Como vai acabar o Capitalismo?

AutorVicenzi, Glenda
CargoResena de libro

Como vai acabar o Capitalismo?

STREECK, Wolfgang. How Will Capitalism End?: Essays on a Failing System. London/New York: Verso, 2016, 262p.

Com o advento da crise economica de 2008, observa-se uma serie de movimentacoes no ambito do pensamento social que tem manifestado uma demanda de que a categoria capitalismo recupere centralidade nas analises socio-politicas (1), a qual havia sido perdida com o triunfo do neoliberalismo. O livro "How Will Capitalism End?", do sociologo alemao Wolfgang Streeck representa certamente um dos principais esforcos realizados nesse sentido. Consistindo em um compilado de 11 artigos escritos entre 2011 e 2015, todos eles previamente publicados em veiculos diversos--a maior parte na revista New Left Review--a coletanea gira em torno de uma analise do capitalismo contemporaneo e das implicacoes da crise financeira de 2008 para as ciencias sociais. Uma introducao inedita acompanha os textos, na qual o autor aprofunda, sobretudo, o debate apresentado no capitulo 1, homonimo ao livro, acerca das consequencias da derradeira crise do capitalismo que, apos toda uma trajetoria de crises, estariamos a ponto de vivenciar.

A despeito do foco nos paises da Organizacao para a Cooperacao e Desenvolvimento Economico (OCDE), chamados paises de "capitalismo avancado", o que torna a aplicacao ao contexto periferico um pouco limitada, o livro oferece ao leitor um interessante panorama acerca do desenvolvimento da sociedade capitalista a partir do seculo XX. Nao e tanto a resposta oferecida a pergunta que da titulo ao livro e a seu primeiro capitulo--como vai acabar o capitalismo?--do que o desenho do cenario do capitalismo contemporaneo o que torna propriamente relevante a leitura do livro de Streeck. A apresentacao de uma serie de elementos quantitativos e qualitativos da credibilidade aos rumos tendenciais da sociedade contemporanea a nivel macro apontados pelo autor.

Streeck procura, sobretudo, explicar os significados da desintegracao, a partir da decada de 1970, do arranjo pos-guerra--o periodo chamado de trente glorieuse--que permitiu um periodo de "capitalismo democratico", no qual conviveram estabilidade socio-politica e crescimento economico, e de sua sucessao por uma epoca em que a instabilidade provocada por crises se tornou quase uma constante. Nesse sentido, ele traca os movimentos politicos e economicos que surgiram como reacao a queda das taxas de crescimento economico e que deram inicio a uma "era de crises". Streeck divide o periodo em 4 momentos de crise do capitalismo democratico. O primeiro momento de crise se da no fim dos anos 60, quando havia forte movimento trabalhista organizado, fazendo com que os governos elevassem as taxas de inflacao (2), como meio para, de um lado, manter uma politica de pleno emprego coexistindo com o poder de barganha dos sindicatos por aumento dos salarios e, de outro, acomodar os conflitos entre os anseios inconciliaveis de capitalistas e de trabalhadores diante do crescimento economico em declinio. A longo prazo, contudo, a aceleracao da inflacao nao poderia ser mantida uma vez que produz "distorcoes economicas", como por exemplo, nos precos relativos. Sob pressao para reestabelecer a disciplina monetaria, no inicio da decada de 80 os governos passaram a adotar medidas desinflacionarias que fizeram o desemprego chegar ao nivel do periodo da Grande Depressao, ao mesmo tempo em que as...

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