONNAL & MALUF, 2007).
Estas últimas inserem-se no debate político global em torno da
responsabilidade dos estados e das organizações internacionais na
promoção do desenvolvimento sustentável. Assim, novas funções e
anseios foram formulados pela sociedade civil e agentes públicos,
direcionados ao mundo agrícola, ampliando a reflexão sobre a re-
lação agricultores-territórios-sociedades.
Nessa perspectiva, observa-se uma redefinição e uma legitima-
ção de determinados dispositivos de mercados, como os selos oficiais
de qualidade; as marcas “eco”, ligadas a novos objetivos ambientais
ou de desenvolvimento territorial sustentável; e outras formas de
comercialização voltadas primeiramente à diversificação da oferta e
segmentação dos mercados que se encontram no centro do debate
sobre o desenvolvimento rural. Tais dispositivos são qualificados pelos
agentes públicos ou pela sociedade civil como instrumentos potenciais
ao serviço da promoção da agricultura familiar, da proteção da biodi-
versidade e da sustentabilidade da agricultura e de seus territórios.
Este artigo propõe analisar a contribuição das estratégias de
qualidade ligadas à origem na reflexão sobre o desenvolvimento
territorial sustentável. Mais especificamente, pretende-se analisar
em que medida as indicações geográficas, tais como elas são defini-
das e concebidas no Brasil, permitem uma melhor consideração da
diversidade biológica e cultural, contribuindo para novas estratégias
de desenvolvimento territorial sustentável. Tal proposta é ilustrada
a partir da análise de dois sistemas de produção localizados no Sul
do Brasil: a carne bovina do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional,
no estado do Rio Grande do Sul, e o vinho dos Vales da Uva Goethe
produzido na região de Urussanga, no estado de Santa Catarina.
O período atual é bastante propício, marcado por uma apro-
ximação dos setores de estudo até então relativamente distantes: o
desenvolvimento sustentável e a qualificação dos produtos. Observa-
se, por um lado, que as recentes contribuições para responder aos

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